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Bispos centro-africanos dizem que “verdadeira batalha é o desenvolvimento”

10 jan, 2014 • Filipe d’Avillez

Os prelados rejeitam que o conflito seja sobretudo inter-religioso. “Nem todos os seleka são muçulmanos e nem todos os anti-balaka são cristãos”.  

Bispos centro-africanos dizem que “verdadeira batalha é o desenvolvimento”
Os bispos da República Centro-Africana consideram que o povo escolheu a batalha errada, ao envolver-se numa guerra-civil fratricida e realçam que a “verdadeira batalha é o desenvolvimento”.

Numa nota pastoral publicada pela conferência episcopal por altura do Natal, que apenas agora foi divulgada pela fundação Ajuda à Igreja que Sofre, os bispos lamentam que o país esteja a “afundar-se numa cultura de violência e morte”.

“Optar pela violência e a autodestruição é escolher a batalha errada. A questão essencial é outra. A verdadeira batalha é a do desenvolvimento, o relançar da economia e a luta contra a pobreza e a impunidade”, pode ler-se.

Na mesma nota, os bispos rejeitam que a guerra seja de carácter inter-religioso. As duas milícias em confronto, os Seleka e os Anti-Balaka, têm sido descritas respectivamente como sendo islâmica e cristã. Mas os bispos dizem que essa é uma simplificação: “Reiteramos que os anti-balaka não são todos cristãos, nem os cristãos são todos anti-balaka. Acontece o mesmo com os seleka e os muçulmanos. Esta generalização, propagada pelos media nacionais e internacionais, leva as pessoas a atribuir um carácter sectário a uma crise que é, sobretudo, política e militar”.

Os bispos reservam palavras duras para a forma como alguns muçulmanos têm sido tratados: “A tentação da vingança é grande. Muçulmanos, acusados justa ou injustamente de serem cúmplices dos seleka, têm sido entregues às multidões e executados sem razão. Lembremo-nos que a vida é sagrada. Que a justiça seja feita de acordo com a lei”.

O documento reserva um espaço de agradecimento para as forças internacionais que procuram garantir a paz no país, sobretudo os que perderam soldados nessa missão, mas levantam questões quanto ao papel do contingente do Chade: “Alguns incidentes têm mostrado o papel equívoco do envolvimento de soldados do Chade nesta força internacional. Pedimos que estes incidentes sejam esclarecidos. Há mais de uma década que as relações políticas e militares entre a RCA e o Chade têm levado a população da República Centro-Africana a desconfiar do exército do Chade e a considera-lo uma ameaça”.

Por fim os bispos apelam a uma cultura de perdão, salvaguardando que o perdão não exclui a justiça.