09 mar, 2018 - 13:53
Para além de Francisco Sarsfield Cabral, especialista da Renascença em Assuntos Europeus, o Visto de Bruxelas contou esta semana com a presença em estúdio do eurodeputado José Manuel Fernandes, coordenador do PPE na Comissão do Orçamento em Estrasburgo, porque estamos a poucos dias da votação da proposta de um novo quadro financeiro que prevê o aumento da contribuição dos Estados para o orçamento comunitário.
Esta foi uma semana preenchida, com avisos da Comissão Europeia a Portugal. O país deixa o conjunto de Estados em desequilíbrio económico excessivo, mas continua a haver riscos e Valdis Dombrovskis pede reformas ambiciosas para corrigir os desequilíbrios ainda existentes.
Noutro plano, Donald Trump passa das intenções aos actos e assinou mesmo o decreto que abre a guerra comercial por causa das importações de aço e alumínio. Enquanto isso, Bruxelas - através da comissária do Comércio - garante que está tudo preparado para defender os interesses dos trabalhadores europeus.
Esta é também a semana imediatamente a seguir às eleições que abrem uma enorme incerteza quanto ao futuro político em Itália. Numa altura em que, vale a pena lembrar, ainda não há um Governo em funções na Alemanha, meio ano depois das eleições Legislativas. Estamos a falar de dois Estados preponderantes na construção europeia, duas economias-chave para a produção de riqueza da União e a isto soma-se a incerteza permanente quanto ao Brexit.
No caso particular de Itália, a vitória dos partidos anti-sistema e populistas conduz a um cenário de incerteza e de ingovernabilidade no país. O tema foi debatido esta semana numa conferência na Fundação Calouste Gulbenkian. Em Lisboa discutiu-se como fortalecer a democracia na Europa. O primeiro vice-presidente da comissão Frans Timmermans defendeu que a Europa precisa de reinventar a coragem civil e a consciência cívica.
Numa altura em que os nacionalismos vão ganhando terreno na Europa, mas também na Rússia e nos Estados Unidos, Frans Timmermans avisa que “a democracia é cultura”. É, por isso, necessário reinventar alguns conceitos e perceber que o cidadão está contra o sistema. E é por isso que se vota nos partidos extremistas.
O primeiro vice-presidente da Comissão Europeia defende que a resposta a esta situação tem de ser pela manifestação de dar opinião e mostrar que a diversidade é a maior riqueza da sociedade. Frans Timmermans aponta as culpas aos líderes europeus, que esqueceram a educação cívica dos cidadãos e que os trataram durante décadas como meros clientes, como consumidores.
Nesta conferência esteve também o antigo Primeiro-ministro italiano, Enrico Letta, presidente do instituto Jacques Delors e reitor da Universidade de Ciência Política de Paris tem uma certeza: “as elites são as principais responsáveis por fenómenos como o Brexit e a vitória de Trump nos Estados Unidos”. No entanto, Letta garante que é possível haver crescimento, bem-estar, desenvolvimento sustentável, mas apenas com uma democracia plena e completa. E é preciso que se perceba que não há alternativa entre estes dois pontos.