13 mai, 2018 - 11:07
É com um aviso que o secretário-geral da Federação de Sindicatos da Administração Pública (Fesap) reage à entrevista de António Costa ao “Diário de Notícias”.
“É verdade que há falta de trabalhadores, é verdade que se paga muito mal”, começa por dizer o sindicalista, em declarações à Renascença.
Mas continuar assim não dá. “Não é possível 10 anos sem aumentos salariais. Isto vai endurecer a luta, vai endurecer as nossas posições, vai endurecer as nossas exigências perante este ou qualquer outro Governo, porque este empobrecimento lento, esta perda de qualidade dos serviços é tão importante quanto efetivamente a quantidade”, reclama.
Na entrevista que concedeu ao DN, o primeiro-ministro considera que, neste momento, é mais importante contratar mais funcionários públicos do que aumentar salários.
“Se me perguntar entre aumentar o número de funcionários e o vencimento dos funcionários, eu digo: aumento o número dos funcionários”, afirmou na entrevista que faz manchete este domingo.
“Neste momento, é mais importante para melhorar a qualidade dos serviços, para responder melhor às necessidades dos portugueses e também para melhorar a qualidade de vida de quem está hoje na administração pública”, justifica António Costa.
A posição do chefe do Governo contraria as pretensões do Bloco de Esquerda e do PCP, mas António Costa fala em equilíbrios entre as várias posições para o Orçamento do Estado de 2019.
À Renascença, José Abraão também antevê dificuldades com os partidos que sustentam o Governo. Porque “à esquerda do PS não representam nada em termos sindicais e andam sempre a correr atrás do prejuízo”, o que “não facilita a vida no que respeita à construção do próximo Orçamento”.
Mas espera que o primeiro-ministro deixe “em aberto a hipótese de mesclar o reforço do número de trabalhadores” com o aumento de salários.
Na opinião do dirigente da Fesap (afeta à UGT), é importante reter trabalhadores qualificados na administração pública. “Os mais qualificados ainda hoje continuam a ir para a emigração, o que não faz sentido nenhum, porque o importante é reter quadros, reter gente qualificada, melhorar as condições na administração pública”.
“É por esta via [que se melhora os serviços] e não pela manutenção da política dos baixos salários”, defende ainda.
José Abraão critica também a divisão entre setor público e privado. “Somos todos trabalhadores, seja no setor público seja no setor privado; se no setor privado há uma exigência clara e também, de algum modo, a criação por parte do Governo de condições para o reforço da negociação coletiva que contempla aumentos salariais, não pode ter aqui dois pesos e duas medidas”.
Na entrevista ao DN, António Costa promete também que as carreiras na função pública continuarão a ser descongeladas e fala de incêndios, dizendo que não precisa de "estímulo suplementar" da parte do Presidente da República para ter motivação – uma resposta às declarações de Marcelo Rebelo de Sousa, que disse à Renascença e ao “Público” que não se recandidatará caso aconteça uma nova tragédia neste verão.