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Nádia Piazza: “Não confio na Câmara. Temos assistido a práticas incompetentes”

10 set, 2018 - 19:07 • João Carlos Malta

A presidente da Associação de Vítimas dos Incêndios quer uma “purga” no processo de atribuição de verbas para a reconstrução de casas. Diz que a população de Pedrógão Grande sente-se envergonhada.

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O laço de confiança com a autarquia de Pedrógão Grande e com o presidente Valdemar Alves foi quebrado. Essa é a opinião da presidente da Associação de Vítimas dos Incêndios de Pedrógão Grande (AVIPG), Nadia Piazza, depois de serem conhecidos os casos de irregularidades no uso de verbas para a reconstrução das casas destruídas nos incêndios de há um ano.

“Não confio na Câmara Municipal. Temos assistido a práticas incompetentes. Ou não cumpriram a lei ou não sabem gerir a casa”, afirma à Renascença, Nádia Piazza, antes de entrar na Assembleia Municipal, que decorre esta segunda-feira em Pedrógão Grande, onde está prometida a discussão, um a um, dos casos mais polémicos.

A mulher que foi o rosto das vítimas dos fogos de junho de 2017 critica ainda a atitude do autarca local, Valdemar Alves. “Um presidente de Câmara não pode estar sempre a atirar as culpas para os funcionários, e isso é uma prática corrente”, afirma.

Purga e vergonha

Para que episódios como este não possam ocorrer no futuro, Nádia Piazza pede uma “purga no sentido bíblico” em todo este processo, porque as gentes de Pedrógão Grande sentem-se “envergonhadas” com todas as revelações que têm vindo a público.

Nádia Piazza quer que associação que dirige tenha acesso aos nomes e quantias dos destinatários das verbas para a reconstrução de casas de primeira habitação.

A presidente da AVIPG não entende porque é que o processo não pode ser transparente. “Porque é que não está publicitado? Se houvesse transparência, não estávamos neste momento a viver estado de inquisição e num ambiente de vizinhos contra vizinhos”, afirma.

A mesma responsável diz que, se houver algum problema com a publicitação de dados, o mesmo deve ser resolvida com a Comissão de Proteção de Dados. E pede ainda o regresso do Instituto de Habitação e Reabilitação Urbana para liderar o processo de reconstrução.

Nádia Piazza diz que teve conversas com o primeiro-ministro, António Costa, e com o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, há alguns meses, e que nesses encontros mostrou preocupação sobre como os fundos iam afluindo ao território e de como iam sendo geridos.

“Foi num momento ainda muito precoce, não se falava em casas, em nada, mas a quem estava no terreno parecia que a coisa não ia correr bem”, lembra.

A responsável diz que foi necessário “levantarem-se casas”, e criar-se uma tal ordem de revolta “para que isso viesse a lume e para que as pessoas falassem”.

Nádia Piazza recorda ainda de uma reunião com presidente do Fundo Revita, em que lhe foi garantido que todo o processo de aplicação de verbas estava a ser auditado, a título gratuito, pela consultora PWC.

Tudo por escrito, tim-ti, por tim-tim

A falta de confiança com a autarquia local atingiu tal ponto de degradação que Nádia diz que vai pedir informação sobre todos os critérios e o “modus operandi” aos decisores da conta solidária que o município de Pedrógão mantém e que gere 350 mil euros.

“Já foi publicitado que iam ser distribuídos equitativamente para barracões ardidos, mas já não podemos confiar”, salienta.

Numa carta enviada à Câmara de Pedrógão, a que a Renascença teve acesso, a AVIPG faz alguns destes pedidos e reitera a necessidade de publicitação de todos os atos administrativos. E ainda exige que as casas reconstruídas não possam ser vendidas num período de dez anos.

E escreve a proposta que faz serve para “mitigar as dúvidas que surjam na sociedade em geral sobre as fontes de financiamento das obras e os seus reais beneficiários”.

Esta segunda-feira, o presidente da Câmara de Pedrógão, Valdemar Alves, antes de entrar na Assembleia Municipal, afirmou aos jornalistas que nenhuma das 21 casas sobre suspeita é de “segunda habitação”.

“São todas casas de primeira habitação”, garantiu.

“Cada um entregou os seus documentos, e fizeram uma declaração garantindo que a casa era de primeira habitação e permanente. A partir dai as casas que estão a ser reconstruídas para mim são de primeira habitação”, relata Valdemar Alves.

“Houve confirmação?”, perguntaram os jornalistas. “Está tudo confirmado”, disse Valdemar Alves.

Entretanto, o autarca já revelou que vai assinar uma petição contra alegadas fraudes com ajudas à reconstrução de casas.

"Sendo desejo público e manifesto da presidência da Câmara de Pedrógão Grande o apuramento cabal das suspeições levantadas por certos setores na atribuição daqueles apoios", Valdemar Alves "quer publicamente declarar" a sua adesão à iniciativa.

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  • Filipe
    10 set, 2018 évora 22:50
    Eu já cá ando faz algum tempo e todos os anos existem incêndios na floresta , não percebo porque o Estado armou-se em companhia de seguros com franquia 0% a partir de 2017 e os outros anos passados ? Contudo , é uma aberração obrigarem a quem tem apartamento a ter seguro de incêndio vulgo Multi Riscos , e no campo onde estão rodeados de gasolina verde não os terem como obrigatórios . Outra vergonha é saber se quem tem agora casa nova e afins , recebeu só uma verba ou recebeu a duplicar ... triplicar ... etc. Deviam ser proibidos de venderem as casas nos próximos 20 anos e de irem para lá viver como 1ª habitação , sob pena de terem de devolver todas as quantias gastas e se não o tiverem , casa penhorada pelo Estado .

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