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Campos Fernandes. "As greves não podem condicionar a democracia"

19 abr, 2018 - 00:03 • Eunice Lourenço (Renascença) e David Dinis (Público)

Ministro fala sobre médicos, enfermeiros e o infarmed nesta entrevista à Renascença e ao Público.

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Ministro da Saúde. “Os problemas no SNS não estarão resolvidos em 2019”
Ministro da Saúde. “Os problemas no SNS não estarão resolvidos em 2019”

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Ministro promete negociar com os médicos "até ao último minuto", mas não garante uma solução. E quer colocar médicos jovens no interior um ano, antes de terem colocação definitiva.

"Há um momento em que o consenso aparece ou em que o consenso não é possível", avisa Adalberto Campos Fernandes.

Vai ter mais uma greve de médicos. Acha possível evitá-la?

Faremos com esta greve o que temos feito com muitas outras: negociar até ao último minuto, procurando compatibilizar o interesse e expectativa dos profissionais e aquilo que é a possibilidade do governo em matéria de cedência. As greves fazem parte da democracia, não podem condicionar a democracia. Por outro lado, os governos têm que ter a abertura e capacidade de negociação para irem tão longe quanto podem. Mas há um momento em que o consenso aparece ou em que o consenso não é possível. E naturalmente que nós, até à última hora, estamos disponíveis para manter a negociação. Temo-lo feito, também com outros grupos profissionais onde tivemos também processos de contestação. Fizemos acordos, negociámos. Estamos a fazê-lo com os enfermeiros, fizemos com os farmacêuticos hospitalares, com os técnicos de diagnóstico...

Vê contornos político-partidários nesta greve?

Eu nunca faço,nem farei, juízos políticos sobre greves. As greves são uma emanação da vontade dos profissionais, dos trabalhadores. E quem os representa tem a orientação política que tem em cada momento. Seria a mesma coisa que o dr Paulo Macedo se queixar das greves que teve, no tempo dele, de terem outra coloração política. Não faço, nem atribuo colorações políticas ou partidárias às greves. Outra coisa, não sejamos ingénuos, é não poderem haver agendas coincidentes. Mas isso, os observadores são os senhores.

Em setembro, numa entrevista ao jornal i, admitia para os médicos um sistema semelhante ao dos pilotos da força aérea: não poderiam ir imediatamente para ao sector privado ou teriam de pagar ao Estado. Admitia essa decisão pudesse começar no OE de 2018. Desistiu?

Não, não desistimos. Nós entendemos que precisamos de resolver o problema do interior, dos territórios de baixa densidade. Não o podemos fazer contra os médicos, terá que ser um processo negociado, estudado, com os sindicatos e com a Ordem. Uma possibilidade poderia ser que os médicos pudessem, antes de integrar uma vaga definitiva, passar algum tempo - um ano - nos hospitais do interior. Ou então alargar aquilo que temos feito até agora, um sistema de incentivos para que os jovens médicos possam...

Não tem tido grande resultado, esse incentivo para irem para o interior.

As quotas que abrimos foram todas preenchidas. Mas o país vive muito centrado nas grandes cidades. E apesar de termos muito mais médicos no interior, eles são ainda manifestamente insuficientes. Não é só um problema de incentivo financeiro, tem a ver com as condições de vida, com a expectativa profissional. Continuaremos a melhorar as condições de trabalho nesses hospitais, por exemplo com investimentos; Évora precisa de um hospital novo, por exemplo; também encontrar mecanismos de valorização profissional...

Em relação aos enfermeiros, quando é que passam a receber como licenciados e como especialistas?

O processo negocial foi concluído, o decreto que permite o pagamento do subsídio aos enfermeiros especialistas foi aprovado há 15 dias, muito em breve esse pagando será feito com efeitos a janeiro de 2018.

Portugal é um dos países com mais atraso na comparticipação de medicamentos; em média mais de um ano. Isto é mais notório em áreas como a oncologia, em que os atrasos são ainda maiores. O que pode dizer aos doentes que esperam por novos tratamento para lhes dar esperança?

Que têm motivos para ter esperança, porque foi com este Governo que retomamos a trajetória de aprovação de medicamentos inovadores, em tratamento de VIH, oncologia, hepatite C. Estamos a melhorar os prazos, a ter mais acesso à inovação. Aí está uma perceção que é desajustada da realidade.

Mantém a perceção de que é desejável mudar o Infarmed para o Porto?

O grupo de trabalho está a fazer a sua avaliação, entregará o relatório no início do Verão. Nós entretanto aprovámos uma agência de investigação biomédica que vai ser das mais importantes em termos europeus, cuja instalação vai ser no Porto. Aguardaremos a avaliação desta comissão de peritos e agiremos em conformidade com o que for o conselho desses peritos.

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  • Anónimo
    19 abr, 2018 18:31
    Já a austeridade pode?

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