Caminhos da fé levam milhares de peregrinos a pé a Fátima
08 mai, 2014 • Olímpia Mairos
É a fé que os move. São milhares e por estes dias cobrem as estradas em direcção a Fátima, com coletes reflectores ou t-shirts fluorescentes. Jovens, homens, mulheres, repetentes ou iniciantes, todos com o objectivo de chegar ao "Altar do Mundo", independentemente das bolhas nos pés, do cansaço e do esforço financeiro.
Milhares de peregrinos caminham a pé em direcção ao Santuário de Fátima, onde esperam chegar nos próximos dias para as cerimónias de 12 e 13 de Maio. Pelo caminho entoam cânticos, rezam o terço, brincam, convivem, partilham a vida e estreitam laços de amizade.
São várias as razões que os caminhantes apontam para a realização da viagem: o cumprimento de uma promessa, o agradecimento de uma graça recebida, a fé, o convívio, o sacrifício e também o desporto.
Carlos Teixeira, do grupo Além Rio de Vila Real, segue com um grupo de 52 pessoas. É a décima vez que vai em peregrinação a Fátima e vai “pelo gosto de caminhar”, para “agradecer” e “fazer alguns pedidos a Nossa Senhora de Fátima”.
A viagem é longa, são cerca de 300 quilómetros, feitos por etapas de aproximadamente 40 quilómetros que começam de madrugada “para aproveitar o fresquinho”, e a “andar bem” leva sete dias a concretizar.
Uma fé criativa que também “move montanhas”
Os peregrinos de Vila Real dormem em quartéis de bombeiros e pavilhões desportivos e até Viseu têm as refeições gratuitas, asseguradas pelo Movimento Mensagem de Fátima. A partir da cidade de Viriato, as refeições diárias “ficam por conta de cada pessoa”.
Já em Fátima, onde o grupo vai chegar no dia 10, o alojamento e as refeições voltam a ser gratuitas, “ajudas muito importantes”, já que, mesmo assim, “a peregrinação exige algum esforço financeiro” que “neste tempo de crise não é fácil”, refere à Renascença Carlos Teixeira, adiantando que “em média, cada peregrino deve gastar cerca de 300 euros”.
“Para algumas pessoas que vêm connosco não é fácil, mas a fé move montanhas”, frisa o caminheiro, realçando que “é a fé que dá força e coragem para enfrentar os momentos de dificuldade que atravessamos”.
No grupo segue o casal Liliana, técnica de arquitectura, e Paulo Ribalonga, funcionário público, que prepararam a viagem com muita antecedência. Peregrinam movidos pela fé e unidos na mesma causa – agradecer um problema de saúde vencido. Para poderem integrar a peregrinação, trabalharam “quatro meses antes em extras”, conta Liliana, realçando a importância da experiência “a dois” para o “aprofundar da relação em casal”.
Alzira Meneses vai pela primeira vez a pé a Fátima e para o poder fazer “juntou dinheiro nos últimos três meses em que trabalhou”. Agora está desempregada e, por esse motivo, leva no coração uma prece especial: “Que Nossa Senhora ajude a gente a encontrar emprego”.
Também Mariana Teixeira, a terminar o mestrado em desporto, é iniciante e integra o grupo de 42 pessoas que partiu da Régua.
Vai “cumprir um desejo de há muito” e Marta Pinto, de 28 anos, técnica de ambulância de emergência na corporação de bombeiros da Régua, vai para agradecer “a fé, as bênçãos da vida e a ausência de tragédias na corporação”.
A peregrinação em que estão inseridas é uma iniciativa da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários do Peso da Régua, que também tratou do alojamento e com a ajuda de benfeitores assegura as refeições e todo o apoio necessário aos peregrinos. Assim, “cada caminhante teve apenas que pagar cinco euros para um seguro de peregrino”, diz Isabel Magalhães, fazendo votos para que “não seja necessário”.
Primeiro de avião, depois a pé
Grande parte dos peregrinos que se dirige a Fátima tira férias nesta altura do ano, para poder realizar a peregrinação. É o caso de Maria Ludovina, de 60 anos, que veio expressamente da Suíça e integra o grupo de Vila Real.
“Vim de propósito só para ir a pé até Fátima”, assegura Maria Ludovina, a viver na Suíça há 42 anos.
Esta emigrante tira férias de “propósito” para ir a Fátima a pé. É assim há seis anos. A primeira vez fê-lo para cumprir uma promessa, depois passou a fazê-lo “por gosto” e em “gratidão” pela protecção de Nossa Senhora de Fátima. Gasta cerca de “mil e quinhentos francos suíços”, mas garante que, enquanto puder, vai continuar a “cumprir a tradição de peregrinar a pé até Fátima”.
Margarida Nunes, também emigrante na Suíça, vai a caminho de Fátima pela primeira vez. Na Suíça deixou o marido que “teve que tirar férias para ficar com os filhos”. Vai “fazer um sacrifício pela família e por todo o mundo e também para agradecer”, refere à Renascença.
Peregrinar a “cuidar dos outros”
Uns deslocam-se a pé e outros peregrinam como suporte do grupo.
Isabel Magalhães, enfermeira em Lamego, tirou 11 dias de férias, de propósito, para conduzir a ambulância dos Bombeiros da Régua que apoia os peregrinos e “cuidar dos outros”.
Além de ajudar na preparação das refeições e acompanhar de perto o grupo, Isabel presta “apoio emocional, relaxamento muscular anti-inflamatório e tratamento dos pés”.
A maior alegria da jovem enfermeira “é cuidar cada pessoa e tudo fazer para que todos cheguem bem a Fátima” e, em conjunto, agradecer esta experiência “de encontro com Deus e com os outros”.
De apoio ao grupo Além Rio, Vila Real, está José Alfredo. Segue na sua carrinha, onde transporta as bagagens, material de primeiros socorros e alguns bens alimentares, sempre com o grupo “debaixo de olho”.
“Eu preferia ir a pé, conforme já fui vários anos, mas neste momento não tenho condições e, por isso, ajudo como posso”, conta à Renascença.
A peregrinação internacional aniversária de 12 e 13 de Maio, será presidida por D. Fouad Twal, patriarca latino de Jerusalém, e terá como tema “Mãe do amor misericordioso”.