07 set, 2018 - 10:43
Os moradores de Lisboa queixam-se do aumento de lixo na cidade, que atribuem ao crescimento do turismo, à falta de meios das autarquias e à falta de civismo, e pedem que sejam aplicadas coimas aos infratores.
A freguesia da Misericórdia, que integra a Baixa lisboeta, é uma das que mais sofre com o problema, não fossem o Bairro Alto e o Cais do Sodré, pontos de diversão noturna, parte do seu território.
Um passeio matinal pelas ruas do Bairro Alto é suficiente para sentir mau cheiro, ver copos nos rodapés das portas, caixas de pizza e outros objetos no meio do chão, assim como uma calçada portuguesa pintada de negro que é lavada somente com água.
Em declarações à agência Lusa, o presidente da Associação de Moradores da Misericórdia afirmou que o rápido crescimento do turismo e da diversão noturna não tem permitido “aos serviços de limpeza encararem esta realidade de 32 toneladas [de lixo] por dia de uma forma eficaz”. O lixo no chão, sublinhou, “atrai ratos, baratas e pombos”, que são “uma fonte de problemas para a saúde pública”.
“Apesar dos esforços da Câmara e da Junta, a quantidade é tão grande e os hábitos de comerciantes e alojamentos locais são de tal maneira irracionais que é muito difícil manter esta zona limpa”, referiu Luís Paisana.
O morador defendeu ainda que deveria haver mais sensibilização, mas também responsabilização, através de “coimas fortes para as pessoas entenderem de forma clara que há regras”.
Um pouco mais abaixo, no Cais do Sodré, o cenário repete-se. A presidente da associação Aqui Mora Gente, Isabel Sá Bandeira, contou que a situação é “caótica”, com pragas de ratos e baratas, acusando também os alojamentos locais e o comércio de não cumprirem regras.
Os problemas não estão circunscritos ao centro de Lisboa - a cerca de 10 quilómetros, na freguesia de Benfica, encontram-se com frequência sacos do lixo espalhados pelo chão em redor dos ecopontos, bem como jardins e ruas a requererem trato.
“Um ecoponto é uma zona de lixo”, disse à Lusa a presidente da Associação de Moradores do Bairro de Santa Cruz de Benfica e Zonas Contíguas, Maria Gertrudes, acrescentando que por vezes é difícil chegar até ao vidrão.
Faltam meios para a limpeza urbana
Alguns presidentes de junta admitem que faltam meios para dar resposta às questões de higiene urbana, mas as freguesias atribuem também o problema ao turismo e à falta de civismo da população.
Em declarações à agência Lusa, a presidente da Junta de Freguesia da Misericórdia, afirmou que a acumulação de lixo se intensificou no mês de agosto, devido ao turismo. Além disso, tem notado a diminuição do número de recolhas (uma responsabilidade do município) em algumas zonas da freguesia.
Relativamente à limpeza urbana (varredura e lavagem das ruas), competência da Junta de Freguesia, Carla Madeira (PS) declarou que a varredura e a lavagem das ruas têm sido insuficientes devido à falta de recursos humanos.
“Eu sinto que nós para termos uma freguesia limpa e 100% apresentável a quem cá reside e a quem a visita precisávamos de ter o dobro da capacidade de varredura, lavagem e despejo de papeleiras”, salientou.
Na freguesia de Santa Maria Maior, que engloba os bairros de Alfama, Baixa, Castelo, Chiado e Mouraria, os problemas são semelhantes. “Nós temos uma carga diária de visitantes estimada em mais de 250 mil pessoas […] e, portanto, nós fomos dimensionados, temos um orçamento e temos meios para servir uma carga de população muito inferior do que aquela que está agora no terreno”, explicou Miguel Coelho (PS).
“Basta haver aqui três grandes eventos, mais os barcos dos cruzeiros atracados, mais o turismo normal tradicional para nós entrarmos em rutura ou entrarmos em situação de grande dificuldade na resposta”, acrescentou o presidente da Junta de Freguesia.
A Câmara de Lisboa não deu qualquer esclarecimento sobre a problemática à agência Lusa.