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Morreu o cardeal Bernard Law, o primeiro bispo a resignar devido a abusos

20 dez, 2017 - 10:45

Enquanto arcebispo de Boston foi responsável pelo encobrimento de dezenas de casos de abusos sexuais. Resignou em 2002 e foi para Roma, onde permaneceu até morrer, esta quarta-feira, aos 86 anos.

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Morreu esta noite, num hospital em Roma, o cardeal Bernard Francis Law. O arcebispo emérito de Boston tinha 86 anos e estava internado há alguns dias.

O cardeal Law tornou-se, no início deste século, uma das faces mais visíveis do escândalo de abusos sexuais que se abateu sobre a Igreja ao longo das últimas décadas, tendo sido o primeiro bispo a resignar por essa razão.

Sem nunca ter sido acusado de abusos propriamente ditos, o arcebispo de Boston foi acusado de ter encoberto as situações de abuso que ocorreram na sua diocese, mudando padres abusadores de uma paróquia para outra sem nunca ter contactado as autoridades, dando mais prioridade ao evitar escândalos públicos para a Igreja do que proteger os interesses das vítimas de abusos.

Num caso um sacerdote foi acusado de ter abusado de 130 crianças ao longo de várias décadas. O cardeal e outros responsáveis da diocese limitaram-se a mudá-lo de paróquia cada vez que surgia um novo caso.

Uma investigação jornalística acabou por revelar o encobrimento de abusos em Boston despertando outras investigações e revelações em várias partes do mundo, que abalaram a credibilidade da Igreja Católica e levaram o Vaticano a obrigar todas as conferências episcopais a criar orientações para lidar com este tipo de situações, na esperança de evitar que elas se repitam. Nos países em que tal é possível, uma das prioridades é a colaboração estreita com as autoridades civis.

A investigação do jornal “Boston Globe” acabaria por ser adaptada ao cinema no filme “Spotlight”, que venceu um óscar em 2015.

Law resignou ao seu cargo em 2002, tendo sido substituído pelo cardeal Sean O’Malley, que reergueu a diocese em termos financeiros e de reputação, depois de as indemnizações pagas pela Igreja a terem deixado na bancarrota.

Dois anos mais tarde João Paulo II nomeou Law arcipreste da Basílica de Santa Maria Maior, em Roma. Mas a mudança e a decisão do Papa foram fortemente criticadas na imprensa e pela opinião pública, sobretudo nos Estados Unidos.

Ao contrário de outros prelados em casos posteriores, o Cardeal Law nunca foi formalmente acusado de ter cometido crimes, uma vez que no Estado de Massachusetts a lei que obrigava à denúncia de crimes de abuso sexual só tinha sido alterada para incluir clérigos em 2002, já depois de o caso ter sido conhecido.

Há seis anos Law resignou como arcipreste da Basílica de Santa Maria Maior, mas continuou a viver em Roma, visitando pontualmente os Estados Unidos.

Um legado com muitas dimensões

Numa nota divulgada pela arquidiocese de Boston, o cardeal O’Malley reconhece que a morte do seu antecessor desperta nos fiéis uma grande variedade de emoções, destacando aqueles que sofreram ou sofrem ainda com as feridas dos crimes de abusos, a quem pede novamente perdão.

Contudo, o cardeal faz questão de referir que a vida do Cardeal Law não se resume à forma falhou na situação dos abusos sexuais.

“A triste realidade é que para muitos a vida e o ministério do Cardeal Law ficaram identificados com uma realidade esmagadora, a crise dos abusos sexuais cometidos por padres. Este facto não deixa de ser triste porque o seu legado pastoral tinha muitas outras dimensões. No início da sua actividade sacerdotal no Mississippi, o Cardeal Law esteve profundamente envolvido na luta pelos direitos civis no nosso país. Mais tarde, serviu na arquidiocese e a nível nacional, como líder do movimento ecuménico e inter-religioso no seguimento do Concílio Vaticano II, desenvolvendo laços fortes de colaboração com as comunidades greco-ortodoxas e judaicas de Boston.”

“Era conhecido por visitar os doentes, os moribundos e os enlutados, a qualquer hora do dia ou da noite, um ministério que abrangia os ricos e os pobres, os jovens e os idosos e pessoas de todas as fés. Tinha também uma atenção especial no seu ministério para com os imigrantes e suas famílias”, conclui o cardeal O’Malley.

Também o Vaticano já reagiu formalmente, publicando um telegrama em que o Papa diz ter tomado conhecimento da morte de Law, expressando as suas condolências ao Colégio dos Cardeais e rezando pelo "repouso da sua alma, que o Senhor, que é rico em misericórdia, o acolha na sua paz eterna".

[Notícia actualizada às 13h32 com a reacção do Vaticano]

[Notícia actualizada às 11h56 com a reacção da arquidiocese de Boston]

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  • João Lopes
    20 dez, 2017 Viseu 18:11
    O título da notícia está muito mal feito! Deveria haver mais cuidado!

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