27 mai, 2014 • Aura Miguel, enviada à Terra Santa
O celibato dos padres "não é um dogma de fé", mas sim "uma regra de vida", afirmou o Papa Francisco, esta segunda-feira, durante a viagem de regresso da visita à Terra Santa.
“O celibato não é um dogma de fé. É uma regra de vida que eu aprecio tanto e creio que é um dom para a Igreja”, disse o Papa numa conversa com os jornalistas.
A bordo do avião que transportou a comitiva, Francisco sublinhou que “não sendo um dogma de fé, está sempre em aberto", mas não é uma prioridade imediata. "Neste momento não falamos disto, como programa, pelo menos por agora. Há coisas mais importantes para realizar”, frisou.
"Tolerância zero" ao abuso de crianças
A questão dos abusos sexuais contra crianças cometidos por membros da Igreja Católica contra também foi abordada. O Papa anunciou a realização de uma missa com várias vítimas, que irá decorrer no próximo mês de Junho, e prometeu “tolerância zero” para um crime que apelidou de “horrível”.
"Nos primeiros dias de Junho haverá uma missa em Santa Marta, com seis a oito pessoas abusadas, e depois terei uma reunião com eles e eles com o cardeal Sean O’Malley, presidente da Comissão [Pontifícia para a Protecção de Menores]. Sobre isto, deve-se avançar”, declarou Francisco.
O Papa referiu que "há três bispos sob investigação" e um "já está condenado, falta decidir a pena a aplicar".
"Sobre o abuso de menores, é um crime tão horrível Sabemos que o problema é grave e está por todo o lado, mas a mim, só me interessa a Igreja: um sacerdote que faz isto, trai o corpo do Senhor, porque este sacerdote deve levar este menino, ou menina, este rapaz ou rapariga à santidade; e este, em vez de levar à santidade, abusa deles. Isto é gravíssimo. É como fazer uma missa negra, por exemplo. Em vez de levar a pessoa à santidade, leva-a a um problema que durará toda a vida", sublinhou.
Sínodo das famílias e os divorciados
Nesta longa conversa com os jornalistas, o Papa falou também sobre o Sínodo da Família, que decorre de 5 a 19 de Outubro. Francisco diz ficar entristecido quando se reduz o encontro à questão dos divorciados recasados. O Sínodo não vai servir para debater apenas uma "casuística", mas sim para aprofundar uma questão muito mais complexa do que um mero aspecto relacionado com o casamento, salientou.
“O Sínodo será sobre a família, sobre o problema da família, sobre a riqueza da família. E eu não gostei nada que tantas pessoas – até da Igreja… padres – tenham dito: ‘o sínodo é para dar a comunhão aos divorciados’, como se tudo se reduzisse a uma casuística. E não, a coisa é muito mais ampla; eu não gostaria que se caísse nesta casuística”, referiu.
"Bento XVI abriu a porta dos Papas eméritos"
Questionado se admite um dia resignar ao cargo de chefe da Igreja Católica como fez Bento XVI, Francisco respondeu que ainda não sabe o que vai fazer.
O Papa natural da Argentina, de 77 anos, diz que tomará uma decisão em função do que Deus lhe pedir. Francisco admitiu que Bento XVI abriu uma verdadeira instituição, ou seja, a partir dele passa a haver Papas eméritos e cada Papa deve fazer essa pergunta perante Deus.
“Eu creio que Bento XVI não é um caso esporádico, mas aconteceu que, já sem forças e, honestamente, como homem de fé e tão humilde, tomou esta decisão. Creio que ele é uma instituição. Há 70 anos, quase não existiam bispos eméritos e agora há tantos. O que acontecerá com os Papas eméritos? Creio que devemos olhar para ele como uma instituição. Ele abriu uma porta, a porta dos Papas eméritos, se haverá outros mais, ou não, só Deus sabe, mas esta porta está aberta. E eu creio que um bispo de Roma, um Papa que sinta as suas forças a diminuírem, deve-se confrontar com as mesmas perguntas do Papa Bento”, declarou.