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Morreu Billy Graham, o Pastor da América

21 fev, 2018 - 19:26 • Filipe d'Avillez

Pregou em 185 países, em seis continentes e embora nunca tenha visitado Portugal não deixou de influenciar os evangélicos portugueses.

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Morreu esta quarta-feira, aos 99 anos, o pastor americano Billy Graham.

Com uma legião de milhões de seguidores, Graham era unanimemente considerado a figura religiosa mais influente dos Estados Unidos tendo servido de conselheiro a várias figuras políticas, incluindo uma mão cheia de Presidentes. A sua influência levou a que fosse apelidado de "Pastor da América".

A ascensão de Billy Graham deveu-se em grande medida às suas “cruzadas” que o levaram aos seis continentes. Ao longo de cinco décadas, Graham encabeçou 417 cruzadas, visitando 185 países, incluindo locais inóspitos como a China e a União Soviética.

Portugal nunca chegou a estar no roteiro das suas cruzadas, mas visitou pelo menos duas vezes. O pastor batista Tiago Cavaco, cujo ministério passa em larga medida por promover encontros entre a pequena comunidade evangélica portuguesa e a cultura mais alargada, refere como grande contributo precisamente essa capacidade de Billy Graham.

“O início do século XX entre evangélicos na América foi muito marcado pela questão da oposição entre fundamentalismo e liberalismo. Uma das coisas boas que o fundamentalismo teve, na minha opinião, é que resistiu, teologicamente ao liberalismo. Mas um dos efeitos negativos é que em grande parte os evangélicos em termos culturais entrincheiraram-se nos EUA e o fundamentalismo tornou-se um movimento muito fechado em si mesmo”, explica.

“Ora o Billy Graham promove o contrário daquilo que o fundamentalismo tinha vindo a fazer, promove o envolvimento dos evangélicos com a cultura, até mais tarde com a política. Ajudou que os evangélicos não estivessem em guetos religiosos mas que tivessem uma intervenção cultural, social e política”, sublinha.

Limpinho, limpinho

Um dos fatores que contribuiu para a fama do pastor foi precisamente o facto se ter mantido sempre afastado de escândalos. Juntamente com outros líderes da sua organização, a Billy Graham Evangelistic Association, comprometeu-se a nunca estar a sós com outra mulher que não a sua esposa. Quando um jornal americano denunciou o facto de a organização ter uma conta secreta com perto de 23 milhões de dólares, que não revelava com medo que as pessoas considerassem que era demasiado rica, Graham tomou a iniciativa de agradecer ao jornal e abrir as contas ao escrutínio público.

A carreira de Graham começou precisamente numa época de grandes divisões raciais nos Estados Unidos, mas o pastor batista nunca aceitou a segregação nos seus eventos, mesmo nos estados em que isso era habitual, e foi uma das vozes que denunciou publicamente o apartheid na África do Sul.

Evitava envolver-se em política partidária, mas a sua influência na retaguarda era sobejamente conhecida e convivia frequentemente com líderes políticos.

Um pouco contra a corrente para um batista como era Graham, o pastor sempre cultivou amizades com líderes de outras confissões cristãs. Era amigo de João Paulo II e não criticava o catolicismo. Nas suas cruzadas noutros países não procurava captar fiéis para a sua própria igreja, exortando-os a irem ter com as suas igrejas locais e recusava pregar sem antes obter luz verde dos líderes cristãos dos países ou cidades em que se encontrava.

Também este foi um dos grandes contributos de Graham para o meio evangélico, diz Tiago Cavaco. “Tendo em conta que os protestantes são melhores a discordar uns dos outros do que a concordar – a reforma é precisamente isso, uma grande divergência, neste caso com a Igreja Católica Romana – o Billy Graham é uma figura absolutamente excecional porque é aquele evangélico que todos os evangélicos referiam. Ele consegue uma coisa mais difícil de acontecer no meio evangélico que é a unanimidade.”

“O Céu está mais rico”

A sua mulher Ruth, que ele invariavelmente apontava como “a cristã mais exemplar que alguma vez conhecera”, morreu em 2007 e desde então o pastor dizia frequentemente que estava ansioso para se poder juntar a ela no Céu.

Deixa cinco filhos, três raparigas e dois rapazes, 19 netos e vários bisnetos. Dois dos seus filhos, Anne e Franklin, seguiram as pegadas do pai no ministério.

Questionada numa entrevista com Larry King, no ano 2000, sobre como reagiria perante a morte do seu pai, Anne respondeu “pela primeira vez na vida poderei dizer que tenho a certeza onde ele está. Estará no Céu, com Jesus”.

Tiago Cavaco não tem dúvidas que é isso mesmo que se passa. “Foi um grande homem, o Céu está mais rico”.

[Notícia actualizada às 21h30 do dia 22 de Fevereiro, corrigindo a informação de que Billy Graham nunca tinha vindo a Portugal. Terá vindo pelo menos duas vezes]

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