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Poluição no Tejo. Culpa foi das indústrias de pasta de papel

31 jan, 2018 - 18:12

A Agência Portuguesa do Ambiente confirma após análises, mas a Celtejo nega responsabilidades.

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O presidente da Agência Portuguesa do Ambiente (APA) revelou esta quarta-feira que a carga poluente que afectou o rio Tejo na zona de Abrantes, a 24 de Janeiro, teve origem nas descargas da indústria da pasta de papel.

"Com base nestas análises efectuadas, e na monitorização e acompanhamento efectuados, se confirma que o acumular da carga orgânica nestas localizações do rio, com origem nas indústrias de pasta de papel localizadas a montante, tem um impacto negativo e significativo na qualidade da água no rio Tejo", afirmou Nuno Lacasta.

O dirigente da APA, que falava na sede do organismo, explicou que a elevada concentração de carga orgânica resultou de uma conjugação de factores, mas que na próxima semana será avaliada a medida de redução de descargas, determinada pelo Ministério do Ambiente, da fábrica da Celtejo.

As análises, divulgadas esta quarta-feira, mostraram que os níveis de celulose – que representam a totalidade da matéria vegetal presente — estavam cinco mil vezes acima dos níveis recomendado.

Manto de espuma "dantesco" cobre Tejo em Abrantes
Manto de espuma "dantesco" cobre Tejo em Abrantes

Apesar de responsabilizar todas as indústrias da pasta de papel a montante das albufeiras de Fratel e Belver e a montante de Abrantes pela situação denunciada no passado dia 24, Nuno Lacasta confirmou que a Celtejo é responsável por 90% das descargas deste tipo de indústrias que chega ao rio naquela região.

Celtejo nega responsabilidades

A Celtejo, fábrica de pasta de papel da Altri, em Vila Velha de Ródão, reitera que é alheia aos recentes fenómenos de poluição no rio Tejo e adiantou que a redução dos efluentes em 50% é inviável.

"A Celtejo é completamente alheia ao que tem surgido [rio Tejo]. Não temos qualquer anomalia ou qualquer descarga e a produção ao longo das últimas semanas tem sido estável", afirmou o director de Qualidade e Ambiente da empresa, Soares Gonçalves.

Este responsável falava à comunicação social após uma vista de apresentação da nova estação de tratamento de águas residuais industriais (ETARI) da empresa, que entrou em funcionamento em 29 de Setembro de 2017 e cujo investimento foi de 12 milhões de euros.

Soares Gonçalves explicou ainda que a nova ETARI utiliza tecnologia de ponta com ultrafiltração por membranas, sendo a mais moderna no país e cuja capacidade dos três reatores é de 36 mil metros cúbicos.

Esta estrutura, além de tratar os efluentes industriais da Celtejo, trata ainda todos os efluentes das queijarias de Vila Velha de Ródão.

Contudo, o emissário dos efluentes é partilhado por três empresas de Vila Velha de Ródão, a própria Celtejo e outras duas, a Navigator e a Paper Prime.

Sofia Jorge, engenheira ligada ao sector ambiental da fábrica, dá conta do impacto económico que as recentes medidas do Governo estão a ter na Celtejo, nomeadamente a redução do caudal de efluentes em 50% durante 10 dias.

"A fábrica não pode continuar nestas condições. Deixa de ser viável se continuar assim", afirmou.

Esta responsável adiantou ainda que não foi dada qualquer justificação para a redução de 50% dos efluentes da fábrica de Vila Velha de Ródão.

"Não estamos aqui para acusar ninguém. Mas muita coisa ao longo do rio [Tejo] deve ser verificada", frisou.

Sofia Jorge sublinhou também que a empresa é aquela que tem a licença ambiental mais restritiva, mas adiantou que a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) é soberana.

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  • José Vilar
    01 fev, 2018 Barreiro 09:30
    Talvez agora o ministro do ambiente venha culpar os depósitos do leito do rio e a falta de chuva! Gostei muito (?) das declarações de um membro do sector
  • armindo silveira
    01 fev, 2018 abrantes 00:15
    Querem ver que agora vão imputar a responsabilidade a quem trabalhando a pasta de papel branqueada pelo Celtejo, envia apenas 10% de efluentes no emissor da referida empresa? Pensem em manter a certificação pois se ela "vai ao ar" então nem as "lágrimas de crocodilo" vos salva!
  • José Marques
    31 jan, 2018 Oeiras 23:16
    Certo. E os caudais vindos de Espanha, têm cumprido ou é mais fácil culpar as celuloses? Transvazes de milhões de metros cúbicos de água para a Andaluzia e Extremadura também têm de entrar na equação, cheguem-se também à frente a atribuir culpas aos comedores de chorizo
  • Direitos defraudados
    31 jan, 2018 Lisboa 23:12
    Como dizia a outro, então este Srs, que ganham millhoes, tem aval para poluir um rio?! para mim, isto é muito dificil de entender, então, quais sao as causas directas desta poluição para população e natureza.A minha fatura da agua, inclui todos uns meses um valor para saneamento, e este valor e mais alto do que o valor sobre o meu consumo de agua, e os destas empresas, o que estes senhores pagam?quem lhes deu direito de poluir um rio, actualizem-se,os nossos recursos naturais, cada vez são mais escassos, vergonha dum pais que não se respeita a ele proprio.Alguem deve ganhar muito com isto!
  • sherek
    31 jan, 2018 santarem 23:10
    eu vou desistir, não vale a pena estar a perder tempo em colocar aqui as nossas opiniões e posições porque desde que elas sejam contrarias ás opiniões da RR elas não são publicadas, era bom que os responsáveis por esta área metessem na cabeça que o tempo do fascismo e do lápis azul e vermelho acabou.
  • João
    31 jan, 2018 Lisboa 22:10
    Queria saber o que é que todos os Ministros do Ambiente andaram a fazer nestes últimos anos, para o Ri Tejo estar nesta situação de catástrofe. O Rio Tejo e não só, há mais rios e albufeiras por este país fora que estão numa situação miserável. João
  • Jack the knife
    31 jan, 2018 Olhão 21:42
    As industrias de pasta de papel trazem prejuízos de todo o tipo, desde implicações directas ou indeirectas nos fogos florestais, até este tipo de poluição. Quanto aos lucros (do estado, de todos nós, bem entendido) não vejo em que valha a pena deixá-los continuar nas actuais condições.
  • AA
    31 jan, 2018 LX 20:59
    SE FAZ FAVOR PUBLIQUEM O MEU COMENTÁRIO. A RENASCENÇA CONTINUA A CENSURAR. AFINAL 0 25 DE ABRIL É SÓ DA BOCA PARA FORA. ALGUÉM ACREDITA QUE ATÉ ESTE MOMENTO NEM UM COMENTÁRIO TENHA SIDO FEITO A ESTE ARTIGO?
  • Ana
    31 jan, 2018 Lx 20:53
    As indústrias ainda gozam com o governo e com o povo.. Batem o pé, dizem. Que não foram elas, e siga, tudo na mesma.. Haja coragem para fechar estas fábricas já se não respeitarem.. Simples, ganham se alguns desempregados, salvam se. Milhões no ambiente... Coragem... Assim é que não pode continuar.
  • Maria
    31 jan, 2018 Porto 20:13
    Claro que eles têm sempre que dizer que a culpa não é deles. Minha não é certamente!!!! Falta de consciência.

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