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Dias negros em Alvalade. Saiba tudo o que está em causa

17 mai, 2018 - 02:50 • Carlos Calaveiras

Os dias estão muito conturbados no reino do leão. A Renascença resume-lhe os dois casos que têm abalado o Sporting e todo o país desportivo.

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  • AGRESSÃO AO PLANTEL

Na terça-feira à tarde, a equipa principal do Sporting treinava na Academia de Alcochete quando um grupo de cerca de 50 pessoas, a maioria encapuzada e armada, invadiu as instalações do clube, entrou nos balneários e agrediu jogadores, treinadores e outros elementos da estrutura do clube. O “vendaval” durou poucos minutos, mas deixou marcas em atletas, no treinador, e no próprio balneário do plantel principal.

Na altura dos incidentes, não se encontrava nenhum dirigente leonino no centro de estágio do Sporting e o presidente, Bruno de Carvalho, chegou a Alcochete cerca de uma hora depois dos acontecimentos. Os jogadores terão recusado falar com o dirigente máximo do clube.

O Sporting fez, inicialmente, um comunicado em que “repudia de forma veemente os acontecimentos registados na Academia Sporting".

"Não podemos de forma alguma pactuar com atos de vandalismo e agressão a atletas, treinadores e staff do Futebol Profissional, nem com atitudes que configuram a prática de crime que em nada honram e enobrecem o Sporting Clube de Portugal. O Sporting não é isto, o Sporting não pode ser isto. Tomaremos todas as diligências no sentido de apurar cabais responsabilidades pelo que aconteceu e não deixaremos de exigir a punição de quem agiu desta forma absolutamente lamentável.”

Alguns jogadores do clube deixaram a Academia em segurança pouco antes das 20h30. Por volta das 21h45, saiu Bruno de Carvalho e, cerca das 23h00, Jorge Jesus, a equipa técnica e um ou outro atleta deixavam Alcochete.

Já depois de Bruno de Carvalho ter saído do centro de estágio, a Sporting TV transmitiu declarações do presidente do clube em que este considerou que era "um dia muito difícil para o Sporting. O que se passou aqui hoje é um ato criminoso”.

"Num primeiro momento, os jogadores estão em estado de choque. Claro que vamos estar no Jamor, provavelmente muitas pessoas não queriam mas vamos estar, claro que vamos jogar, claro que os jogadores estão tristes com o que aconteceu mas querem jogar. Isto foi chato e temos de nos habituar que o crime faz parte do dia a dia”, acrescentou.

Ao mesmo tempo, o presidente da Assembleia Geral do clube, Jaime Marta Soares, garantiu que tinha falado com jogadores e equipa técnica, que estes estavam “muito magoados e tristes”, mas que “nenhum jogador transmitiu a intenção de sair do clube” e que, por isso, estariam na final da Taça de Portugal. Marta Soares referiu que iria convocar todos os órgãos sociais para uma reunião geral na próxima segunda-feira.

Ainda durante essa noite, foram vários os jogadores do plantel do Sporting que se dirigiram ao posto territorial do Montijo da GNR para apresentar queixa contra os agressores. O treinador Jorge Jesus, que também terá sido agredido, também esteve lá.

Os atletas confirmaram, esta quarta-feira, após uma reunião com o Sindicato dos Jogadores, que vão estar presentes da final da Taça de Portugal, apesar de considerarem "não ter condições anímicas e psicológicas para, de imediato, retomarem a sua atividade de forma normal".

Na nota, os 25 jogadores que assinam o documento deixam, no entanto, aberta a porta para cada elemento do plantel leonino decidir o seu futuro, após o jogo.

Entretanto, a Procuradoria-Geral da República confirmou a detenção de 23 suspeitos que estão, entre outros crimes, indiciados por terrorismo. Vão começar a ser ouvidos esta quinta-feira.

Foram muitas as reações a este caso grave de agressões. Destaque para o Presidente da República que diz que sentiu “vergonha” e “vexado pela imagem projetada por Portugal no mundo”. Marcelo Rebelo de Sousa considera que "é altura de agir".

  • OPERAÇÃO CASHBALL

O Sporting confirmou, esta quarta-feira, a realização de buscas nas instalações do clube no âmbito da operação "Cashball", que trata suspeitas de corrupção ativa no andebol e no futebol dos leões.

"O Sporting Clube de Portugal confirma que foram realizadas, no dia de hoje, buscas nas instalações do Clube, no âmbito de uma investigação que se encontra em segredo de justiça. O Sporting Clube de Portugal confirma ainda que dois colaboradores foram constituídos arguidos", escreveu o clube de Alvalade, em comunicado no Facebook.

Sem referir os nomes dos arguidos, o Sporting remeteu futuros desenvolvimentos à justiça: "O Sporting Clube de Portugal confia na justiça e, como sempre defendeu, prestou e prestará toda a colaboração necessária ao apuramento da verdade".

De acordo com o "Correio da Manhã", a PJ terá alargado o âmbito da investigação ao alegado esquema de suborno a árbitros no andebol e um dos encontros sob suspeita, no futebol, é o Vitória de Guimarães-Sporting, da terceira jornada da I Liga, que terminou com goleada dos leões, por 0-5. A PJ estará a tentar determinar se houve alguma tentativa de corrupção, por parte dos dirigentes leoninos.

"A Polícia Judiciária, através da Diretoria do Norte, e no âmbito de inquérito dirigido pelo Ministério Público – DIAP do Porto, deteve quatro pessoas pela presumível prática dos crimes de corrupção ativa no desporto", informa a PJ, em comunicado. A operação envolveu 40 elementos da PJ e incluiu cerca de dez buscas domiciliárias e no clube.

A CMTV avançou que um dos quatro arguidos confirmados pela PJ é André Geraldes, atual "team manager" dos leões, que na altura das primeiras suspeitas era o responsável pelas modalidades do clube verde e branco. O outro seria Gonçalo Rodrigues, funcionário do gabinete de apoio ao atleta do clube. Estão também detidos os empresários Paulo Silva e João Gonçalves. Os quatro só vão ser ouvidos esta quinta-feira por um juiz do Tribunal de Instrução Criminal, passando a noite detidos na PJ do Porto.

Em causa estarão conversas e trocas de mensagens de voz entre empresários, na aplicação da internet WhatsApp, que, segundo o Correio da Manhã, mostram a intervenção de elementos do Sporting na alegada tentativa de viciação de resultados no andebol e no futebol.

André Geraldes aproveitou a rede social Facebook, antes de ser constituído arguido, que estava “de consciência absolutamente tranquila” e que estava “focado na tarefa de preparar o futebol profissional do Sporting para a final da Taça de Portugal e para a próxima época”.

“Nada tenho a esconder e estou inteiramente disponível para colaborar no apuramento de toda a verdade”, acrescentou.

O empresário Paulo Silva, alegadamente intermediário em todo o esquema, falou ao Correio da Manhã em "fraude nas modalidades" e confessa ter alinhado no esquema de corrupção "ao serviço do seu clube do coração [Sporting]" dizendo que recebia 350 euros por cada árbitro de andebol que corrompia.

A Liga de Clubes anunciou que vai constituir-se como assistente no processo judicial.

Já na noite de quarta-feira, a direção do Sporting pediu a convocação de uma assembleia-geral extraordinária.

"Como sempre afirmámos, o clube é dos Sócios e estes devem, em momentos relevantes, ser sempre ouvidos. Neste sentido, enviámos hoje ao senhor presidente da mesa da assembleia-geral do Sporting Clube de Portugal, um pedido de assembleia-geral extraordinária a ser marcada o mais breve possível, para analisar a situação atual do clube, auscultar os sócios e dar todas as explicações que estes entendam necessárias", pode ler-se no comunicado dos leões através das redes sociais.

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