Segregação revela fracturas entre judeus ortodoxos em Israel
30 dez, 2011
Vários rabinos da ala ortodoxa nacionalista em Israel condenam a segregação entre homens e mulheres imposta em alguns bairros ultra-ortodoxos.
Os casos de segregação entre homens e mulheres em alguns bairros de maioria ultra-ortodoxa continuam a motivar muito debate em Israel.
Na passada semana assistiram-se a manifestações anti-segregação por parte de movimentos secularistas e a motins por parte de ultra-ortodoxos, ou haredim, quando as autoridades tentaram remover sinalizações que obrigavam mulheres e homens a andar em passeios separados, por exemplo.
O caso ganhou notoriedade com a história de uma menina de oito anos que era constantemente cuspida e insultada quando passava numa rua de haredis a caminho da escola por, alegadamente, não envergar roupa suficientemente modesta.
Nos mesmos bairros já houve casos de mulheres expulsas de autocarros públicos por se recusarem a sentar-se nas filas de trás.
Agora, porém, fica claro que a divisão social não é só entre religiosos e seculares, mas também entre os haredim e a ala religiosa nacionalista. Vários rabinos da ala nacionalista criticam severamente as medidas dos haredim hoje, nas páginas do Jerusalem Post.
O rabino Eliezer Melamed, por exemplo, afirma que a segregação prejudica a vida familiar: “De acordo com estes princípios um homem não se pode sentar junto da sua mulher, um pai não se pode sentar ao lado da filha e uma mãe não se pode sentar ao lado do filho”.
As medidas, que Melamed considera “novas invenções” que não têm lugar na história do judaísmo, procuram criar uma separação total entre os homens e as mulheres, supostamente para evitar tentações, mas têm o efeito contrário. Assim, sempre que se dá um encontro, este torna-se um momento de potencial tentação para o homem.
Divisões entre os fiéis De acordo com outro rabino e ex-deputado, Yehuda Gilad, a segregação ofende tanto homens como mulheres: “Tentar cortar todo o contacto com mulheres subverte a nossa humanidade em relação à nossa sexualidade e diz-nos que somos incapazes de encarar o sexo oposto como humano. Significa que os homens não conseguem olhar para mulheres sem as ver como objecto sexual, o que é que isso nos diz sobre os homens?”, explica.
As afirmações hoje publicadas revelam as grandes divisões que existem entre os dois campos de judeus ortodoxos. Por um lado existem os haredim que procuram viver estritamente segundo a sua leitura das leis religiosas. Rejeitam o serviço militar, do qual são isentos, e em muitos casos são anti-sionistas, considerando a existência de um Estado de Israel antes da vinda do messias como uma heresia.
Do outro lado existem os nacionalistas religiosos, que participam activamente nas forças armadas, constituindo até 40% dos novos recrutas e oficiais no exército, e defendem vigorosamente os colonatos e o direito do Estado a ocupar todo o território “bíblico” de Israel.