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Facebook apaga mais de 270 páginas suspeitas de estarem ao serviço da Rússia

03 abr, 2018 - 23:42 • Rui Barros

As contas serviam para influenciar cidadãos russos ou as minorias russas a viver nos países vizinhos, como o Azerbaijão, Uzbequistão e Ucrânia. Há páginas de meios de comunicação russos na lista negra de Zuckerberg.

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A rede social Facebook vai eliminar mais de 270 páginas e contas associadas à organização russa IRA (Internet Research Agency), suspeita de estar ao serviço do Kremlin para manipular eleições em diversos países e controlar a opinião pública no país.

Entre os perfis apagados estão páginas associadas a meios de comunicação russos.

Numa publicação na rede social, Mark Zuckerberg, CEO do Facebook, fez saber que a plataforma decidiu “tomar um passo importante para proteger a integridade das eleições em todo o mundo” ao apagar 270 páginas e perfis “operados pela IRA”.

De acordo com o líder da gigante de Silicon Valley, a decisão serviu para evitar que a mesma organização não manipule os cidadãos russos, uma vez que a rede social terá já tomado medidas para que essa organização e as suas contas associadas - conhecidos na internet como “kremlebots” em referência ao Kremlin - não influencie mais pessoas nos Estados Unidos e na Europa.

“Não os queremos no Facebook”, pode ler-se na publicação de Mark Zuckerberg.

“Apesar de respeitarmos que as pessoas e os governos partilhem visões políticas no Facebook, não vamos deixar que criem contas falsas para isso. Quando uma organização faz isto repetidamente, apagaremos todas as suas páginas, mesmo as que não sejam falsas. As contas e páginas que apagamos hoje foram removidas porque eram controladas pela IRA, não pelo tipo de conteúdos que partilhavam”.

Entre as contas que serão apagadas estão páginas que pertencem a organizações noticiosas russas, mas que a rede social acredita estarem ligadas à IRA.

Cerca de um milhão de pessoas seguia pelo menos uma destas contas no Facebook e 500 mil pessoas seguiam pelo menos uma destas contas no Instagram (rede social pertencente ao grupo de Mark Zuckerberg).

De acordo com o líder da empresa norte-americana, o objetivo destas contas não era influenciar eleições na Europa ou nos Estados Unidos, mas influenciar os cidadãos russos ou as minorias russas a viver nos países vizinhos, como o Azerbaijão, Uzbequistão e Ucrânia.

A rede social vai, nos próximos dias, lançar também uma ferramenta que permite aos utilizadores saber se estiveram em contacto com alguma destas páginas.

Os esforços

Mark Zuckerberg elencou ainda os esforços que a empresa tem feito para evitar que este género de rede de propaganda cibernética altere resultados eleitorais.

“Em 2016 descobrimos que a empresa russa IRA tinha criado uma rede de centenas de contas falsas para espalhar conteúdo divisivo e interferir nas eleições presidenciais dos Estados Unidos. Começamos a investigar a sua atividade e a apagar as suas contas e páginas”, relata Zuckerberg.

“Desde então melhoramos as nossas técnicas” diz o CEO do Facebook, que avança que os engenheiros da empresa desenvolveram um algoritmo de inteligência artificial capaz de detetar e eliminar estas contas falsas.

De acordo com o líder da maior rede social do mundo, este mecanismo impediu que as eleições francesas e alemãs tivessem sido influenciadas por esta rede de contas falas e páginas de propaganda.

“Em França, antes das eleições de 2017, eliminamos 30 mil contas falsas. Na Alemanha, antes das eleições de 2017, trabalhamos diretamente com a comissão eleitoral [deste país] para perceber que ameaça tinham identificado e partilhamos informação”, faz saber o líder da empresa.

Reforço na segurança

Numa clara referência ao escândalo Facebook/Cambridge Analytica, Mark Zuckerberg fez ainda saber que a empresa tem investido em reforçar a segurança da plataforma, prevendo ter, no final deste ano, 20 mil profissionais dedicados a reforçar a segurança das plataformas que o grupo gere - Facebook, Instagram e WhatsApp.

A Internet Research Agency é acusada de ser uma empresa de fachada para os 13 cidadãos russos acusados pelo investigador especial Robert Mueller de terem organizado uma campanha de propaganda e desinformação para perturbar as eleições nos Estados Unidos e favorecer a candidatura de Donald Trump.

A mesma empresa pagou mais de cem mil dólares (81 mil euros) para direcionar publicações para determinados públicos na rede social. Não é certo que os dados recolhidos pela Cambridge Analytica para criar perfis eleitorais tenham sido partilhados com a IRA.

O empresário russo Evgeni Prigozhin é, oficialmente, o líder da Internet Research Agency, mas são conhecidos laços fortes com o presidente russo,Vladimir Putin.

“Não, nós não vendemos os vossos dados”

Numa tentativa de manter a promessa de aumentar a transparência da plataforma, feita na última entrevista, o líder da rede social respondeu ainda a alguns comentários que os seguidores da sua página deixaram na publicação onde anunciou estas mudanças.

“Mas não venderam os nossos dados? Se querem melhorar a vossa segurança, parem de vender a nossa informação”, escreveu um dos seguidores de Zuckerberg na caixa de comentários, ao qual o fundador da rede social respondeu: “Não. Nós não vendemos informação. Deixamos que pessoas comprem publicidade que chegue até vocês, mas não lhes damos os vossos dados”.

Questionado sobre a necessidade de expandir os esforços para lutar contra estas redes de propagação de informação falsa por um cidadão mexicano, Zuckerberg avançou ainda que as ferramentas de inteligência artificial vão ser aprimoradas para evitar que as eleições no México, Índia, Brasil, Paquistão e Hungria sejam igualmente influenciadas.

Confrontado por outro internauta sobre um investimento, na sua opinião, exagerado, perante uma “Rússia inofensiva”, em vez de se focar no recrutamento que o Estado Islâmico faz nesta rede, Mark Zuckerberg fez saber que, neste momento, as ferramentas de inteligência artificial da empresa apagam “99% das publicações relacionadas com o ISIS e Al-Qaeda automaticamente, bem antes destas terem sequer sido denunciadas pelos utilizadores”.

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  • António Costa
    04 abr, 2018 Cacém 04:23
    E evidentemente quem "esta por detrás" do "Estado Islâmico" e da "Al-Qaeda" ? A Internet é um fenómeno recente, mas a propaganda sempre existiu. Já era realizada há milhares de anos, pelos faraós, no Antigo Egipto. A propaganda, as falsas informações sempre existiram, são tão antigas quanto o Homem.

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