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"Ópera na Prisão" leva a Orquestra Gulbenkian a tocar atrás das grades

06 jun, 2018 - 13:13

Concerto acontece na Tanoaria do Estabelecimento Prisional de Leiria. Orquestra toca com um elenco formado por reclusos e solistas profissionais.

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A Orquestra Gulbenkian, pela primeira vez em 50 anos, atua no dia 9 de junho num estabelecimento prisional, em Leiria, no âmbito da primeira apresentação pública da terceira edição do projeto "Ópera na prisão", que estreia "Só Zerlina, ou Così Fan Tutte?".

Na Tanoaria do Estabelecimento Prisional de Leiria, a orquestra toca com um elenco formado por reclusos e solistas profissionais. Um momento histórico que potencia as virtudes do projeto, sublinha o diretor artístico da Sociedade Artística Musical dos Pousos (SAMP).

"É a primeira vez que a Orquestra Gulbenkian toca dentro de uma prisão, e, ao que sabemos, é a primeira vez que, em todo o mundo, uma orquestra com este nível profissional acompanha uma ópera dentro de uma prisão", afirma Paulo Lameiro, o diretor artístico da SAMP.

"Estamos a falar da mais prestigiada orquestra portuguesa. Ter a acompanhar esta ópera a Orquestra Gulbenkian elevou naturalmente todo o nível artístico da produção, pois solistas e reclusos, técnicos de luz e som, orquestradores e encenador, e todos os muitos profissionais que envolve qualquer produção de ópera, se deixaram contagiar pela responsabilidade desta prestigiada formação artística", explica o diretor artístico, admitindo que viagem da orquestra até Leiria implica "um esforço perfeitamente anómalo" à atividade normal.

Estreado pela SAMP em 2003, o projeto "Ópera na Prisão" funcionou durante três anos. Em 2014 regressou com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian, integrado no programa Partis, que visa a integração social através das práticas artísticas.

No quinto ano desta nova fase, o foco de "Ópera na Prisão" incide sobre as famílias dos reclusos. Além dos 40 detidos envolvidos, também 60 familiares trabalham com a SAMP fora do contexto prisional.

Paulo Lameiro realça os resultados: "São visíveis e observáveis. Diria que o mais emblemático de todos é que, para esta vinda da Orquestra da Fundação Gulbenkian ao Estabelecimento Prisional de Leiria, teremos entre a equipa de técnicos profissionais um jovem que na edição anterior era um dos reclusos participantes".

Impacto social

Mas há mais: no público vão estar alguns jovens que também participaram na "Ópera da Prisão" em anos anteriores.

Para o diretor artístico, contudo, o efeito mais significativo "não é medível em nenhuma escala usada para classificar o impacto social destes projetos". E recorda o caso de outro recluso que fez parte do elenco da ópera anterior.

"Está hoje em liberdade, tem um emprego, uma mulher e um bebé de três meses, a quem acalma as cólicas da noite - para surpresa e estupefacção da mulher! - cantando-lhe as árias que aprendeu na prisão".

Intitulada "Pavilhão Mozart", a terceira edição contempla também a criação dentro do Estabelecimento Prisional de Leiria de "um centro de artes performativas cujo 'modus operandi' se pretende aberto à comunidade exterior para mostrar os trabalhos aí realizados pelos reclusos".

Após a estreia em Leiria, "Só Zerlina, ou Così Fan Tutte?" terá apresentação em Lisboa, no Grande Auditório Gulbenkian, nos dias 12 e 13 de julho, culminando o segundo ano da terceira edição.

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