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Prémios BAFTA distinguem fotógrafo português Nuno Sá

23 abr, 2018 - 14:25 • André Rodrigues

Nuno Sá foi distinguido na categoria de melhor fotografia num dos episódios da série documental "Planeta Azul", da BBC.

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O fotógrafo português Nuno Sá acaba de ser distinguido com um prémio BAFTA, na categoria de melhor fotografia num dos episódios da série documental "Planeta Azul", da BBC.

Em declarações à Renascença, Nuno Sá não esconde a satisfação por este prémio - correspondente no Reino Unido aos Óscares. "Se, há um ano, me dissessem que aconteceria, eu não acreditava."
Nuno Sá licenciou-se em Direito, em 2001, mas a sua vida começou a alterar-se a meios do curso, quando experimentou mergulho, em Sesimbra: "Foi aí que nasceu aquela vontade de saber cada vez mais sobre os nossos oceanos e de poder viajar pelo mundo e retratar essa beleza."

Licenciou-se em Direito em 2001. Como se explica esta opção por uma vida dedicada ao mar?

É curioso, porque o ano em que me licenciei foi o ano em que saiu a primeira temporada da série "Planeta Azul", o que acabou por ter um impacto enorme na perspetiva do que eu queria fazer para o resto da vida. Sonhava poder passar por aquelas experiências incríveis, de poder presenciar aquela explosão de vida que se encontra naqueles documentários. Fazer parte da equipa da segunda temporada da série foi qualquer coisa inesperada. Depois, ser premiado com um BAFTA foi algo que, se, há um ano, me dissessem que aconteceria, eu não acreditava.

O Direito é um acidente de percurso?

Foi um erro de "casting", claramente. Infelizmente, só tive contacto com o mundo aquático bastante tarde. Só tirei o meu curso de mergulho aquático quando estava a fazer Direito. E, depois, tomei a decisão de mudar para os Açores. Foi nessa altura que me apercebi da diversidade incrível da vida subaquática que temos em Portugal.

Como não existia ninguém na região a fazer fotografia e filmagem subaquática, acabei por entrar no mercado das grandes produções, porque tinha bons equipamentos e já tinha conhecimentos de trabalho com a vida marinha dos Açores. E acabei por ser contactado pela BBC e pela National Geographic.

Mas foi um percurso planeado?

Não. Na verdade, nada disto foi muito planeado. Tudo se desenvolveu graças ao meu primeiro curso de mergulho, em Sesimbra. Foi aí que nasceu aquela vontade de saber cada vez mais sobre os nossos oceanos e de poder viajar pelo mundo e retratar essa beleza.

O prémio BAFTA, que acaba de receber, distingue a sequência de imagens de dezenas de orcas e baleias a alimentarem-se de gigantescos cardumes de peixes nos fiordes noruegueses. Numa altura em que se antecipa o risco de, no futuro, poder haver mais plástico do que peixe nos nossos oceanos, em que medida é que um trabalho destes contribui para a promoção de uma consciência coletiva para a preservação do ambiente?

É curioso porque eu filmei na equipa principal em dois episódios. Um deles retrata a vida em alto mar. E aí, curiosamente, tropecei numa outra história: estávamos a filmar cachalotes nos Açores e encontrámos um rio de plástico em alto mar a perder de vista, a várias milhas da costa, com todo o tipo de objetos que se possa imaginar: escovas de dentes, botas, capacetes, sacos. E encontrámos toda uma vida marinha que se adaptou a este novo tipo de ecossistema e vivia de toda a cadeia alimentar originada por este rio de lixo. Encontrámos tartarugas, várias espécies de peixe e até uma espécie de percebes que se aglomeravam à volta do plástico. Era uma história que não estava prevista, mas que acabou por ter um impacto enorme, em particular nas redes sociais.

Se, por um lado, esta história filmada há dois anos na Noruega foi qualquer coisa em que se mostra que ainda há sítios no nosso planeta que ainda são muito saudáveis, com uma abundância de vida incrível, por outro lado acabámos por tropeçar nesta história que é bem reveladora do impacto negativo do ser humano sobre os oceanos. E estes são os episódios que mais impressionam as pessoas. Mais até do que os que mostram a beleza natural. O que, no fundo, acaba por ser positivo. Porque ajuda a pensar no que andamos a fazer aos nossos oceanos.

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