A crise, o IMI e o “Estado salteador”
09 jun, 2012 • Marina Pimentel
Há casas a ser reavaliadas com base em “Google Maps”. Aumento do IMI vai deixar muitas famílias na falência em 2013, avisam fiscalistas.
Em cinco meses, menos de um quinto dos imóveis urbanos foram avaliados, para actualização do IMI.
Portugal comprometeu-se com a “troika” a avaliar mais de cinco milhões de prédios urbanos adquiridos antes de 2003, para aumentar as receitas com o Imposto Municipal sobre Imóveis. Mas, segundo o próprio Ministério das Finanças, até ao final de Maio, apenas um milhão tinham sido avaliados.
Para acelerar o processo, a Administração Tributária nomeou mais 900 peritos. Segundo o Governo, isso significa que 1.400 avaliadores estão a partir deste mês no terreno.
Esta avaliação em massa de imóveis suscita dúvidas. Há reclamações de que estão a ser feitas avaliações com base em mapas Google.
Pedro Marinho Falcão, um advogado que ainda há pouco tempo ganhou um processo contra o Fisco, por falta de fundamentação de uma factura de IMI, fala em falta de seriedade. “Fazer a avaliação por elementos meramente documentais, através dos Google Maps, ou dos elementos fornecidos pela Câmara Municipal é um erro que pode inquinar a objectividade e mais, a seriedade, com que se faz a avaliação.”
A factura desta reavaliação de imóveis adquiridos antes de 2003 só será apresentada para o ano aos portugueses. O fiscalista Tiago Caiado Guerreiro diz por isso que em 2013 o número de famílias insolventes vai aumentar muito: “Depois de 30 anos a estimular a propriedade, de repente inverte-se todo o processo e penaliza-se extraordinariamente a propriedade. Isto vai desequilibrar de certeza muitas famílias que vão entrar em ‘default’ e criar uma crise no mercado imobiliário gravíssima”.
Esperam-se por isso mais famílias falidas para o ano, por causa do IMI. Um assalto ao bolso dos portugueses, feito pelo próprio Estado, segundo o advogado Luís Fábrica: “Quando o Estado se comporta como um salteador, não pode esperar que os contribuintes se comportem de outra maneira”.
A classe média paga a crise, os ricos, esses têm por onde fugir: “Os ricos não precisam de se preocupar porque constituem um fundo de investimento imobiliário que está isento quer de IMI quer de IMT”, explica Tiago Caiado Guerreiro.
O Em Nome da Lei é transmitido na Renascença aos sábados depois do noticiário das 12h00.