Evangelização, uma aposta na melhoria das liturgias e um grande investimento na ajuda socio-caritativa, são as três vertentes da nova pastoral que a Igreja portuguesa está apostada aplicar para tentar chegar a mais pessoas.
Sete anos após o "recado" do Papa Bento XVI aos bispos portugueses, durante a sua visita a Roma, entendido por muitos como um “puxão de orelhas”, tenta-se melhorar, não só a imagem, como a própria realidade da Igreja em Portugal.
“O que temos feito é uma pastoral muito mais enraizada na tríplice dimensão de Evangelização - da liturgia, mais vivida e mais séria e, depois, a dimensão mais socio-caritativa. Esta totalidade constitui o cerne de toda a actividade da Igreja em Portugal nos últimos anos”, explica o bispo das Forças Armadas, D. Manuel Linda, que, na terça-feira, em Fátima, preside à reunião da Comissão Episcopal Missão e Nova Evangelização, a que preside.
Em 2007, durante a visita
ad limina, que todas as conferências episcopais realizam a Roma, supostamentede de cinco em cinco anos, os bispos ouviram Bento XVI dizer que “é preciso mudar o estilo de organização da comunidade eclesial portuguesa e a mentalidade dos seus membros para se ter uma Igreja ao ritmo do Concílio Vaticano II”. Disse ainda Ratzinger: “À vista da maré crescente de cristãos não praticantes nas vossas dioceses, talvez valha a pena verificardes a eficácia dos percursos de iniciação actuais”.
Uma das primeiras medidas dos bispos foi encomendar um grande estudo para averiguar da real prática religiosa dos portugueses. Os resultados foram esclarecedores, revelando menos praticantes, uma alienação dos jovens, menos baptismos e menos casamentos.
Em 2013, perante todos estes dados, os bispos discutiram e aprovaram um documento no sentido de “
promover a renovação da pastoral em Portugal”, que inclui diversos pontos e recomendações, incluindo apelos a uma Igreja mais dinâmica e participativa, companheira de viagem dos jovens e próxima da família. Palavras que são mais fáceis de escrever do que pôr em prática, assume D. Manuel Linda.
“Não é por decreto. É exactamente por esta acção que vamos fazendo no dia-a-dia, dos principais agentes da pastoral, que não são só os bispos. Não é numa perspectiva de ‘eu quero, posso e mando’, mas de servir. Não numa perspectiva de uma linguagem abstracta, mas encarnada nas situações existenciais, como diz o Papa Francisco, indo até de encontro às periferias.”
“O nosso trabalho fundamental não é, por decreto, dizer que vamos fazer desta ou daquela maneira, mas é preparar os agentes para esta imersão mais efectiva na realidade como ela é”, explica.
Ajuda que converteNos tempos actuais, devido à crise económica que o país tem atravessado ao longo dos últimos anos, a dimensão socio-caritativa tem tido um peso particularmente importante nesta nova abordagem. D. Manuel sublinha que a Igreja não está neste terreno por interesse próprio, mas por missão, sendo que isso também atrai algumas pessoas.
“Não temos estatísticas, mas é provável e o testemunho de uma ou outra pessoa diz isso mesmo, que de facto não imaginavam uma Igreja servidora como acaba por ser, na realidade. É uma carta de apresentação para a validade de uma Igreja que de facto não é de posse ou de domínio, mas de serviço. Eu próprio sou testemunho de uma pessoa que andava afastada e disse que via agora que a Igreja era de facto fiel ao seu princípio orientador, à sua doutrina, à acção de Jesus Cristo, então disse que queria ser um membro mais vivo desta Igreja", afirma o bispo.
Os efeitos imediatos de esta abordagem que a Igreja procura colocar no terreno não são imediatamente mensuráveis. Será preciso aguardar para ver como é que um novo Papa reage à realidade da Igreja portuguesa, dentro de cerca de um ano, quando os bispos portugueses forem a Roma para a próxima visita
ad limina, em Setembro.