29 dez, 2011
Foi um ano de revoluções, começando pelas do mundo árabe, incendiadas pela mecha que foi a imolação pelo fogo de um jovem vendedor de flores tunisino perseguido pela insuportável burocracia dos militares de Ben Ali. A revolução de jasmim na Tunísia alastrou ao mundo árabe e a região mudou a sua face.
Começou com a queda de Ben Ali, estendeu-se ao Egipto onde milhões de jovens sem futuro exigiu a destituição de Hosni Mubarak.
Um movimento que não se podia prever, que não se podia organizar senão tratar-se-ia de uma revolução ideológica com líderes bem definidos – são revoltas orgânicas que alguns analistas compararam com as revoltas dos escravos, mas em versão século XXI.
O contágio chegou ao Golfo Pérsico, à monarquia do Bahrein, colocou fim a 30 anos de presidencialismo absoluto no Iémen.
O final mais trágico e sangrento viveu-se na Líbia de Muammar Al Kadaffi. Depois de oito meses de bombas da NATO e de guerra civil, o ditador Kadaffi foi barbaramente executado, uma execução que em Outubro coincidia com a realização de eleições livres na Tunísia.
Já o esmagar da revolta com os Al Assad na Síria vem sublinhar a linha ténue entre rebelião e guerra civil. Apesar do estado de negação face à realidade, o melhor exemplo é do presidente sírio, o que ficou claro é que nenhum ditador, por mais forte que possa parecer, está já a salvo.
São enormes os desafios que se colocam a estes países envolvidos na chamada Primavera Árabe, mas a verdade é que se levantaram todos por um motivo, a falta de liberdade, donde se o marco comum para construir o futuro for a democracia, não há razão para perder a esperança.
Mas claro, as revoltas que derrubaram, entre outros com Kadaffi não se estão a desenrolar sem problemas como resulta do caso do Egipto. Trata-se, isso sim, de um processo completamente em aberto.
2011 também foi um ano especial pelo desaparecimento do número um do terror internacional. Osama Bin Laden, o maior perigo do extremismo islâmico para o Ocidente caía ao mesmo tempo que ditadores imprevisíveis.
O 10º aniversário dos maiores atentados terroristas da história, o 11 de Setembro, já se podia celebrar sem a ameaça do seu principal autor moral. O terror em 2011 teve outra cara que não a de Osama Bin Laden.
A face do terror foi um desconhecido norueguês que fez explodir a sede do governo e disparou sobre jovens numa reunião de Verão. Ficou demonstrado que o terror pode ter vários rostos e não sempre de rasgos faciais típicos do Médio Oriente.
Mais um processo em aberto, tanto como a crise financeira da União Europeia que deixou a Grécia, Irlanda e Portugal sob ajuda externa e a Itália e a Espanha seriamente afectadas.
Grécia e Itália inauguraram também uma nova tendência a de governos “técnicos” nas mãos de antigos altos funcionários de organismos financeiros internacionais não eleitos nas urnas.
Pela primeira vez admitiu-se que o euro estava em perigo e discutiu-se o futuro da moeda única. Apesar das cimeiras os juros das dívidas públicas na zona euro continuam nas nuvens.
Também se falou da guerra do dólar ao euro, porque enquanto a economia norte-americana desperta a europeia avança para a recessão.
Foi também o ano dos graves motins de Londres onde os distúrbios de adolescentes suburbanos deixou milhões de prejuízos, mas não pode ser enquadrada, à primeira, na vaga de protestos dos indignados à escala mundial.
No Brasil, o ano começou com a passagem do poder de Lula a Dilma Rousseff e continuou com Cristina Kirchner a renovar a presidência, na Argentina.
Na actualidade em 2011 continuou a revolução na internet, iniciada em 2010 com o site Wikileaks, com alguns a defender ter sido um factor, mais um, a impulsionar as revoltas árabes.
O ano acaba com os protestos dos russos a poucos meses das presidenciais que devem recolocar Putin no Kremlin, com os Palestinianos a conseguir um lugar na Unesco, mas com o processo de paz com Israel num impasse.
Mas o final de 2011 deu-nos também imagens de grande esperança como a de três mulheres lutadoras que, há poucos dias atrás, recebiam o Prémio Nobel da Paz.
A partir do resumo de 2011 ficaram já desenhados alguns desafios para 2012 a aprofundar, nesta emissão, com Bernardo Pires de Lima, investigador do IPRI, Instituto Português de Relações Internacionais da Universidade Nova de Lisboa e analista residente deste Edição Internacional.