À primeira vista poderá parecer demasiado complexo falar de fé às pessoas que o nosso mundo classifica de “especiais”, em particular quando as pessoas em questão têm maior dificuldade em absorver conceitos que não se vêem, mas sentem-se.
Mas a espiritualidade consegue ultrapassar as barreiras mais improváveis. O ponto de partida é quase sempre a amizade e uma linguagem um bocadinho mais acessível, como explica José Carlos Carvalho, da Comunidade Fé e Luz, na paróquia de Nossa Senhora da Conceição, no Porto.
“Vimos dar-lhes a nossa amizade, a fé, damos-lhes a oportunidade de se exprimirem, de tentarem expressar como olham Jesus, como gostam de viver a fé, e daí o relevo que se dá ao canto, à dança, aos gestos, porque tem de ser uma linguagem mais acessível”, explica.
Nestas comunidades estes “amigos especiais” podem viver tudo isto e muito mais. Por vezes o mais complicado é conseguir que as famílias assumam o problema e os tragam para os encontros.
“Às vezes há vergonha das pessoas de fora conhecerem o filho deficiente. O nosso grande trabalho é descobrir onde eles estão, há famílias que não querem expor publicamente o deficiente, mas estão a prejudica-los. A comunidade fica mais rica e eles também se enriquecem com o ambiente de comunhão. Estar numa assembleia, ser acolhido, poder cantar e estar a ver pessoas ao lado da mesma idade é importante para eles, e para a comunidade também.”
Somos surpreendidos por reflexões que às vezes nem nos ocorrem a nós. Estávamos a preparar a Sexta-feira Santa quando o Pedro Eurico disse simplesmente que entendia tudo o que estava ali, porque Jesus amava muito as pessoas e por isso não se tinha importado de morrer por elas, tão simples como isto”.
Pedro Eurico tem 42 anos e há muitos que participa na comunidade Fé e Luz. A trissomia XXI que o distingue não o impede de ver Jesus como um irmão: “Tenho amigos jovens, amigos especiais e Jesus. Para mim Jesus é como um irmão. Sei falar com ele, e falo com Nossa Senhora também. Tenho um rádio que uso para ouvir o terço”.
O testemunho é confirmado pela sua mãe, que descreve como Pedro mudou desde que descobriu esta comunidade. “O meu filho mudou muito, mudou completamente, teve catequese, tivemos uma especial para eles, fizeram a primeira comunhão, o crisma”.
No final deste mês muitos destes “amigos especiais” partem para Fátima em peregrinação, um evento integrado nos 40 anos do movimento, que nasceu em França. No último dia, domingo 28 de Abril, haverá uma conferência aberta ao público e para o qual estão convidados todos os que gostariam de aprender mais sobre este movimento.
Mais informações neste e-mail