22 jun, 2018 - 11:00 • Olímpia Mairos
A trovoada, acompanhada de chuva intensa e de granizo, com pedras, em alguns lugares, do tamanho de ovos de codorniz, assolou a cidade de Chaves, provocando “avultados prejuízos”, com incidência na zona agrícola.
Alberto Lopes, 84 anos, andava esta manhã a ver o campo na zona dos Codessais. Triste, visivelmente emocionado, diz que nunca viu coisa assim. “À idade que eu tenho, nunca vi uma trovoada como esta. Levou tudo o que tinha plantado: feijão, cebolas, tomate, batatas, a vinha e as árvores de fruto”, conta à Renascença.
Não muito longe dali, Arlindo Marques, de 82 anos, olha o pomar e manifesta angústia por ter perdido tudo: “Está tudo estrumado no chão, tanto a fruta como as hortaliças”, descreve, acrescentando que “também a vindima já está feita.”
Manuel Adão, 78, está a varrer as folhas e os cachos de junto à casa. Com as lágrimas nos olhos, desabafa: “Anda uma pessoa um ano inteiro, tem tanto trabalhinho para o granizo tudo levar... Não deixou nada, está tudo traçado.”
Ana Maria está ao lado e aponta que o prejuízo maior é no trigo. “Já está malhado. Como vê, os grãos estão todos no chão”, diz, apontando para duas grandes extensões de trigo. “Já não se aproveita nada”, lamenta a agricultora, acrescentando que “a nível de produtos da horta nada ficou para comer”.
Albertina Martins, 66, com os pés protegidos por sacos plásticos e galochas, tenta retirar a água que ainda permanece no pátio, juntamente com as folhas arrancadas das videiras e das árvores de fruto. “Isto foi uma desgraça. Ainda ontem paguei a dois homens para sachar o milho e agora está tudo no chão. O tomate, os melões, os feijões, ficaram traçados. Não sei como vai ser...”
Albertina cultiva para vender no mercado, mas, depois da trovoada, ficou sem nada. Com a voz embargada, deixa um apelo: “Se alguém puder olhar para isto e dar uma ajuda, agradeço de coração, porque é disto que eu vivo e fiquei sem nada.”
Autarquia atenta e preocupada
O presidente da Câmara de Chaves, Nuno Vaz, diz que os prejuízos são elevados, mas estão ainda a ser contabilizados. A autarquia está “neste momento, a avaliar, a fazer um relatório que permita conhecer melhor a extensão dos danos, quer da propriedade privada quer da propriedade pública, sendo certo que hoje, de manhã, os bombeiros, a proteção civil, os funcionários municipais, os proprietários, os comerciantes, os funcionários dos estabelecimentos públicos e privados estão todos mobilizados para que possa ser feita a limpeza que é necessária”.
Na cidade de Chaves “entre lojas, entre incidências que aconteceram também em edifícios públicos, nas escolas, no centro escolar, na urgência do hospital de Chaves e em muitos edifícios de habitação coletiva, houve inundações nas caves, nas lojas situadas ao nível do rés-do-chão. No centro escolar, provocou um dano ao nível da cantina, que vai fazer com que hoje não possamos servir refeições aos alunos”, descreve o autarca.
Quanto aos prejuízos na agricultura, o presidente da Câmara de Chaves diz que já foi feito “um contacto informal junto dos serviços agrícolas, dos presidentes de Junta e de alguns agricultores, para que possa ser coligida toda a informação, a fim de se apurarem todos os prejuízos”.
“Queremos que, de uma forma pormenorizada e muito concreta, se possa identificar a extensão e a tipologia dos prejuízos, para que possam ser, depois, devidamente analisados, percebendo se possam ser ou não cobertos por algum seguro que exista ou outro tipo de instrumento que possa minimizar e mitigar os damos que, naturalmente, serão muito relevantes para as famílias afetadas”, conclui o autarca.
A intempérie provocou também a queda de muros e deixou algumas viaturas submersas.