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“Mataram e roubaram, mas não nos conseguiram separar de Jesus”

17 out, 2012 • Filipe d’Avillez

O arcebispo do Estado de Orissa recorda a perseguição anticristã que ocorreu naquele Estado e realça a importância do perdão manifestado pelas vítimas.  

“Mataram e roubaram, mas não nos conseguiram separar de Jesus”
Foi em 2008 que ocorreu uma das piores perseguições anticristãs da história recente. No Estado de Orissa, na Índia centenas de pessoas foram mortas e dezenas de milhares tiveram de abandonar as suas casas. Os episódios foram motivados por ódio religioso, mas não só, explica o arcebispo John Barwa, de Cuttack-Bhubaneswar, no Estado de Orissa.
Foi em 2008 que ocorreu uma das piores perseguições anticristãs da história recente. No Estado de Orissa, na Índia centenas de pessoas foram mortas e dezenas de milhares tiveram de abandonar as suas casas.

Os episódios foram motivados por ódio religioso, mas não só, explica o arcebispo John Barwa, de Cuttack-Bhubaneswar, no Estado de Orissa.

“Os cristãos de Orissa pertencem aos estratos mais baixos da sociedade, os tribais e os intocáveis. São aqueles que normalmente servem todos os outros, mas quando os missionários chegaram, perceberam que eram quem mais precisava de ajuda. Por isso ajudaram com educação, saúde, desenvolvimento e eles começaram a subir na vida e a abandonar os seus trabalhos tradicionais. Este é o problema principal, porque os cristãos aceitam todos como iguais, como filhos de Deus e isso é complicado para alguns”, diz o arcebispo, que é também de uma família tribal, em declarações à Renascença

Sempre houve pressão, tanto social como legislativa, para que a Igreja abandonasse esses esforços, mas foi recusada: “Podemos deixar de trabalhar com eles? A nossa vocação enquanto seguidores de Cristo é trabalhar com estas pessoas, os perdidos, os menores e últimos da sociedade.”

Em 2008 o assassinato de um importante líder hindu foi o suficiente para desencadear uma terrível purga contra os cristãos, não obstante o facto de o atentado ter sido reivindicado por terroristas maoistas. “Foi aí que começaram os piores ataques, e foram terríveis. Quase 60 mil pessoas tiveram que fugir, porque não queríamos reagir, e mais de seis mil casas foram destruídas. Mais de 350 conventos e igrejas foram destruídos e queimados.”

O arcebispo John Barwa, que agora tem 57 anos, era na altura bispo coadjutor de outra diocese, mas teve familiares directamente atingidos pela violência, a começar pela sua sobrinha, uma freira que foi atacada e violada por um grupo de extremistas.

Somos pessoas de perdão
Quatro anos mais tarde a situação parece ter-se normalizado, mas falta fazer-se justiça, afirma o líder da Igreja local, sobretudo a nível de compensações para os mais afectados. No que diz respeito a condenações, explica, várias pessoas foram presas, mas os principais líderes escaparam à prisão seja por falta de vontade política, seja porque as vítimas tiveram medo de testemunhar.

No rescaldo da violência, contudo, o arcebispo considera que foi a reacção dos cristãos à perseguição que causou maior impressão e impacto: “Nunca ouvimos falar de cristãos que tenham reagido e contra-atacado. Pelo contrário, a maioria das pessoas que tomou parte nos ataques veio pedir perdão e sem hesitação nós dissemos: Somos pessoas de perdão. Perdoamos tudo o que nos fizeram e queremos construir uma terra de paz, onde possamos viver juntos. Isto foi o que mais os surpreendeu. Todos nós, mesmo que não consigamos esquecer as coisas terríveis que aconteceram, perdoamos.”

O arcebispo John Barwa insiste que apenas uma pequena minoria dos seus compatriotas hindus abraça ideais extremistas. Mas para esses a comunidade cristã tem uma mensagem clara: “Tentaram separar-nos de Jesus. Mataram a nossa gente, destruíram a nossa propriedade, danificaram tudo, mas não conseguiram ferir a nossa relação com Jesus. Esta é a mensagem mais forte, que se está a tornar mais alta e clara, e isso significa que estamos a crescer na fé.”

De visita a Portugal, a convite da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre, o arcebispo tem partilhado a história da sua comunidade em vários locais e faz também um pedido aos europeus: “Enquanto comunidades cristãs que não sofreram este tipo de perseguição, percebam que isto existe. E peço também à União Europeia que tenha uma voz mais alta e mais clara em defesa de quem sofre de injustiças e perseguição, seja em Orissa ou em qualquer outro lado”.