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Edgar, preso no Linhó: "O padre Dâmaso transformou-me"

23 fev, 2018 - 12:58 • Pedro Mesquita

Edgar, recluso do Estabelecimento Prisional do Linhó, diz à Renascença que Dâmaso Lambers "era aquela pessoa de quem toda a gente precisa". Memórias de um detido que ganhou, vai fazer 10 anos, "um amigo" que fez dele outra pessoa.

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Edgar está preso desde 2008, no Estabelecimento Prisional do Linhó. Foi ali que conheceu o padre Dâmaso Lambers, falecido na quinta-feira.

Em entrevista à Renascença, Edgar recorda as palavras de preocupação e incentivo que sempre escutou do padre Dâmaso.

De Dâmaso Lambers, Edgar guarda a imagem de um amigo preocupado e atento, que o acompanhou no pátio da prisão e o consolou nas horas mais difíceis, ajudando-o a aproximar-se da Igreja e ajudando-o a preparar-se para um regresso tranquilo à vida em sociedade.

Edgar diz que, com a ajuda do padre Dâmaso, sofreu uma grande transformação interior e é hoje um homem diferente.

Como conheceu o padre Dâmaso, aí, no Linhó?

Já estou neste estabelecimento desde 2008. No inicio, quando cheguei, conheci o padre Dâmaso, como a pessoa que nos acompanhava pelo pátio. Estava sempre presente. Vinha ter connosco ao pátio e dava-nos uma palavra amiga. Queria saber se precisávamos de algum consolo.

Depois, tornou-se num amigo...

Sim, obviamente. Desde aí tornou-se num amigo. Era aquela pessoa que víamos como um símbolo da Igreja e de quem toda a gente precisa. Em 2015, aconteceu uma situação comigo, em que fui parar ao hospital. Desde aí, houve colegas que me incentivaram a acompanhar a Igreja, estar lá com o Padre Dâmaso, todos os sábados, em que ele nos dava a palavra amiga, a Palavra de Deus, que nós sempre gostávamos de ouvir, não é? Ele estava sempre preocupado com os reclusos, a tentar saber o que se passa, se precisávamos de alguma coisa, se corria tudo bem no estabelecimento prisional, etc.

Falavam da condição de recluso. Havia outros temas de conversa?

Sim, havia. Também nos informava do estado da sociedade e do que ele achava que devíamos ser., da importância de nos prepararmos para a sociedade, de nos tornarmos pessoas melhores. Todos nós praticamos um crime, é por isso que estamos presos, mas ele sempre nos incentivou a mudarmos a forma de pensar e de estar, porque a vida tem coisas mais belas, como o sol, como a família, como estar livre, como estar em casa, como acompanhar a Igreja ou olhar uma criança a sorrir.

Sentir-se-á mais forte para quando deixar o estabelecimento prisional, também graças a essa ajuda que recebeu do padre Dâmaso?

Sim. Foi uma transformação total comigo. Eu era uma pessoa sempre em conflitos com colegas e com guardas. Desde que conheci o padre Dâmaso e comecei a sentar-me ali, naquele culto, a ouvir a Palavra, que o padre Dâmaso me transformou. O padre Dâmaso transformou-me. Posso dizer que sou, agora, uma pessoa diferente.


O corpo do padre Dâmaso estará em câmara ardente na Igreja de Nossa Senhora do Amparo de Benfica, a partir das 16h00 de sexta-feira, dia em que haverá duas missas de corpo presente: às 17h30 e às 19h15. No sábado, haverá missa às 9h00 e, às 10h30, haverá nova missa presidida pelo cardeal patriarca de Lisboa. D. Manuel Clemente.

A seguir, o corpo sairá da Igreja de Nossa Senhora do Amparo, em Benfica para a casa mortuária de Alcabideche. As 16h30 vai à prisão do Linhó. Pelas 18h00, será cremado no cemitério de Alcabideche.

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