Movimento Fé e Luz
“A fé é uma coisa que ultrapassa a dimensão intelectual”
22 abr, 2012 • Filipe d’Avillez
Movimento Fé e Luz dá um apoio fantástico na inserção de pessoas deficientes nas comunidades, diz D. Carlos Azevedo.
D. Carlos Azevedo, bispo português que trabalha em Roma, como delegado do Conselho Pontifício da Cultura, considera que a Igreja tem muito trabalho a fazer para melhorar a sua resposta à integração de deficientes nas suas comunidades,
Enquanto foi pároco de Nossa Senhora da Conceição, no Porto, D. Carlos trabalhou de perto com o movimento Fé e Luz, que age nesta área. “Dá um apoio fantástico para as famílias que têm filhos com deficiência, porque os insere na comunidade”, recorda.
Contudo, admite o bispo, o processo de integração nem sempre é fácil: “Muitos pais sentem-se isolados e têm, até, alguma dificuldade em levar os filhos, porque são irrequietos e barulhentos. A comunidade já tem pouca capacidade para acolher as crianças normais, quanto mais quando quem produz estas atitudes e não tem a consciência de que está a perturbar nem pode ser reprimido”.
Os pais não deviam, todavia, hesitar em envolver-se, porque ficarão a ganhar com isso: “É um grande benefício para os pais, que se sentem com tanto trabalho e, às vezes, estão tão sozinhos nesta missão tão difícil de acolher e dar o maior carinho possível a estas pessoas que, da comunidade cristã, merecem muito mais cuidado e um trabalho pastoral mais dinâmico”.
Esta dinâmica, segundo Carlos Azevedo, traz grandes benefícios para os deficientes, ou “amigos especiais”, como são conhecidos no movimento, mas proporciona também vantagens para a paróquia. “A própria comunidade cristã sente o benefício de ter uma comunidade de Fé e Luz, porque nas celebrações traz alegria e há uma forma inocente e muito jubilosa de celebrar. Acaba por trazer para as paróquias uma forma muito humana e evangélica de acolher aqueles amigos especiais”, diz o bispo.
"E nós, que percebemos da fé?"
Apesar de todo o trabalho que o movimento Fé e Luz desenvolve neste campo, há 40 anos, ainda existem situações complicadas e de incompreensão por parte da hierarquia da Igreja. Não é raro, por exemplo, os deficientes verem-lhes recusado o acesso aos sacramentos.
Trata-se de um impedimento que não tem qualquer razão de ser, afirma D. Carlos Azevedo. O que pode ser necessário é adaptar a catequese às necessidades específicas, adianta: “Na paróquia de Nossa Senhora da Conceição tinha mesmo uma catequista especialmente preparada para os acompanhar e preparar, para poderem ser integrados nos sacramentos de iniciação. Às vezes dá mais preguiça pastoral em preparar e encontrar pessoas para acompanhar e fazer um itinerário que tem de ser individual, personalizado quando há poucos casos, para preparar as pessoas para poderem receber os sacramentos.”
O argumento de que os deficientes mentais não têm capacidade para compreender a dimensão dos sacramentos não tem qualquer validade teológica, continua o bispo: “Nós que somos adultos o que é que percebemos do mistério da fé, do ponto de vista intelectual? A Fé é uma coisa que ultrapassa a dimensão intelectual, não é apenas a dimensão mental que deve estar em jogo. Estas pessoas não devem ser de maneira nenhuma ser excluídas da comunidade e da participação da vida da comunidade, no acesso aos sacramentos.”
Integrado nas comemorações do seu 40º aniversário, a Fé e Luz promove uma peregrinação a Fátima. No Domingo dia 29, às 14h30, haverá uma conferência para a qual são convidados todos os que possam ter interesse em conhecer melhor este movimento.