Tudo começou como um acto individual de solidariedade para com os cristãos, mas neste momento já são muitos os muçulmanos, em todo o mundo, que abdicaram de alguma coisa para a Quaresma.
Basel Riche, o fundador do movimento #Muslims4Lent, explica que durante anos ele e os seus colegas da Associação de Estudantes Muçulmanos da Universidade de Houston, nos Estados Unidos, convidavam os alunos cristãos a juntarem-se a eles por um dia de jejum de Ramadão.
"No fim do dia, partilhávamos uma grande refeição, falávamos sobre o diálogo inter-religioso e partilhávamos o que temos em comum. Foi uma boa experiência", explica.
Basel chegaria a uma conclusão: "Há muita gente disposta a procurar-nos para compreender a comunidade muçulmana. Entendi que era bom eu estender a mão à comunidade cristã e mostrar que nós também os respeitamos muito."
Foi então que decidiu associar-se à Quaresma cristã: "Fazia-o a nível pessoal. No meu Facebook dizia qual ia ser o meu sacrifício. Mas este ano foi diferente. Criei um grupo, tirei uma fotografia a mim próprio com um cartaz e encorajei os outros a fazer o mesmo. E a coisa pegou."
A iniciativa tornou-se uma tendência e redes sociais como o Facebook, Twitter e o Instagram encheram-se de fotografias de muçulmanos, com cartazes a dizer o que iam sacrificar ao longo destes 40 dias.
Há chocolate, há doces, há hambúrgueres e há refrigerantes. Mas também não faltam críticas, tanto de um lado como do outro.
"Da parte dos cristãos temos pessoas que nos dizem que a Quaresma, verdadeiramente, não tem a ver com isto, com os sacrifícios e que estamos a passar ao lado do essencial. A eles respondo que pode ser bom saber isso do ponto de vista de conhecimento geral, mas que estes sacrifícios que fazemos significam algo e dizem muito a muita gente – os 'tweets' com a 'hashtag'
#Muslims4Lent comprovam-no", diz.
"Do lado muçulmano há uma ideia parecida, há pessoas a dizer que não devíamos partilhar de acções religiosas de outras religiões, que nos devemos dedicar à nossa. Eu respondo que se não fazemos parte da solução, fazemos parte do problema", defende.
"Quer de um lado quer do outro, parece que as críticas vêm de quem simplesmente não quer compreender o que somos e o que queremos. Não se pode agradar a toda a gente, mas haverá sempre quem queira criticar uma coisa que está fora da sua zona de conforto, sem querer tentar compreender", diz.
Quebrar preconceitos O objectivo desta iniciativa não se esgota no diálogo inter-religioso. Para muitos muçulmanos esta é também uma forma de acabar com preconceitos que ainda existem sobre o islão, sobretudo nos Estados Unidos.
"Às vezes, quando as pessoas encaram uma coisa nova, ela pode ser assustadora. Actualmente, nos EUA, algumas pessoas sentem que a comunidade muçulmana é uma coisa imprevisível, que ninguém sabe muito bem quem são. Esse é um dos objectivos, encorajar as pessoas que possam ter essas opiniões a vir falar connosco", afirma.
Basel Riche nasceu nos Estados Unidos, mas é filho de pais da Líbia e da Síria. É por isso com particular dor que vê o que se está a passar no país onde tem as suas raízes, onde permanecem os seus tios e primos e que chegou a conhecer.
A guerra civil na Síria leva-o mesmo a negar-se a assumir a que confissão pertence dentro do islão. "Prefiro só dizer que sou muçulmano. A divisão sectária no islão é uma das manchas da nossa religião. No Alcorão não se fala de confissões."