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"Azeite Milhões", uma homenagem ao soldado herói português

03 abr, 2018 - 09:39 • Olímpia Mairos

A edição limitada, que homenageia Aníbal Augusto Milhais, foi produzida de azeitonas colhidas em oliveiras centenárias da aldeia do soldado.

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Chama-se “Azeite Milhões”. Foi produzido pela Cooperativa dos Olivicultores de Murça, para homenagear o herói da Primeira Guerra Mundial, Aníbal Augusto Milhais.

A edição limitada de 2.000 garrafas quer assinalar os 100 anos da Batalha de La Lys e vai ser apresentada oficialmente a 9 de abril, nas cerimónias oficiais que decorrem em França, na comuna de La Couture.

“É um azeite feito de oliveiras centenárias de Valongo de Milhais, a terra do herói da Primeira Grande Guerra, o soldado português mais condecorado”, conta Francisco Vilela, presidente da direção da Cooperativa dos Olivicultores de Murça.

Segundo o responsável da cooperativa trata-se de “um azeite com história”, em sintonia com a história do concelho e do país. “Algumas destas oliveiras provavelmente foram plantadas ou tratadas pelo soldado Milhões e por outros soldados e oficiais do concelho, que eram agricultores, e participaram na Guerra”, acredita o dirigente.

Quanto às características do azeite, Francisco Vilela adianta tratar-se de “um azeite mais maduro, com um paladar tipicamente amendoado, frutos secos, ligeiramente amargo e picante, mas, ao mesmo tempo, muito suave”.

Com a garrafa de azeite foi editado um pequeno livro que inclui um texto inédito do escritor João Pinto Coelho, episódios da história do soldado Milhões escritos pela neta Leonida Milhões e ilustrações da bisneta Mafalda Milhões.

Segundo a cooperativa de Murça, a edição deste azeite, para além de uma justa homenagem aos portugueses que participaram na Primeira Guerra Mundial simboliza, também, os agricultores ‘feitos’ soldados do Corpo Expedicionário Português, estando refletida a identidade cultural de um povo”.

O presidente da Cooperativa dos Olivicultores de Murça faz parte de uma pequena comitiva de Murça, que junta ainda o presidente da câmara local e um representante da adega cooperativa, que vai participar nas cerimónias oficiais que decorrem em França e onde vai estar presente o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.

Antestreia nacional do filme “Soldado Milhões”

Na vila de Murça, as iniciativas para assinalar o centenário da Primeira Guerra Mundial arrancam no dia 06, com a hora do conto dedicada ao “Soldado herói Milhões” e uma peça de teatro “O amor na base do corpo expedicionário português”, da autoria do tenente-coronel Alexandre Malheiro.

No dia 9 realiza-se uma missa solene e a cerimónia de homenagem a Aníbal Augusto Milhais, com a participação do Regimento de Infantaria 19, de Chaves, que decorre na praceta Soldado Milhões.

No dia 10 de abril, o auditório de Murça acolhe a antestreia nacional do filme “Soldado Milhões”, realizado por Gonçalo Galvão Teles e Jorge Paixão da Costa e que conta com a interpretação de Graciano Dias, Ivo Canelas, Lúcia Moniz, Nuno Pardal, Rodrigo Tomás.

O filme, que chega às salas de cinema a 12 de abril, conta a história do soldado Milhais e dos mais de 75 mil portugueses que combateram na Flandres, durante a Primeira Guerra Mundial, e dos quais pouco se sabe.

Também o Regimento de Infantaria 13, em Vila Real, vai evocar os 100 anos da Batalha de La Lys, no dia 9 de abril, com uma cerimónia militar a ter lugar junto à estação dos caminhos-de-ferro, onde, a 21 de abril de 1917, os militares do regimento integraram o Corpo Expedicionário Português e embarcaram com destino à Flandres.

O programa inclui ainda um desfile militar e uma visita à exposição “Evocação da Grande Guerra – Batalha de La Lys”, nos claustros da câmara municipal.

O herói português da Grande Guerra

Entre os soldados portugueses que participaram na Primeira Grande Guerra destaca-se Aníbal Augusto Milhais, natural Valongo, concelho de Murça. O soldado raso ficou famoso por se ter batido sozinho contra os alemães, para ajudar à retirada das forças aliadas, depois de ter desobedecido a uma ordem de retirada.

Rezam as crónicas que, a 9 de Abril, uma força portuguesa se viu atacada pelos alemães. A força chegou a ser destroçada, a situação era “a pior possível”. Muitos portugueses foram mortos e os sobreviventes obrigados a retirar. O soldado Milhais terá permanecido sozinho. Correu entre os vários abrigos, disparando de diferentes posições e criando a ilusão, nas tropas alemãs, de que a posição estava a ser guardada por vários militares.

À quarta ofensiva, os soldados alemães decidiram contornar aquele ponto e deixaram o português para trás das linhas inimigas, onde sobreviveu durante uns dias, com umas amêndoas doces no bolso, até encontrar um oficial escocês que o ajudou a encontrar o batalhão português. Foi esse mesmo oficial que relatou, depois, o ato heroico do soldado.

E foi assim, em plena I Guerra Mundial que o soldado português alcançou a fama, na Batalha de La Lys, em abril de 1918. A bravura do franzino e pequeno Aníbal, com pouco mais de um metro e meio de altura, valeu-lhe a Torre e Espada – a mais alta condecoração militar portuguesa – entre outras distinções.

O epíteto “Milhões” nasceu com um elogio do seu comandante, Ferreira do Amaral: “Tu és Milhais, mas vales milhões”.

O militar morreu aos 75 anos, em Valongo, a aldeia que adotou o nome de Milhais em sua homenagem.

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  • Cidadao
    08 abr, 2018 Lisboa 16:15
    É um dos poucos que merece honras, pois La Lys - uma das maiores derrotas e humilhações militares deste País - foi um trauma que só foi curado com a morte ao longo dos anos, dos que viveram esse dia fatídico fosse nas trincheiras ou aqui, e com o desinteresse e "incultura" que grassa por aí. Porque quem se der ao trabalho de se informar dos antecedentes, da envolvente, e da batalha em si, vai dar de caras com coisas abomináveis e perguntar-se "como foi possivel?", ou " que tinham aqueles tipos na cabeça?" .

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