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Nos EUA, dizer "Apoio o casamento tradicional" pode valer despedimento

27 mar, 2014 • Filipe d’Avillez, no Michigan, Estados Unidos

É uma advogada norte-americana que o garante. Com a legalização do casamento homossexual em cada vez mais estados americanos, surgem vários focos de confronto entre a liberdade religiosa e discriminação por orientação sexual.

Nos EUA, dizer "Apoio o casamento tradicional" pode valer despedimento
Há uma crescente preocupação dos católicos norte-americanos com a liberdade de consciência e de expressão. Reportagem da Renascença no Michigan, nos Estados Unidos.

Uma advogada de sucesso, que trabalha numa multinacional, chega ao auditório de um centro paroquial universitário para falar sobre as ameaças à liberdade religiosa. Confrontada por um jornalista, aceita falar, mas apenas sob anonimato. Teme perder o emprego, como já aconteceu a conhecidos.

Estamos no Michigan, Estados Unidos, a pátria da liberdade religiosa, mas onde muitos crentes começam a sentir que essa conquista está a definhar.

“Sei de casos de pessoas que foram despedidas de empresas privadas simplesmente por dizer coisas do género 'Eu apoio o casamento tradicional'”, explica a advogada à Renascença.

Em causa está a redefinição do conceito tradicional de casamento, como sendo entre homem e mulher, para a aceitação da noção de casamento entre pessoas do mesmo sexo.

Com a legalização do casamento homossexual em cada vez mais estados americanos, surgiram vários focos de confronto entre a liberdade religiosa e discriminação por orientação sexual.

“Há o caso de um casal que tinha uma pastelaria que se recusou a fazer um bolo para um casamento homossexual. Foram processados, multados e acabaram por fechar a loja. Mais recentemente, tivemos um caso no Novo México de uma fotógrafa que se recusou a trabalhar numa cerimónia homossexual”, conta.

A advogada explica que a educação é outra área de preocupação: “Massachusetts foi o primeiro Estado a aprovar a redefinição de casamento. Nesse Estado estão a ensinar na escola que o estilo de vida homossexual é natural e bom. Os pais não se podem queixar, nem são notificados. Há uma preocupação que esse género de restrições chegue a outros estados que também aprovem o casamento homossexual”.

“Como viver a minha fé?”
Na sala paroquial estão dezenas de jovens atentos, orientados pelo jovem e enérgico padre Denis Heames. O sacerdote nota preocupação entre os alunos católicos da Central Michigan University (CMU), que acompanha.

“Penso que estamos a chegar a um ponto em que vamos perder a liberdade de ser contra isto na praça pública. Sinto que já nem é uma discussão”, refere.

“Por exemplo, pessoas que estudam ciências da educação” sentem algumas dificuldades com o currículo “no que diz respeito à diversidade ou literatura, que contém material mais claramente ideológico”, diz.
“Vejo alunos católicos que entram para estes cursos e que sentem dificuldades com isto. Como é que vou conseguir viver a minha fé neste ambiente laboral, com tanta pressão ideológica?”

A dificuldade é sentida na pele por Kelly, aluna da CMU que estuda educação.

“Preocupo-me com os meus filhos, não os quereria colocar no ensino público. E preocupo-me comigo porque quero ser professora e não me sentiria bem a ensinar algo deste género, porque atenta contra as minhas crenças e valores”, diz. “Não consigo separar a minha fé da minha vida profissional.”

Bobby, da mesma universidade, estuda comunicação social e dá conta da agressividade que tem de enfrentar quando se manifesta sobre assuntos como o casamento entre homossexuais.

“É um tema fracturante, basta falar no assunto e as pessoas levantam rapidamente as defesas. Mesmo no Facebook, quando a questão surgiu, as pessoas estavam só a atacar. Publiquei a minha opinião enquanto católico e fui atacadíssimo. Por isso, às vezes, é difícil e só nos apetece virar as costas ao assunto”, confessa.

Supremo vai decidir
Os casos envolvendo objecção de consciência à participação em cerimónias de casamento entre pessoas do mesmo sexo estão a caminho do Supremo Tribunal.

Antes, os juízes terão ainda de avaliar a questão do “ObamaCare”, o plano de Barack Obama para a reforma do sistema de saúde, que pretende obrigar instituições católicas, como universidades e hospitais, a fornecer aos seus empregados seguros de saúde que cubram contraceptivos e serviços abortivos.

Os bispos já disseram que se recusam a acatar a ordem e que preferem encerrar todos os seus serviços nestas áreas, mas a administração Obama não desarma, o que tem levado a Igreja a invocar também o argumento da liberdade religiosa.

Estes e outros assuntos serão, certamente, um dos pontos de discussão entre o Papa Francisco e Obama, que se encontram no Vaticano, esta quinta-feira.