20 jan, 2012 • Filipe d'Avillez
Os cristãos podem ser pró-Israel e pró-Palestina, garante o Arcebispo de Liverpool.
Monsenhor Patrick Kelly regressou esta semana de uma viagem à Terra Santa. Trata-se de uma iniciativa recorrente, que tem por objectivo mostrar solidariedade com a Igreja local.
“Estes encontros foram estabelecidos há cerca de 12 anos pela Santa Sé. A ideia inicial era que os presidentes das conferências episcopais, ou um representante, dos países que tiveram um papel político no estabelecimento da Terra Santa como é actualmente, se pudessem juntar lá para apoiar a Igreja local”, explica.
A ideia é encorajar os cristãos da Terra Santa a cumprir um duplo papel: “Queremos apoiar a Igreja em duas funções, o seu esforço para nunca ficar calada diante da injustiça, venha ela de onde vier, e também o de ser sempre uma Igreja que procura a reconciliação.”
Ao longo dos anos o contingente tem-se deparado com o problema da diminuição da população cristã na terra onde a religião nasceu. Há uma série de factores que contribuem para esta realidade, explica o arcebispo de Liverpool: “Eles sentem muito, sobretudo em locais como Belém, que vivem quase como prisioneiros, tais são as restrições à liberdade de movimentação. No nosso comunicado final usámos o termo ‘estado de ocupação’”, afirma.
A Igreja é reconhecida pelo papel que desenvolve no campo da educação, mas mesmo isso acaba por alimentar a emigração: “Por razões que compreendo bem, sendo filho de um imigrante económico da Irlanda para a Inglaterra, a educação muitas vezes abre portas de saída para países onde existe outra liberdade e mais espaço”.
Este não é o único paralelo que monsenhor Patrick Kelly encontra entre a situação na Terra Santa e a Irlanda dos seus antepassados. Sobre as recentes cenas de pancadaria que tiveram lugar na Igreja da Natividade, opondo monges de diferentes confissões cristãs, o arcebispo lamenta mas encontra uma explicação.
“É complexo. Conhecendo bem a história da Irlanda sei que onde há sofrimento e um sentimento de injustiça o comportamento pode correr muito mal. É muito difícil levar uma vida normal num contexto em que pesam tantos factores sobre nós. Claro que é tentador dizer que isto não se devia passar, mas se eu vivesse naquela realidade todos os dias é natural que proferisse palavras ou actos que lamentaria mais tarde”, considera.
Apesar do cenário difícil que encontra todos os anos que vai à Terra Santa, Monsenhor Patrick Kelly não deixa de viver com esperança, e recorda as palavras de Paulo VI, o primeiro Papa que visitou Israel como peregrino: “Ele declarou: ‘Se querem paz, procurem a justiça’, tenho a certeza que se houver justiça para estes dois povos, que vivem três formas diferentes de seguir a Deus, então haverá paz e as comunidades terão mais esperança para o futuro.”
O arcebispo recorda que existe uma posição do Vaticano sobre esta região e diz que não é preciso tomar partidos: “A Santa Sé é a favor de uma solução de dois Estados. No nosso comunicado final mencionamos que não é preciso escolher entre ser pró-Israel ou pró-Palestina. Para haver paz para ambos os povos tem de haver justiça para todos.”