28 fev, 2018 - 11:13 • Liliana Carona
Os padres da Guarda estão longe dos atributos técnicos das equipas do Alto Minho que contam com oito vitórias em 12 edições da “Clericus Cup”, o torneio anual de futsal para membros do clero. Mas em campo dão sempre o seu melhor.
Vêm de todos os cantos da diocese da Guarda. Chegam às 19h em ponto ao pavilhão desportivo do Instituto São Miguel, na Guarda. Abrem o porta bagagens dos carros e retiram os sacos que hão de permitir trocar a batina pelo equipamento de futsal.
Já em campo, um padre toca com a mão na bola. Está aberta a discussão. Se é penalty, nem os padres, jogadores da bola perdoam. Mas por aqui são poucos os desentendimentos em campo, garante o técnico Paulo Gomes, que aos 51 anos, treina todas as semanas a equipa da diocese da Guarda, com muito gosto. “Com eles, sou o treinador mais feliz do mundo, claro que sou, é gente espetacular, pedem desculpa, é diferente. Não é por acaso que dois anos seguidos ganharam o prémio fairplay nos torneios”, recorda, ao mesmo tempo que valoriza o dia-a-dia difícil dos sacerdotes, “este é o momento deles se abstraírem do resto, depois jantamos e cada um vai para sua casa”, conta.
Um dos mais novos, e segundo os colegas o mais forte em campo, é o padre Rafael Neves, 32 anos, de Santa Marinha, concelho de Seia. Faz a deslocação para o Instituto São Miguel na Guarda, todas as semanas, para jogar à bola. “Não sou o mais forte, sou o que tem menos barriga”, brinca o padre que acaba por admitir que jogar à bola é “uma espécie de carregar as baterias da vida paroquial e uma forma de partilhar as experiências”.
“Os problemas que experimentamos são transversais às vidas uns dos outros e partilhados são mais facilmente resolvidos”, acrescenta.
O padre Rafael saiu entretanto, lesionado por uma bolada na cara que o fez sangrar do nariz. É imediatamente substituído pelo padre Ricardo Fonseca, de 37 anos, do concelho de Pinhel. Conhecido por passar rasteiras, apontam os colegas. Será verdade? “Não sei do que fala, eles andam a ver futebol a mais, deve ser do vídeo árbitro”, graceja.
O guarda-redes, o padre Carlos Sousa, 49 anos, do concelho de Seia, está lesionado, e quase que coxeia atrás das bolas, mas recusa deixar a baliza. “É para ver se me faz bem à saúde, não é sacrifício nenhum, é para libertar a mente e andar mais livre”, confidencia.
Na bancada ficam outros lesionados, como o padre Carlos Lourenço, de 53 anos, que veio de Belmonte, só para assistir. “Estou mal dos joelhos, alguns anos a jogar sem cuidados médicos agora não se pode jogar mais, só vejo”, lamenta.
Bruno Lopes, 26 anos, de Penamacor é o padre mais novo da equipa, mas nem por isso é o que joga melhor. “Gosto de vir aqui pelo convívio e é só mesmo aqui que faço exercício”, explica, justificando assim a deslocação semanal ao pavilhão desportivo.
A confirmar o fairplay desta equipa, está o capitão, o padre Joaquim Martins, 45 anos, pároco de Penamacor. Joga à defesa? “Faço o possível nesta idade. Ser padre é uma vocação e temos de fazer o melhor, tal como no futebol, só que aqui é uma vez por semana, padre é 24 horas por dia”, sorri.
Os padres da diocese da Guarda, jogam habitualmente contra uma equipa de leigos. O ministro extraordinário da comunhão, Rogério Elvas, 57 anos, funcionário na câmara de Belmonte, não queria ter outros adversários em campo. “Tive conhecimento através do pároco de Belmonte, e gosto muito de jogar com os padres, o convívio é excelente, faz bem à saúde e para quem está sentado à secretária todo o dia, isto liberta o stress”.
Já perto do apito final os padres, que segundo dizem estão a ganhar por 15-0, sofrem um golo. “Finalmente marcaram um, que nós oferecemos”, explica o Padre Rafael.
O futsal é uma modalidade em que os padres portugueses estão bem cotados, sendo tricampeões europeus, com um total de quatro títulos ganhos.