Ensino superior português abre 100 vagas para sírios afectados pela guerra
29 nov, 2013 • Filipe d'Avillez
Iniciativa foi apresentada por Jorge Sampaio. Ex-Presidente da República pretende replicar modelo adoptado após a Segunda Guerra Mundial, quando Portugal recebeu 5.500 crianças austríacas.
Jorge Sampaio quer garantir que pelos menos mil sírios regressem às aulas. Impressionado pela guerra civil a que a Síria está sujeita há mais de dois anos, o ex-presidente da República pôs-se em campo e contactou universidades, garantindo 800 vagas para estudantes em instituições de vários países. Em Portugal existem 100 vagas.
A iniciativa foi apresentada por Jorge Sampaio na Universidade Católica de Lisboa, durante a conferência "Uma Esperança Sem Fronteiras", da qual a Renascença é uma das organizadoras. O ex-Presidente da República referiu que até à criação desta plataforma de apoio aos estudantes sírios, "não existia qualquer mecanismo multinacional que permitisse que estes jovens continuassem os seus estudos em tempo de guerra".
Se o foco da ajuda está neste momento no Médio Oriente, a inspiração vem do centro da Europa, mais precisamente da Áustria. "Entre 1947 e 1952, Portugal recebeu 5.500 crianças austríacas. Fugiam das sequelas da segunda guerra mundial, onde a Europa era destroços e cinzas. Portugal foi terra de acolhimento, paz e segurança para estas crianças", disse Jorge Sampaio.
Recordando a forma como estes refugiados austríacos ficaram impressionados com a generosidade e a solidariedade portuguesa, o ex-Presidente procurou replicar a ideia. "Hoje deveria ser ainda mais fácil accionar este tipo de acções, mas não é. Poucos estão dispostos a sair da sua zona de conforto, a partilhar os seus recursos e o seu tempo - há também muito receio do outro", afirmou. "Isto explicará por que motivo tão poucos refugiados sírios tenham sido recebidos em países da União Europeia."
Ainda assim, a resposta das instituições portuguesas foi positiva e já financiamento, também com o apoio do Governo, para que Portugal receba 60 sírios. "Mas é ainda pouco", afirma Jorge Sampaio, que revela que já foram recebidas 2.500 candidaturas, algumas com "currículos verdadeiramente impressionantes". "São pessoas estão numa terra de ninguém, que é terrível."
Jorge Sampaio foi um dos oradores do segundo painel da conferência "Uma Esperança Sem Fronteiras", organizada pela Renascença, pela Universidade Católica, pela Fundação Ajuda à Igreja que Sofre e pela Paulinas Editora. A iniciativa assinala também o fim do Ano da Fé.