29 nov, 2013 • Aura Miguel
Gonzalo, Alicia, Alfredo, José Luís, Ana e Juan Carlos são algumas das pessoas que o actual Papa salvou nos tempos da ditadura argentina. Estes nomes constam de “A Lista de Bergoglio”, um livro, agora traduzido em português, que surge após a investigação do jornalista italiano Nello Scavo.
Em entrevista à Renascença conta que após a eleição do Papa surgiram acusações. “Surpreendido, decidi investigar nessa mesma noite o conteúdo dessas suspeitas e o resultado foi uma primeira reportagem publicada pelo meu jornal, o ‘Avvenire’. Só que, ao fazer as investigações, disseram-me que havia pessoas salvas por Bergoglio. Inicialmente, parecia que eram só duas ou três histórias, mas cheguei ao fim de Agosto, após alguns meses de investigação, com uma lista de nomes muito mais longa. Por isso, não só descobri que Bergoglio não era cúmplice da ditadura, como, além disso, tinha sido um dos protagonistas para salvar dezenas e dezenas de pessoas”.
Ao falar com os sobreviventes, Nello Scavo percebeu que, na raiz desse silêncio está “uma grande dor”, provocada por uma “ferida aberta”, pois é um país com milhares de desaparecidos, ainda a contas com o seu passado.
“Ao princípio este silêncio fez-me desconfiar. Achei que Bergoglio pudesse ter alguns telhados de vidro, mas, na realidade, estas pessoas quiseram foi respeitar o silêncio que Bergoglio guardou durante todos estes anos. Por outro lado, algumas têm um certo sentimento de culpa por terem sobrevivido e interrogam-se porque estão vivos, enquanto o irmão, os amigos e tantos meus conhecidos estão ‘desaparecidos’”.
“Não creio que Bergoglio se considere, um herói daquela época, porque uma pessoa como ele, certamente, gostaria de ter salvo muitas mais vidas humanas”, considera.
O jornalista assinala que no livro há muitas histórias de pessoas não católicas, ou não crentes, “algumas nem sequer baptizadas, militantes de esquerda, em Itália ou na Argentina, mas que nunca pensaram em acusar Bergoglio”.
A obra tem o prefácio do Nobel da Paz, Adolfo Perez Esquivel, pacifista argentino e activista dos direitos humanos, preso e torturado durante o período da ditadura.
No seu texto Esquivel lembra que o silêncio de Bergoglio foi necessário para salvar vidas. “Aquele silêncio foi necessário, porque senão ele teria sido alvo da ditadura e não teria conseguido realizar esta acção clandestina.”
Esta sexta-feira em Lisboa, a Conferência de encerramento do Ano da Fé subordinada ao tema "Uma esperança sem fronteiras". É uma iniciativa Promovida pela Renascença, Universidade Católica, Fundação Ajuda à Igreja que Sofre, e Paulinas Editora. Entre os convidados estão Jorge Sampaio, o Arcebispo maronita de Damasco, Samir Nassar e também Nello Scavo, autor do livro “A Lista de Bergoglio”.