Pastor americano quer devolver beleza à tradição protestante
28 mai, 2014 • Filipe d’Avillez
“A Beleza Salvará o Mundo” é o mais recente livro de Brian Zahnd, que, em conversa com a Renascença, fala também da centralidade do perdão na vida dos cristãos.
As igrejas protestantes foram longe de mais ao despirem as suas liturgias e os seus locais de culto de elementos de beleza, considera o pastor pentecostal Brian Zahnd, que se assume como parte de um movimento que visa restaurar essa beleza.
De visita a Portugal para lançar o seu livro “A Beleza Salvará o Mundo”, editado pela Letras d’Ouro, Zahnd explica o conceito central da sua teoria, cujo título é uma citação do livro “O Idiota”, de Dostoyevsky. “A expressão aparece algumas vezes e foi Solzhenitsyn que disse que não é apenas um enigma, é uma espécie de profecia”, afirma.
“O que eu faço é olhar a fé cristã pelo prisma da beleza. Os gregos falavam da existência do verdadeiro, do bom e do belo. O Cristianismo tem uma longa história de se defender dizendo que é verdadeiro ou que é bom. Daí falarmos de apologética e de ética cristãs. Mas numa era secular, que é desconfiada de qualquer afirmação de verdade absoluta ou de superioridade moral, se abordássemos o Cristianismo pelo lado estético, pelo prisma da beleza?”
Os cristãos europeus podem já estar habituados a igrejas ornadas e a liturgias cuidadas, mas a tradição protestante é mais austera. Austera de mais, considera Zahnd: “Foi longe de mais. Eu seria considerado uma das vozes de um movimento no protestantismo americano que pretende recuperar essa liturgia e, especificamente, a beleza”, afirma.
Mas de que beleza estamos a falar? Zahnd reconhece que o termo pode ser difícil de definir, embora seja daqueles conceitos que todos compreendem quando o vêem, ouvem ou sentem. “A forma é intrínseca à natureza da beleza, por isso as pessoas perguntam qual é a forma do Cristianismo? Eu acho que é o cruciforme, a forma de Cristo crucificado, o que é bizarro, porque na sua origem a crucifixão era uma forma de terror psicológico usado pelos romanos para controlar um povo oprimido. Foi desenvolvido propositadamente para ser hediondo, repulsivo, feio e contudo, de alguma forma, a Cruz foi reapropriada na fé cristã como algo de belo”.
Mas a referência ao cruciforme não diz respeito só ao próprio crucifixo. É toda uma atitude perante a vida, considera Zahnd: “Será que as pessoas se podem colocar no mundo de uma forma que replica o cruciforme e é bela? O Cristianismo tem uma longa história de se apresentar de punho cerrado, testa franzida e dedo a abanar, mas nada disto é belo, é feio. Eu estou a sugerir a possibilidade da nossa postura no mundo, enquanto seguidores de Cristo, ser de braços abertos, a oferecer um abraço e respondendo a todos os males contra nós com as belas palavras: ‘Perdoa-lhes Pai’”.
O perdão é central para os cristãos
O perdão é, precisamente, o tema do primeiro livro de Brian Zahnd, "O Perdão Radical", publicado em Portugal o ano passado pela mesma editora. Nele, o autor defende a centralidade deste conceito para a vida de um cristão.
“Nos Estados Unidos temos as ‘guerras culturais’ em que diferentes grupos lutam pelos seus direitos. Acho que não é assim que queremos apresentar o Evangelho. Não se trata de uma reivindicação de direitos, mas de uma oferta contínua de perdão. Se o Cristianismo não for sobre perdão, não é nada. Mas muitas vezes temo que pareça tratar-se de moralismo, de ralhar, sobre regras, como comportar-se", observa.
Esta atitude de vida deve manter-se, independentemente da forma como o mundo trata os cristãos, diz o autor. “Jesus diz que devemos pegar na nossa Cruz e segui-Lo. E o que é que Ele vai fazer com a Cruz? Não vai para uma cruzada, vai para a sua própria morte e nós temos de estar dispostos a fazer o mesmo. O Cristianismo só faz sentido se Deus ressuscitou Jesus dos mortos. Há alturas em que simplesmente temos de confiar-nos ao Deus que ressuscita os mortos.”