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Ganham mais mas vivem como pobres para pagar os créditos

28 fev, 2018 - 07:45

É o retrato das famílias portuguesas feito pela Deco. Relatório mostra que as penhoras já são a segunda causa de endividamento.

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Com um rendimento médio mensal de 1.200 euros, mas com encargos no valor de 850 por mês, a taxa de esforço das famílias portuguesas é de 70,8%. Ou seja, “70% do rendimento é absorvido pelas prestações do crédito”.

Os números referem-se a 2017 e constam do boletim estatístico do gabinete de apoio aos sobreendividados (GAS) da associação para a defesa do consumidor Deco, cuja coordenadora esteve na Manhã da Renascença.

O que se verifica é que, apesar de terem rendimentos e “não estarem em situação de pobreza, [estas famílias] têm os mesmos problemas que uma família em situação de pobreza”, destaca Natália Nunes.

Analisando o boletim da Deco, verifica-se que, apesar da recuperação económica do país, a “situação do sobreendividamento não está melhor”, refere a responsável da Deco.

Depois do período mais crítico (entre 2011 e 2013 e com este ano a bater o recorde de processos no GAS), verifica-se um pequeno decréscimo no número de créditos e na taxa de esforço das famílias, mas os números voltaram a aumentar no ano passado.

Pela primeira vez, o valor médio dos créditos de cada família que recorreu à Deco para pedir apoio, ultrapassou os 100 mil euros. O crédito à habitação é o que pesa mais, seguido do crédito automóvel.

Em média, cada família tem cinco créditos, o mesmo número que em 2016, mas menos do que em 2008 e 2009, anos em que a média era de sete créditos.

Em 2017, a associação recebeu 29 mil pedidos de ajuda – menos cerca de 2% do que no ano anterior, mas o valor em dívida aumentou.

“A situação não está melhor, porque continua a haver uma grande diferença entre o número de famílias que conseguimos ajudar e as que pedem ajuda”, sublinha Natália Nunes, acrescentando que a associação só conseguiu ajudar 2.422 agregados.

Isto “tem a ver com a capacidade financeira das famílias de resolver os problemas”, explica. E para isso conta muito o número de créditos existente.

No boletim relativo ao ano passado, destaca-se a subida das penhoras e execuções para o segundo lugar das causas para o sobreendividamento (16%, mais 2% do que em 2016).

A primeira causa continua a ser o desemprego, que afeta 32% das famílias que recorreram à ajuda da Deco.

Comentários
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  • Eborense
    28 fev, 2018 Évora 21:49
    A carneirada não aprendeu e então quer repetir. Depois vem o Estado cortar no meu salário e no de outros, que nada temos a ver com endividamento destes irresponsáveis.
  • Vasco
    28 fev, 2018 Santarém 21:31
    O filme começa a estar à vista, de novo mais incitamento ao crédito e o poder de compra mantém-se ou até possivelmente vai diminuindo pois o custo de vida ultrapassa os escassos aumentos de salários ou pensões, portanto será uma questão de tempo e brevemente teremos de novo famílias que infelizmente pouco pensam antes de agir a ficarem endividadas e penhoradas.
  • Nuno Alves
    28 fev, 2018 Lisbone 18:18
    A leitura óbvia - descontando a propaganda constante desta associação junto dos meios de comunicação social - é simples: a sua eficácia é próxima de zero - resolve menos de 1% das questões que lhe são apresentadas. Factos são factos. Um assunto interessante: é a DECO eficaz na análise e solução das inúmeras questões que lhe são apresentadas? A resposta é não. Mas nas ações de marketiing e propaganda sim, é muito eficaz!
  • Filipe
    28 fev, 2018 évora 14:29
    O filme é mesmo esse criado pelo Estado , meter mais euros no bolso das pessoas para depois essas pessoas se endividarem até mais não e dar imagem lá fora que a Economia está a crescer em Portugal , quando o que cresce é as dívidas e sorte tem Portugal em a taxa de juro da habitação permitir isso mesmo , deixem a mesma aumentar para valores positivo se querem ver a quantidade de crédito mal parado a aparecer em cada segundo .
  • DR XICO
    28 fev, 2018 LISBOA 14:24
    Cada vez se ganha pior em Portugal, as empresas estão com lucros fabulosos e continuam a explorar os empregados, falo: Imobiliárias, hipermercados, fabricas ligadas ao calçado, roupa, moveis, automóveis. hotelaria e restauração etc, estão a bater recordes de vendas todos os dias e os desgraçados a ganhar os minimos dos minimos. O PS que se junte mas é aos partidos que sempre o tem apoiado esquerda e faça uma politica de esquerda
  • André
    28 fev, 2018 Lisboa 12:51
    O problema é que a maioria das pessoas não sabe NADA sobre economia. Estudantes universitários que tiram licenciaturas e tem 6 cartões de crédito, mais crédito à habitação, mais crédito para o automóvel, mais crédito para a viagem de férias, mais crédito para uma escapadinha, mais crédito para uma viagem festiva, mais crédito para organizar uma festa de anos, mais crédito para festejar a compra de uma televisão... Segundo um estudo feito em 2017, mesmo com limitações pesadas, cada português obtêm 78200 créditos nos 73 anos de vida. 79,6% do rendimento da sua vida é usado para pagar créditos e mais de meio milhão de euros em juros e comissões. Mas, o pior sinal é que quem está mais endividado são os que estão entre os 36 e 50 anos de idade. Portanto, a situação ainda vai piorar mais...
  • Rui
    28 fev, 2018 Lisboa 12:32
    Explicação fácil porque os portugueses foram endividar-se perante o FMI e a troika para irem dar aos bancos e companhia os mesmos que logo a seguir lhes tiraram igualmente tudo o que lhes restava em vez de se terem indivídado para pagar as suas dívidas.
  • Ora bem!
    28 fev, 2018 dequalquerlado 12:20
    Mas então estas pessoas desempregadas, preferem viver na miséria e recorrer à deco e não querem trabalhar? Era a pergunta que fazia ao sr ferraz da costa. Cada vez mais se deixa de se ter dinheiro para se fazer face às despesas e ter uma vida digna. Basta só as despesas com a casa, pagar renda ou para casa própria e pagar todas as despesas, as pessoas não se safam, ainda para mais com esta mentalidade tuga de que se deve pagar aos trabalhadores o minimo possível e anda com a instabilidade por ser serviço temporário, acrescentando aos congelamentos, como podem as pessoas sobreviver de forma decente? Cada vez o trabalho é mais escasso, talvez pelas máquinas que substituem as pessoas ou por falta de empresas, ou mesmo pela exploração das que existem, ou ainda por aquelas que não conseguem competir, que são fracas e que estão sujeitas a qualquer altura de fecharem, ou por muitos motivos, como ainda com toda esta corrupção, a nível de todos os sectores é claro que este país nunca mais sai da lama. Por este andar qualquer dia passamos a ser um país de gente faminta como os famintos de áfrica. Já não falta daqueles que vão aos caixotes de lixo. E mais grave ainda é o estado que têm sido fantoche do poder econômico e que adopta a mesma precariedade. As câmaras estão cheias de precários a serviço temporário, até tem gente do rendimento minimo a fazer 4 horas diárias para ganhar mais uns míseros 100 euros.
  • Pedro Alexandre
    28 fev, 2018 Porto 11:16
    Toda a minha vida achei que uma penhora era uma consequência directa do sobreendividamento e não a causa... Parece que a ordem se inverteu.. Agora primeiro somos penhorados e só depois é que nos sobreendividamos... Vá-se la entender este país...

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