23 ago, 2018 - 16:51
“Su su”. É tailandês e quer dizer “continua a lutar”. Era este o mote diário do grupo de jovens jogadores de futebol e do seu treinador quando ficaram presos na gruta na Tailândia.
Passaram dois meses desde que o grupo entrou naquela a que chegaram a chamar “a cidade escondida”, para uma aventura que deveria durar apenas uma hora mas que só terminou 17 dias depois.
Numa entrevista exclusiva à ABC News, os rapazes e o treinador descrevem o que viveram e o que fizeram durante os dias em que estiveram presos, sem comida e bebendo apenas a água que corrida nas rochas.
“Ao princípio, era excitante e um bocadinho assustador”, afirma o mais novo do grupo, Chanin "Titan" Viboonrungruang, de 11 anos.
Alguns dos rapazes já ali tinham estado com o treinador – Eakapol "Ek" Jantawong, de 25 anos – e o que descreveram entusiasmou os restantes, que também quiseram ir. E foram. Pelo sim pelo não, Ek decidiu levar uma corda, uma lanterna e algumas pilhas extra. Mas não levaram comida nem mais roupa.
Enquanto lá estavam em baixo, vieram as monções, com as habituais chuvas fortes e inundações. Já não conseguiram voltar para trás. A corda foi usada: Ek quis mergulhar, para saber se seria possível sair. Pediu a alguns rapazes que segurassem numa ponta e combinou que puxaria duas vezes se começasse a ficar sem fôlego.
Foi o que aconteceu. Ek percebeu que seria impossível sair e, depois de se recompor, optou por ter um discurso otimista com os rapazes. O importante era não entrar em pânico.
“Comecei por lhes dizer que teríamos de esperar um bocadinho mais”, conta. Ek esperava que, no dia seguinte, o nível da água tivesse baixado, mas tal não aconteceu. Durante aqueles 17 dias, a meditação e a oração foram a grande ajuda.
“Eu já tinha o hábito de rezar e, quando os rapazes ficavam em minha casa, eu convidava-os a rezar antes de se irem deitar. Dá-nos um bom sono e impede-nos de pensar noutras coisas”, defende.
Phonchai "Tee" Khamluang, de 16 anos, concorda: “Acredito que meditar e rezar são boas coisas para se fazer”, afirma na entrevista, que será transmitida na íntegra esta quinta-feira à noite.
As horas transformaram-se em dias e os dias em semanas dentro da gruta. E surgiu o mantra: "Su su" – “continua a lutar”.
Gratos ao mundo e olhos no futuro
Os jovens e o treinador tornaram-se estrelas e ainda se estão a habituar a serem parados na rua para tirar fotos. Duangphet "Dom" Phromthep, com 13 anos, tem uma conta no Instagram com mais de 300 mil seguidores.
Adul Samon, de 14 anos, também é seguido por milhares de pessoas e é, do grupo, o único que fala inglês – foi, por isso, responsável pela tradução dentro da gruta, quando chegaram os mergulhadores britânicos, e um dos mais faladores durante a entrevista, sobretudo em momentos mais descontraídos da entrevista à ABC.
“Aprendemos o que é receber amor de toda a gente”, afirmou. “Quero agradecer a toda a gente. Todos gostam de mim e eu gosto de todos. Sinto todas as pessoas no mundo como meus pais”, acrescentou.
Adul é hoje, tal como 10 dos seus companheiros de aventura, um noviço budista. O treinador Ek tornou-se monge budista a “full time”.
Toda a experiência e a permanência no tempo budista ensinou-lhes a “ser pacientes” (segundo um dos rapazes) e a “ter uma mente apaziguada” (de acordo com outro jovem).
Agora, têm os olhos postos no futuro. “Quero jogar futebol. Quero ser como Ronaldo e Messi”, afirma Adul.
“Eu quero ser mecânico, arranjar carros”, disse Mongkhon "Mark" Boonpiam (13 anos). E “eu quero ser marinheiro”, afirmou Ekkarat "Biw" Wongsukchan (de 14). Natthawut "Tle" Thakhamsong (14) quer ser aquiteto. E a grande maioria quer também representar o país na seleção nacional de futebol.
A gratidão é sentida por todos e foi resumida pelo treinador: “Quero expressar a minha gratidão a todas as pessoas no mundo, às autoridades e aos voluntários que nos ajudaram. Prometemos que seremos bons para a sociedade. Vamos estudar e amaremos as pessoas de todo o mundo tal como o mundo inteiro nos amou. Muito obrigado!”