30 abr, 2018 - 21:48
A Conferência Episcopal da Nigéria pediu ao Presidente Muhammadu Buhari que se demita, no seguimento de um ataque a uma comunidade católica que fez 19 mortos, incluindo dois padres.
Buhari, que se encontra nos Estados Unidos, onde foi recebido pelo Presidente Donald Trump, é acusado de não fazer o suficiente para travar a violência levada a cabo por membros da etnia fulani, que são suspeitos de ter atacado a Igreja.
O massacre do dia 24 de abril foi o mais recente de uma onda de violência interétnica que tem por base desavenças sobre território. Os fulani são um povo de pastores e ao longo dos últimos anos, à medida que as terras se tornam mais áridas e escassas, têm ocupado zonas onde predominam povos que se dedicam mais à agricultura. As escaramuças entre agricultores e pastores são históricas, mas recentemente uma franja mais militante de fulanis tem levado a cabo ataques de uma violência sem precedentes.
O conflito não tem bases religiosas mas o facto de os fulani serem muçulmanos e algumas das outras tribos serem cristãs dá ao conflito uma dimensão ainda mais grave.
Numa declaração intitulada “Quando acabará esta barbárie”, os bispos expressam a sua preocupação pela forma como o Presidente tem lidado com a crise, acusando-o de ter agravado a situação ao colocar as forças de segurança “propositadamente nas mãos dos fiéis de uma única religião”. Buhari, como a maioria dos fulani, é muçulmano.
“O derramamento de sangue e a destruição de casas e de explorações agrícolas aumentaram em intensidade e brutalidade. Agora são as nossas igrejas que são profanadas e os nossos fiéis assassinados sob os seus altares”, escrevem os bispos.
A declaração segue, pedindo a Buhari que se demita caso não consiga garantir a segurança dos seus cidadãos. “Se o Presidente não pode manter o país seguro, então perde automaticamente a confiança dos cidadãos. Não deve continuar a presidir sobre os campos de morte e de valas comuns em que se transformou o nosso país.”
“Pedidos insistentes da nossa parte e de muitos nigerianos para que o Presidente tome medidas drásticas e urgentes para inverter esta tragédia que ameaça as fundações da nossa existência coletiva e da nossa unidade enquanto nação, não foram escutados”, dizem os bispos.
“Para a nação torna-se claro que ele falhou no seu dever principal de proteger as vidas dos cidadãos nigerianos. Quer este falhanço se deva à sua incapacidade de agir, ou a falta de vontade política, chegou o momento de ele tomar a decisão honrada e considerar demitir-se para salvar a nação do colapso total”, lê-se ainda.
As divisões religiosas na Nigéria são um fator muito preocupante e ao longo das últimas décadas a violência inter-religiosa já causou muitos estragos, sobretudo na zona central do país onde se encontra o norte, de maioria muçulmana e o sul de maioria cristã.