O Papa Francisco elevou a sua voz esta quinta-feira contra a cultura do descarte que deixa de lado os pobres, os idosos e os que são considerados indignos.
Na primeira missa que celebrou na Bolívia, onde chegou na noite de quarta-feira, Francisco usou como base o Evangelho da multiplicação dos pães para exortar os fiéis a atacar a pobreza e a exclusão através da partilha.
"Perante muitas situações de fome no mundo, podemos dizer: ‘Os números não batem certo; não podemos resolver a conta’. É impossível enfrentar estas situações. Então, o desespero acaba por apoderar-se do coração."
"Jesus retoma a palava para nos dizer: Não é necessário irem embora; dai-lhes vós mesmos de comer", disse Francisco. "É um convite que hoje ressoa fortemente para nós: ‘Não é necessário mandar ninguém embora, basta de descartes; dai-lhes vós mesmos de comer’. Jesus continua a dizer-nos nesta praça: Sim, basta de descartes; dai-lhes vós mesmos de comer. O olhar de Jesus não aceita uma lógica, uma perspectiva que sempre ‘corta o fio’ pelo ponto mais frágil, mais necessitado."
Esta é a atitude que os cristãos devem adoptar contra a "lógica do mundo" que "pretende deixar espaço para muito poucos, descartando todos aqueles que não ‘produzem’, que não são considerados aptos ou dignos".
Esta lógica, explicou ainda o Papa, resulta de um "coração desesperado", que por sua vez é fruto das dificuldades da vida. "Quantas vezes vivemos situações que pretendem anestesiar-nos a memória e, deste modo, debilita-se a esperança e, pouco a pouco, perdem-se os motivos de alegria. E começa a apoderar-se de nós uma tristeza que nos torna individualistas, que nos faz perder a memória de povo amado, de povo escolhido. E esta perda desagrega-nos, faz com que nos fechemos aos outros, especialmente aos mais pobres."
Três gestos Ainda sobre o acto de Jesus na passagem da multiplicação dos pães, Francisco realçou três gestos. Jesus "toma" o pão, "bendiz" e depois "entrega". O Papa desenvolveu cada um destes pontos, sublinhando que, ao tomar o pão, Jesus "fixa-os nos olhos e, nestes, conhece a sua vida, os seus sentimentos. Vê, naquele olhar, o que pulsa e o que deixou de pulsar na memória e no coração do seu povo. Considera-o e valoriza-o."
"Aquele acto de bendizer tem esta dupla perspectiva: por um lado, agradecer e, por outro, transformar. É reconhecer que a vida é sempre um dom, um presente que, colocado nas mãos de Deus, adquire uma força de multiplicação. O nosso Pai não nos tira nada, multiplica tudo", diz ainda o Papa.
Por fim, com a entrega, "podemos imaginar como os pães e os peixes iam passando de mão em mão até chegar aos mais afastados. Jesus consegue gerar uma corrente entre os seus: todos estavam compartilhando o seu, transformando-o em dom para os outros, e foi assim que comeram até ficarem saciados."
A missa do Papa em Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia, marca também o início do V Congresso Eucarístico Boliviano e é um dos pontos altos desta sua visita ao país, que faz parte de uma viagem à América Latina que dura ao todo 10 dias e que já incluiu uma passagem pelo Ecuador. Depois da Bolívia, o Papa vai ainda visitar o Paraguai.
Ainda esta quinta-feira o Papa encontra-se com padres, religiosos e religiosas e, mais ao final do dia, com representantes de movimentos populares.
A Renascença V+ transmite em directo os principais momentos da visita do Papa à América Latina, até domingo. Veja em detalhe o programa das transmissões