Bento XVI celebrou esta manhã em Roma uma missa na presença dos novos cardeais que ontem foram criados. Durante a homilia o Papa comparou a Igreja a uma janela que aproxima os homens de Deus.
Recorrendo à arquitectura da Basílica de São Pedro, mais especificamente o altar e a “Cátedra de Pedro”, cuja solenidade é hoje assinalada, para ilustrar o seu ponto, Bento XVI explicou que a Igreja não é um ponto de chegada, mas deve apontar para além de si mesma.
“A própria Igreja é como que uma janela, o lugar onde Deus Se faz próximo, vem ao encontro do nosso mundo. A Igreja não existe para si mesma, não é o ponto de chegada, mas deve apontar para além de si, para o alto, acima de nós. A Igreja é verdadeiramente o que deve ser, na medida em que deixa transparecer o Outro – com o "O" grande – do qual provém e para o qual conduz”, disse o Papa.
Sob esta perspectiva a Igreja tem a função de abrir o mundo para que possa receber a luz de Deus: “A Igreja é o lugar onde Deus ‘chega’ a nós e de onde nós ‘partimos’ para Ele; a este mundo que tende a fechar-se em si próprio, a Igreja tem a missão de o abrir para além de si mesmo e levar-lhe a luz que vem do Alto e sem a qual se tornaria inabitável.”
Hoje a Igreja celebra a solenidade da Cátedra de Pedro, na qual se recorda de forma especial o ministério especial que Jesus confiou a Pedro constituindo-o primeiro de entre os apóstolos. Normalmente o dia é assinalado a 22 de Fevereiro, mas uma vez que este ano esse dia coincide com a Quarta-feira de cinzas, a solenidade foi antecipada para hoje.
Por essa razão o Papa debruçou-se, na sua homilia, em grande parte sobre a importância do ministério de Pedro, de quem é sucessor, e o seu papel na Igreja enquanto bispo de Roma. Para melhor explicar o conceito de Pedro enquanto rocha sobre a qual Jesus ergueu a Igreja, Bento XVI estabeleceu um paralelo com Abraão.
“Pode ajudar-nos um texto rabínico onde se afirma: ‘O Senhor disse: ‘Como posso criar o mundo, sabendo que hão-de surgir estes sem-Deus que se revoltarão contra Mim?’ Mas, quando Deus viu que devia nascer Abraão, disse: ‘Vê! Encontrei uma rocha, sobre a qual posso construir e assentar o mundo’. Por isso, Ele chamou Abraão uma rocha’. O profeta Isaías alude a isto mesmo, quando recorda ao povo: ‘Considerai a rocha de que fostes talhados (…). Olhai para Abraão, vosso pai’ (51, 1-2). Pela sua fé, Abraão, o pai dos crentes, é visto como a rocha que sustenta a criação”, explicou o Papa.
“Simão, o primeiro que confessou Jesus como o Cristo e também a primeira testemunha da ressurreição, torna-se agora, com a sua fé renovada, a rocha que se opõe às forças destruidoras do mal”, concluiu.
Bento XVI referiu-se ainda directamente aos novos cardeais quando lhes disse que o novo cargo que agora ocupam é não só um reconhecimento dos seus méritos, mas também uma homenagem às comunidades de onde vêm: “A nova dignidade que vos foi conferida pretende manifestar o apreço pelo vosso trabalho fiel na vinha do Senhor, homenagear as comunidades e nações donde provindes e de que sois dignos representantes na Igreja, investir-vos de novas e mais importantes responsabilidades eclesiais e, enfim, pedir-vos um suplemento de disponibilidade para Cristo e para a comunidade cristã inteira”.
Com esta missa encerra-se o Consistório que ontem teve início e durante o qual foram criados 22 novos cardeais. Entre estes conta-se o português D. Manuel Monteiro de Castro, que desempenha a função de penitenciário-mor no Vaticano.
Leia aqui a homilia de Bento XVI na íntegra