Bispo crítico da Máfia escreve meditações da Via Sacra do Papa
25 mar, 2014 • Filipe d’Avillez
A sua audácia em enfrentar o crime organizado valeu-lhe o apoio dos fiéis em Locri que, aquando da sua transferência, protestaram veementemente.
O Papa Francisco escolheu o arcebispo Giancarlo Maria Bregantini para escrever as reflexões para a Via Sacra de Sexta-feira Santa deste ano.
O arcebispo de Campobasso-Boiano é conhecido por ter sido um feroz crítico do crime organizado. A escolha surge apenas dias depois de Francisco ter pedido, de joelhos,
a conversão dos mafiosos, alertando para o perigo da sua condenação eterna caso persistam nos seus crimes.
Durante o tempo em que esteve à frente da diocese de Locri-Gerace, na Calábria, chegou mesmo a decretar a excomunhão de membros da N’Drangheta, a máfia local, que tinham destruído estufas construídas com o apoio da Conferência Episcopal Italiana com o objectivo de dar oportunidades aos jovens para uma vida longe das malhas do crime organizado.
Já antes, quando chegou à diocese em 1994, o bispo tinha tomado a decisão de proibir os pais das crianças a escolher os seus padrinhos de baptismo. Estes deviam ser escolhidos pelo sacerdote, também para evitar a interferência da máfia.
As medidas e a sua audácia em enfrentar o crime organizado valeram-lhe o apoio dos fiéis que, aquando da sua transferência para Campobasso-Boiano, por Bento XVI, protestaram veementemente.
O arcebispo Bregantini pertence à ordem dos padres Estigmatianos, especializados na educação juvenil, na pregação e na formação do clero.
A Via Sacra é uma cerimónia que recria a Paixão de Jesus Cristo, a partir do seu sofrimento no Jardim das Oliveiras até à entrega às autoridades, tortura e crucificação. Pode celebrar-se a qualquer altura, mas é uma devoção muito popular na Quaresma e sobretudo na Sexta-feira Santa, quando a Igreja assinala a morte de Cristo.
Todos os anos o Papa assiste à Via Sacra que tem lugar no Coliseu de Roma, com meditações escritas por uma figura diferente.