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Arcebispo de Braga

PAG - D. Jorge Ortiga pede agenda social “urgente”

21 abr, 2014 • Marta Grosso

Arcebispo de Braga lavou os pés a 12 pessoas, entre elas ex-reclusos, desempregados e licenciados à procura do primeiro emprego.

O Arcebispo de Braga, D. Jorge Ortiga, pediu, na homilia da Missa Crismal, na Sé de Braga, que não se perca tempo a discutir se se deve ou não reestruturar a dívida pública e se dê prioridade a uma agenda social que é urgente.

“Hoje fala-se muito do problema da dívida externa, do resgate financeiro do país, de renegociar ou reestruturar para deixar de depender do financiamento estrangeiro. Não me compete entrar na confusão de tantas opiniões que, na verdade, a todos vão confundindo. Penso, porém, ser imperioso e urgente dar prioridade a uma agenda social que comprometa a todos, através de resposta concertada em todos os domínios, mas isto não é tarefa dos políticos e dos partidos, isto é compromisso dos cristãos”, disse D. Jorge.

Antes, da homilia, o Arcebispo de Braga lavou os pés a 12 pessoas, entre elas, ex-reclusos, desempregados e licenciados à procura do primeiro emprego, rostos de uma realidade social próxima de todos.

“Essas mesmas pessoas nestas situações ou em tantas outras podem porventura estar ao lado de nossa casa ou quem sabe ser colegas do vosso trabalho”, lembrou D. Jorge Ortiga.

 “A morte de Cristo convida-nos a amar a vida”

Na Sexta-feira Santa, na homilia que proferiu durante a Celebração da Paixão, D. Jorge partiu dos desafios diários da vida, que nos conduzem à condição humana, para sublinhar que Deus não se esquece dos mais fracos e que Cristo nos convida a amar a vida.

“Sim, há coisas maravilhosas, mas a vida ultrapassa-as a todas”, afirmou. “A vida humana é um dom de Deus confiado à responsabilidade humana. É um valor inviolável que deve ser sempre defendido, em todas as circunstâncias”, prosseguiu, baseando-se na Exortação Apostólica “Evangelii Gaudium”.

“As circunstâncias de que é revestida são proclamação de direitos de uma dignidade que devia ser inquestionável, mas que nem sempre o é. Os sinais de morte parecem prevalecer, mas a morte de Cristo convida-nos a amar a vida. A nossa e a dos outros, dos nascituros e dos moribundos”, sublinhou D. Jorge Ortiga.

O arcebispo considera “alarmante” a descida da taxa de natalidade. “Mas, mais do que isso, precisamos de olhar para aquilo que se semeia hoje nas escolas, na comunicação social e nos diálogos entre amigos. Precisamos de uma inversão de marcha a fim de evitar o fim do país”, o que “só uma cultura da vida conseguirá”, afirmou.

Lembrando Jesus Cristo na Cruz, D. Jorge Ortiga disse que não se trata de uma “demonstração de violência, sofrimento e morte, mas de uma mensagem de amor, de um amor mais forte do que a morte. Cristo é muito mais do que um herói de Hollywood”, sublinhou ainda.

 Serei eu capaz?

A homilia de D. Jorge Ortiga começou com uma exposição de alguns desafios diários que se nos colocam.

“Serei eu capaz de aguentar o dia de trabalho? Serei eu capaz de pagar o crédito que me falta? Serei eu capaz de recuperar daquela desilusão familiar? De acreditar neste país? De corrigir os meus defeitos? De cuidar daquele meu familiar que me está confiado? De, enquanto pai ou mãe, proporcionar aos meus filhos o futuro que merecem? De perdoar àquele vizinho que me odeia e me difama? De arranjar emprego? De recuperar desta doença que me fragiliza? Serei eu celebrar a minha fé cristã com autenticidade?”, enumerou.

D. Jorge recordou também Cristo, que uma vez pregado na Cruz “curiosamente apenas reza todo o salmo 22, que também começa com uma pergunta: ‘Meu Deus, meu Deus porque me abandonaste?'”.

Mas, salientou o Arcebispo de Braga, “sabemos que Ele morreu por uma causa em que acreditou".

D. Jorge Ortiga viajou, depois, até 2005, para lembrar a última aparição pública do Papa João Paulo II numa janela do Vaticano.

“Aquele jovem Papa, desportista, comunicador, animador de massas, viajante e cheio de energia estava agora ali, acabado, no limiar das suas forças físicas, dependente de uma cadeira de rodas, afectado por uma grave doença de Parkinson, com um ar sofredor e já sem conseguir falar. Mesmo assim, fez questão de aparecer à janela naquela manhã de domingo apenas para se expor, para mostrar o seu sofrimento, as suas feridas, a sua derrota, mas também a sua fé”, descreveu o arcebispo de Braga.

“De facto, se na sociedade actual só vigora o que é jovem, forte, belo, saudável e o que tem sucesso, esta imagem do Papa sofredor ensina-nos que os mais fracos, os doentes, paraplégicos, idosos, os fracos e os derrotados também são amados por Deus”, concluiu.

Por fim, D. Jorge Ortiga pediu aos fiéis que beijassem a sua Cruz. “É um beijo no qual revemos as nossas próprias feridas e donde reconhecemos que a fé não expressa o medo da morte, mas antes o desejo da vida. A fé não expressa o medo da morte ou das doenças ou dos problemas, mas antes o desejo da vida”, reafirmou.

“Que a fé esteja em tudo e acima de tudo”, apelou, por fim.