08 mar, 2018 - 16:40
Quatro ex-jogadores do Oriental de Lisboa receberam 7.500 euros, cada, para perderem com o Penafiel, em 2015/16, segundo revelou, esta quinta-feira, um inspetor da Polícia Judiciária (PJ), em tribunal, a propósito do processo "Jogo Duplo", que está relacionado com viciação de resultados no futebol, adianta a agência Lusa.
O julgamento conta com 27 arguidos, oito deles antigos jogadores do Oriental, além de ex-jogadores da Oliveirense, do Penafiel e do Académico de Viseu. Também estão implicados dirigentes desportivos, empresários, um elemento de uma claque e outras pessoas com ligações ao negócio das apostas desportivas.
Uma denúncia, duas partidas
Na segunda sessão do julgamento, que decorre em Lisboa, o coordenador da investigação criminal da PJ contou ao coletivo de juízes que a sua secção recebeu, a 27 de abril de 2016, uma denúncia de que o jogo Oriental-Leixões, que ocorrera três dias antes, "tinha sido manipulado" e que o Penafiel-Oriental, da jornada seguinte da II Liga, realizado a 30 de abril, "também teria sido manipulado".
A denúncia deu origem a inquérito crime e a partida entre Penafiel e Oriental foi o primeiro jogo de futebol da II Liga a ser monitorizado e vigiado pela PJ, no âmbito do processo "Jogo Duplo".
Ainda segundo o inspetor, nas escutas telefónicas, entretanto autorizadas, foi possível apurar que o arguido e ex-jogador do Oriental Diego Tavares transmitiu aos arguidos Carlos Silva, com a alcunha "Aranha" e pertencente à claque Super Dragões, e Gustavo Oliveira, empresário, ambos intermediários de investidores da Malásia, que jogadores estavam "dispostos a perder o jogo".
Esses jogadores eram Rafael Veloso (guarda-redes), Diego Tavares, João Pedro Carvalho e André Almeida, todos titulares nesse desafio, que, segundo o inspetor da PJ, receberam, cada um, 7.500 euros, para que facilitassem a derrota do Oriental. Ficou combinado um encontro, para o dia do jogo, entre Carlos Silva, Gustavo Oliveira e os quatro jogadores, no hotel onde se encontrava a equipa do Oriental, no norte de Portugal. Perante essa informação, os inspetores da PJ alugaram o quarto que ficava ao lado daquele que tinha sido alugado para a reunião.
Perder as duas partes e o todo
O coordenador da PJ explicou que ficou acordado entre todos que o Oriental tinha de perder nas duas partes do jogo, já que havia apostas para ambos resultados parciais. Ao intervalo, a equipa lisboeta perdia por 2-1. O resultado final fixou-se nos 4-2, ou seja, houve novo parcial de 2-1 no segundo tempo, cumprindo o desejo dos arguidos.
Durante a segunda parte, quando o resultado estava em 3-2, Diego Tavares, entretanto substituído, dirigiu-se ao balneário e perguntou, por mensagem, a Carlos Silva se o resultado de 3-2 chegava, contou o responsável pela investigação. O outro arguido respondeu-lhe que tinham de sofrer mais um golo, para também perderem na etapa complementar.
"Após os 80 minutos, o Oriental sofre mais um golo, numa má intervenção do guarda-redes Rafael Veloso", descreveu o coordenador da PJ, acrescentando que os arguidos receberam, mais tarde, num hotel de Lisboa, o resto dos 7.500 euros acordados.
Através das escutas telefónicas, explicou o inspetor da PJ, foi possível depreender que o esquema de manipulação de resultados da II Liga já vinha da "época anterior" e que era para manter "na época seguinte", conforme a vontade manifestada pelos dois investidores malaios, que se deslocaram, por várias vezes, a Portugal, para se reunirem, em Lisboa, com os intermediários e arguidos Carlos Silva e Gustavo Oliveira. Muitas das conversações entre os arguidos foram efetuadas pela aplicação de mensagens WhatsApp, que, à data, não era decifrável pelas autoridades.
30 milhões de tentações
Além do Oriental-Leixões e do Penafiel-Oriental, o coordenador da investigação abordou outros jogos da II Liga, envolvendo, nomeadamente, Oriental, Leixões e Oliveirense, entre outros, onde houve combinação de resultados ou tentativas. Alguns dos jogadores arguidos no processo apostavam, paralelamente, no Placard, por terem conhecimento prévio de qual seria o resultado.
Carlos Silva, conhecido como "Aranha" e elemento da claque Super Dragões, Gustavo Oliveira, empresário, e Diego Tavares, ex-jogador do Oriental, continuam sujeitos à medida de coação de prisão domiciliária.
Em causa, estão crimes de associação criminosa em competição desportiva, corrupção ativa e passiva em competição desportiva e apostas desportivas à cota de base territorial fraudulentas.
O inspetor da PJ revelou que um jogo da II Liga, em Portugal movimenta, em média, a nível mundial, cerca de 30 milhões de euros.