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Síria

“Já foram mortos mais de 200 cristãos na área de Homs”, acusa freira

10 jan, 2012

Carmelita na Síria luta em duas frentes, criticando o regime mas também a imprensa internacional por glorificar a oposição.

“Já foram mortos mais de 200 cristãos na área de Homs”, acusa freira
Mais de duzentos cristãos já perderam a vida durante os conflitos na Síria, só na área de Homs, acusa uma freira carmelita residente no país.

A madre Agnès-Mariam de la Croix está na difícil posição de tentar dar a conhecer a verdade sobre o conflito que atinge aquele país, algo que já a levou a ser acusada tanto pelo regime como pela oposição de estar a tomar partido por um ou outro.

A freira carmelita, responsável por um convento a cerca de 90 quilómetros de Damasco, aponta o dedo ao regime pelas detenções, agressões e assassinatos perpetrados contra manifestantes e também pela discriminação que os feridos encaram nos hospitais públicos. Contudo, também não revela grande simpatia pela oposição, que acusa de manipular números e de tentar incitar lutas entre as diferentes confissões religiosas do país.

“Começámos a notar que durante manifestações pacíficas havia uma quinta coluna a disparar sobre ambos os lados. Os ataques atingiam alternadamente os sunitas e os alauítas [seita minoritária islâmica, próxima do regime, a que pertence a família Assad], para intensificar o ódio, tal como se fez no Iraque entre sunitas e xiítas”, explica.

Outro exemplo disso é a morte de mais de 200 cristãos na zona de Homs. Segundo a freira: “Estes não foram crimes de natureza confessional mas actos cínicos, com o objectivo de desencorajar os cristãos de se manterem neutros no conflito”.

Fundamentalismo islâmico
A madre Agnès-Mariam fala ainda do perigo da revolta estar a cair nas mãos de extremistas islâmicos, e explica que é por essa razão que os cristãos já não participam nas manifestações: “Os cristãos deixaram de ir às manifestações quando as reuniões se começaram a realizar em mesquitas e quando surgiram slogans islâmicos”, explica, em declarações à agência AsiaNews.

Outra queixa desta religiosa prende-se com a manipulação da informação que chega ao exterior. Ela tem-se esforçado por encontrar números reais de mortos e feridos, mas é complicado. “O número de vítimas é difícil de averiguar, mas os valores apresentados pelo Observatório Sírio dos Direitos Humanos [baseado em Londres e anti-regime] podem ser manipulados. Por exemplo, recentemente o observatório falou de 30 mortos embora fontes credíveis dos hospitais tivessem dado o nome de apenas três”.

A dada altura tentou contactar directamente o observatório para conseguir uma lista dos nomes das alegadas vítimas até ao momento, mas foi-lhe recusada.

A imprensa internacional também participa nesta manipulação acusa Agnès-Mariam, e dá um exemplo em que a al-Jazeera mostrou uma mulher com uma criança morta nos braços. Segundo o jornalista ela estaria a acusar as forças da ordem de matar a criança. “Nós conhecemos esta mulher. É sobrinha de um pedreiro que trabalha no convento. O que ela disse, de facto, foi ‘Se as forças de segurança tivessem estado aqui o meu filho não teria sido morto’”.

A freira carmelita considera que as vítimas deviam ser todas contabilizadas e todos os atentados aos direitos humanos condenados, mas lamenta que nesta altura só se aponte os crimes do governo e não da oposição. Não nega, contudo, a brutalidade do regime, sobretudo dos serviços secretos que espancam pessoas para obter confissões, verdadeiras ou falsas. Depois disso não há nada a fazer: “fecha-se o circulo. Depois de confessar a vítima é esquecida indefinidamente na prisão. Ninguém se atreve a perguntar por ela”, explica.

Segundo dados da ONU, que não podem ser confirmados independentemente, os conflitos na Síria já causaram cerca de cinco mil mortos desde que começaram, há quase um ano.

Esta manhã o presidente Bashar Al-Assad fez um discurso à nação em que prometeu “punho de ferro” para esmagar os “terroristas” que ameaçam o regime.