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Migrantes. D. António Marto ao lado do “exército de pobres"

12 ago, 2018 - 21:51 • Teresa Paula Costa

No lançamento da peregrinação de agosto a Fátima, o cardeal português disse que, ao longo dos anos, a África foi "explorada" e "roubada" pelo Ocidente.

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A peregrinação internacional aniversária de 12 e 13 de agosto vai ser presidida pelo cardeal D. Arlindo Gomes Furtado, bispo de Santiago, de Cabo Verde, e baseia-se na quarta aparição de Nossa Senhora aos pastorinhos. A peregrinação pretende chamar à atenção para o drama humanitário dos refugiados.

Segundo o cardeal D. António Marto, trata-se de um verdadeiro “exército de pobres, aqueles que vêm sobretudo do Norte de África”.

Na conferência de imprensa que antecedeu a abertura da peregrinação, o bispo da diocese de Leiria-Fátima lembrou que, “ao longo de dezenas de anos, a África foi explorada pelo Ocidente, roubada nas suas matérias-primas, e além disso, as potências ocidentais mantém África em condição de guerra permanente, o que torna mais fácil a exploração e que consente o comércio florescente de armas”.

Para além disso, lamentou D. António Marto, “as potências ocidentais apoiaram regimes fantoches que não estiveram em condições de defender os direitos desta gente, e assim se destrói a vida de milhões de pobres, obrigados a partir para não morrerem à fome ou na miséria, ou vítimas da guerra”. Perante tudo isto, salientou o cardeal, “nós não nos podemos calar”.

Outra intenção nesta peregrinação é rezar pela situação de tensão que se vive entre o mundo ocidental, nomeadamente os Estados Unidos e o Irão. Segundo D. António Marto, “a situação tem consequências também ao nível de outros países e pode estar na base daquilo que poderíamos chamar uma guerra comercial e económica”.

“Nós não podemos consentir,” alertou o bispo, “que velhos aliados se transformem em potenciais adversários por causa da personalidade de alguns líderes”.

Nesta conferência de imprensa, D. António Marto congratulou-se ainda com o facto de a Igreja Católica ter, definitivamente, considerado “inadmissível” a pena de morte.

O bispo frisou, no entanto, que “não é uma novidade total do Papa Francisco, embora tenha sido ele a decidir esta modificação, ela está em concordância com os pronunciamentos dos últimos dois Papas”.

D. António Marto disse esperar “que esta cultura do perdão e da reabilitação em que o homem é sempre maior do que o seu erro e do que o seu próprio pecado” leve os países “que ainda conservam a pena de morte (são 56 estados) que ponham termo à pena capital”.

Para o cardeal, “não há razão, hoje, em virtude das novas condições quer da consciência mais viva da dignidade da vida humana quer de uma nova sensibilidade ou compreensão relativamente às sanções penais para reabilitar o réu quer aos novos sistemas de detenção mais eficazes” para perpetuar o uso da pena de morte. Salientando o “aspeto profético” da decisão do Papa, D. António Marto citou do texto do Papa a declaração segundo a qual a Igreja se empenha “com determinação a favor da sua abolição em todo o mundo”.

África precisa de uma solução global

Presente na conferência de imprensa, o bispo da diocese de Santiago, Cabo Verde, que preside às celebrações, disse que “o problema global deve ser resolvido também de uma forma global”.

Segundo o cardeal Arlindo Gomes Furtado, “devemos olhar para aqueles que acolhem, mas também para aqueles que governam e produzem emigrantes forçados”.

Salientando que, ao contrário do mundo ocidental, devido à colonização, “África não teve a oportunidade de ter as suas lutas internas e fazer o percurso de uma integração global para ter uma consciência de comunidade africana como hoje a Europa tem,” o bispo defendeu que “agora não se trata de culpar ninguém, agora os africanos devem ser adultos, devem ser seres pensantes e responsáveis para dizerem: “nós precisamos da vossa ajuda, não para mandar comida ou dinheiro, mas para nos ajudarem a organizar isto e a desenvolver setores, precisamos de profissionais, técnicos, académicos, políticos, sociólogos, psicólogos, pessoas que nos ajudem a conhecermos a nossa realidade e a fazermos a reintegração nacional, regional e continental”.

Para o bispo, esta “é uma colaboração que trará benefícios a todos, porque, se a África estiver bem, isso será bom para a Europa, para a América e para a Ásia”.

Obra Católica de Migrações preocupada com xenofobia

Nesta peregrinação de agosto, insere-se a peregrinação do migrante e do refugiado, promovida pela Obra Católica Portuguesa de Migrações, que marca o arranque da Semana Nacional das Migrações, e que congrega, na Cova da Iria, migrantes de várias partes do mundo.

Presente na conferência de imprensa, a diretora da Obra Católica Portuguesa de Migrações manifestou estar preocupada com o aumento do número de movimentos e partidos xenófobos.

Para Eugénia Quaresma, “a Igreja tem de dar uma resposta, pois temos valores humanistas que nos obrigam a olhar para dentro da pessoa independentemente da cor da pele, embora não seja só uma questão da cor da pele pois, se olharmos para a história, veremos que também os portugueses lá fora sentiam esta hostilidade”.

A nível da Igreja, disse a diretora, “temos de combater por dentro pois o crescimento dos partidos radicais e extremistas parte da eleição dos cidadãos, portanto, há um trabalho a fazer a esse nível e essa é a nossa preocupação, trabalhar o cidadão para que reconheça naquele que tem ao lado uma pessoa com direitos”.

Para Eugénia Quaresma, “há ainda muito por fazer, é necessário reforçar o trabalho em rede, atuar na origem, nos países de trânsito e de destino”.

“É preciso navegar em territórios perigosos, ousar políticas arrojadas e erradicar a guerra, a pobreza, combater a corrupção e a ganância, promover a paz e a justiça para que todos os povos tenham oportunidade de desenvolvimento.”

Imagem peregrina original de Nossa Senhora de Fátima presente na Jornada Mundial da Juventude

Na conferência de imprensa, o reitor do Santuário anunciou que, a pedido do arcebispo do Panamá, onde se realizará a Jornada Mundial da Juventude, “a imagem peregrina original de Nossa Senhora de Fátima, que designamos como imagem nº 1, irá ao Panamá para acompanhar a realização da Jornada”.

“Sendo este um acontecimento eclesial de primeira importância, estando os jovens no centro das preocupações pastorais da Igreja e sendo o tema escolhido pelo Santo Padre para esta Jornada de carácter mariano”, disse o Padre Carlos Cabecinhas, “entendemos ser da maior importância que o Santuário de Fátima marcasse presença de forma significativa, abrindo a exceção de levar esta Imagem” que só muito excecionalmente sai do Santuário.

Outro aspeto que pesou na decisão do Santuário foi o tema escolhido para a Jornada Mundial da Juventude: “Eis a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a Tua palavra,” além do facto do Papa Francisco ter escolhido Maria como tema central da caminhada de preparação para a Jornada.

O reitor justificou a decisão ainda com a “grande devoção dos cristãos do Panamá a Nossa Senhora de Fátima”.

Mais de 3,7 milhões peregrinos em Fátima

Nesta conferência, o padre Carlos Cabecinhas revelou que foram registadas, desde o início do ano e até 31 de julho, 3.741.233 participações nas celebrações do Santuário de Fátima, quer nas celebrações do programa oficial, quer nos programas dos grupos que visitaram o Santuário.

Trata-se de um “número semelhante ao registado em igual período de 2015 (em 2015 também de janeiro a julho tínhamos registado 3.674.648 participantes nas celebrações)”.

Ou seja, “temos um ligeiro aumento” do número de participantes, assim como do número dos grupos estrangeiros organizados, que chegou a 1.484. No total, contando com os grupos portugueses e estrangeiros, inscreveram-se no Santuário de Fátima de janeiro a julho de 2017, 2.510 grupos, com 325.150 peregrinos, enquanto que, em igual período de 2015, fizeram-se anunciar 2.480 grupos, com 336.030 peregrinos.

O que estes dados parciais nos mostram, salientou o padre Carlos Cabecinhas, “é que os anos 2016 e 2017 foram anos excecionais, atípicos, sobretudo em 2017, ano do Centenário das Aparições, os números registados superaram em muito as nossas expetativas mais otimistas”.

Por isso, a comparação não é feita com os números de 2017, dado o seu caráter excecional. Estes dados estatísticos permitem ainda notar, frisou o reitor, que “na última década, entre 2007 e 2017, o Santuário tem estabilizado o número de peregrinos participantes nas diferentes celebrações, cifrando-se essa média nos 5,5 a 6 milhões de peregrinos por ano”.

A terminar, o reitor referiu que, “o Santuário de Lourdes tem uma média de 2,5 a 3 milhões de participantes nas celebrações e o Vaticano tem 4 milhões, se excluirmos os visitantes nos museus ou na própria Basílica.”

Comentários
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  • roca
    13 ago, 2018 lisboa 11:51
    Senao fossem as ditas colonizações ainda viveriam na idade da Pedra.As descolonizações foram decretadas pela ONU entendam-se.
  • Matos
    13 ago, 2018 lisboa 11:42
    A extrema esquerda faria o mesmo discurso.Quao atrasados andam q recorrem há irracionalidade.As descolonizações foram há seculos e ainda não conseguiram autonomizar-se????????????
  • impulso
    13 ago, 2018 lisboa 10:32
    Contra o Ocidente marchar marchar.Este tipo de discurso afasta o cidadão da Igreja e o Ocidente de Africa.Incrédulos !!!!!!!!!!!

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