As Nações Unidas exigem ao Vaticano que afaste imediatamente todos os membros do clero que sejam culpados ou suspeitos de abusos a crianças e os denuncie às autoridades civis.
Num relatório divulgado esta quarta-feira, a ONU pede também que o Vaticano abra os seus arquivos às autoridades civis para que possam ser responsabilizados todos os culpados por abusos infantis e quem os tenha encoberto.
O documento é da autoria do comité das Nações Unidas para a protecção dos direitos das crianças, que no mês passado ouviu responsáveis do Vaticano.
“O comité está profundamente preocupado pelo facto de a Santa Sé não ter reconhecido a extensão dos crimes cometidos, não ter tomado as medidas necessárias para lidar com os casos de abuso sexual de crianças, por ter adoptado medidas e práticas que levaram à continuação dos abusos e à impunidade dos abusadores”, lê-se no relatório citado pela agência Reuters.
Nas audições do mês passado, a delegação da Santa Sé negou as acusações de encobrimento e garantiu que foram tomadas medidas claras no sentido de proteger crianças e afastar abusadores, reconhecendo todavia que tinha havido falhas e que havia um esforço de melhorar a resposta.
O representante da Santa Sé que esteve perante o comité explicou ainda que o Vaticano não pode ser responsabilizado pela forma como os bispos locais tratam os assuntos nas suas dioceses, envolvendo os seus padres.
O relatório não se cinge à questão dos abusos de menores por membros da Igreja, fazendo recomendações relativas a outros temas. Por exemplo, no seu artigo 55º, o painel de peritos sugere que o Vaticano altere o Código de Direito Canónico, acabando com a pena de excomunhão automática para quem, conscientemente, participa na prática de um aborto. Noutro ponto, sugere que instituições católicas deviam oferecer serviços de planeamento familiar, incluindo contraceptivos.
A Santa Sé deve
reagiu ao relatório comprometendo-se a continuar a fazer esforços para proteger melhor as crianças, mas lamentando a ingerência da ONU em ensinamentos da Igreja em questões de vida e de liberdade religiosa.