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D. Manuel Linda. Eutanásia “é sacudir a água do capote”

28 mai, 2018 - 07:00

O bispo do Porto alerta, em entrevista à Renascença, para consequências a longo prazo da eventual despenalização da eutanásia, sustentando que há risco de banalização e abaixamento da tónica moral. D. Manuel Linda lamenta que para o Estado seja mais fácil “assistir à morte do que criar condições de vida digna” e diz que "o PCP está a ser a reserva de bom senso no parlamento”. Nesta entrevista, o bispo do Porto olha ainda para o fenómeno do turismo como uma oportunidade também para a Igreja.

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D. Manuel Linda: Eutanásia “é sacudir a água do capote”
D. Manuel Linda: Eutanásia “é sacudir a água do capote”

O bispo do Porto, D. Manuel Linda, considera haver risco de banalização da eutanásia e lamenta que se esteja a abrir caminho para o que diz ser um “abaixamento da tónica moral” neste tipo de questões.

Em entrevista à Renascença, D. Manuel Linda sustenta que, a ser aprovada a despenalização da morte assistida, vai prevalecer apenas a tónica jurídica o que “fará a lei tornar-se cada vez mais ténue”. Neste plano, o bispo do Porto encontra risco de banalização não só da eutanásia, mas em todas as questões onde a moral deve ser determinante.

Para o bispo do Porto não convence, por isso, o argumento de que a lei não obriga, apenas admite. Tal cenário, aponta, contribui para “um ambiente geral em que os mais idosos se sintam a mais, um ambiente em que quando se chega a uma determinada idade se considera normal a eutanásia”.

D. Manuel não hesita em lembrar a necessidade de se fazer mais no plano dos cuidados paliativos, onde "à Igreja, pioneira no sector, não pesa a consciência”.

Reconhecendo que o tratamento e a criação de condições dignas em final de vida é dispendioso, o bispo do Porto lamentaque “muitas vezes, para o Estado, a forma de não resolver problemas é sacudir a água do capote” apontando em tom crítico que “é mais fácil assistir à morte do que criar condições dignas”. D. Manuel conclui, assim, não haver vontade política de dotar a saúde dos meios indispensáveis. Se tal acontecesse, “este debate não seria tão agudo”.

PCP como reserva de bom senso no parlamento

Questionado sobre a liberdade individual, D. Manuel Linda defende que num contexto de extrema aflição ou de abandono a pessoa não tem liberdade para decidir. Sobre o projeto socialista que veda a eutanásia a quem entra num quadro de inconsciência, o bispo do Porto alerta que a questão não pode ser tão simplista. “Importa ver o que é eutanásia e o que é o prolongamento artificial da vida”, sublinha, acrescentando não ser desejável um prolongamento sem critério da vida, algo ”tão grave como a própria eutanásia”.

O bispo do Porto diz ainda que não está surpreendido pelo facto de o Partido Comunista rejeitar todos os projetos de despenalização da morte assistida. "O PCP está a ser a reserva de bom senso no parlamento”, sublinha o prelado, lembrando já ter sido assim no caso das barrigas de aluguer, em que também “parece estar a ser afastada a racionalidade ética dos deputados”.

Turismo como fonte de rentabilidade: “Tem de haver missas em inglês ou francês.”

O turismo é também uma oportunidade para a Igreja. “Tem de haver missas em inglês ou francês”.
O turismo é também uma oportunidade para a Igreja. “Tem de haver missas em inglês ou francês”.

Nesta entrevista, para lá do tema eutanásia, o bispo do Porto, que deu entrada solene na diocese a 15 de abril, revela ter encontrado uma diocese viva e com imensas potencialidades.

D. Manuel Linda apelida de "momentâneo" o episódio de dificuldades de tesouraria com que se deparou, uma situação que, garante, está a ser ultrapassada e a caminho de ser corrigida, esperando que “dentro de dois ou três anos” tudo esteja resolvido.

Nesta fase, D. Manuel afasta a necessidade de alienar património da diocese, sem deixar de admitir que "até pode ser necessário”. Todavia, o único cenário a ser encarado é o da rentabilização.

É nesta estratégia que o bispo do Porto olha para o turismo não só como fonte utilidade social, mas também como um “fator de rentabilidade económica para a Igreja”. Para D. Manuel, não é possível visitar o centro histórico do Porto “sem ter interligação com o fenómeno religioso” .

Perante o crescimento do fenómeno turístico, o bispo sugere a celebração de eucarísticas em língua estrangeira. “Não é admissível não termos uma missa em inglês”, apontando para a concretização da ideia no futuro: “Tem de acontecer, mais tarde ou mais cedo."

Processos de canonização com resultados em 2019

Noutro plano, sobre o papel dos recasados na Igreja, D. Manuel Linda defende a necessidade de um debate sério e longo na diocese do Porto, “sem ser da noite para o dia”.

O bispo explica que o Porto está num processo de nomeação dos conselhos presbiteral e pastoral que só em setembro estará concluído, sendo, então, possível avançar com o debate.

Nesta entrevista, o bispo do Porto renova a saudação pela nomeação de D. António Marto como cardeal. Para D. Manuel, é “um reflexo da maturidade da Igreja em Portugal” e a valorização do trabalho humilde dos bispos que, sem grande nome no exterior, “fazem um trabalho notável”.

D. Manuel Linda admite novidades sobre os processos de canonização de D. António Barroso, bispo do Porto no início do séc. XX, e do padre Américo, o fundador da Casa do Gaiato. O bispo do Porto lembra que se trata de duas figuras que estão “no coração do povo do Porto” e que o "calendário" justifica avanços nesta questão: este ano assinala-se o centenário da morte de D. António Barroso e também os 75 anos da fundação da Obra da Rua, pelo que até em 2019 “será possível que se verifiquem avanços”.

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  • João Lopes
    28 mai, 2018 Viseu 17:37
    Henrique Raposo na RR 28-05-2018. «a eutanásia não é um suicídio normal… porque a decisão final depende de um conjunto de médicos que tem de validar e executar a morte pedida.. é a usurpação da liberdade dos outros (dos médicos e enfermeiros) em nome de um alegado direito à morte… O ser humano terá sempre a liberdade radical para se matar, não pode é ter o direito de desviar o ónus do seu suicídio para outra pessoa ou para uma entidade coletiva e desresponsalizadora».
  • fanã
    28 mai, 2018 aveiro 17:14
    Agonizar sem qualquer "conforto" , sem qualquer assistência de qualidade , suportando dores físicas e psicológicas...SÓS ; claro é mais humano !!!!!!......................... Não estamos sequer em vésperas de ver neste País Cuidados Paliativos e Continuados para todos , a grande maioria de doentes em fim de vida morre , lamentavelmente no silencio do abandono . Não quero morrer em sofrimento , se não tenho possibilidade económica para o Privado , então exijo que abrandem o meu sofrimento , ao meu pedido , consciente do meu estado de Saúde sem remissão !.... Prefiro sim a eutanásia , que falecer sem a adequada assistência . Simples questão de humanidade ! .........Não se iludam , não será para amanhã que todos poderão morrer com DIGNIDADE !
  • 28 mai, 2018 12:48
    Depois vai haver uma lista de espera acompanhada por uns subornos aos medicos!
  • João Lopes
    28 mai, 2018 Viseu 11:57
    A eutanásia e o suicídio assistido continua a ser homicídio mesmo que a vítima o peça, tal como a escravatura é sempre um crime, mesmo que uma pessoa quisesse ser escrava! Com a legalização da eutanásia e do suicídio assistido, o Estado declararia que a vida de pessoas doentes e em sofrimento não lhe interessa, e não as protege. A eutanásia e o suicídio assistido são diferentes formas de matar. O parlamento, os tribunais, os hospitais, os médicos e enfermeiros, existem para defender a vida humana e não para matar nem serem cúmplices do crime de outros.

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