O Papa desafia a Igreja Católica, na sua primeira mensagem para o Dia Mundial das Missões, a sair das suas fronteiras para anunciar o Evangelho “com coragem” às “periferias” da humanidade, em tempo de crise.
“Toda a comunidade é ‘adulta’ quando professa a fé, a celebra com alegria na liturgia, vive a caridade e proclama a Palavra de Deus sem descanso, saindo do seu próprio ambiente para levá-la também às ‘periferias’, especialmente as que ainda não tiveram oportunidade de conhecer Cristo”, destaca Francisco, na mensagem divulgada hoje pelo Vaticano.
O Papa fala numa “época de crise” que afecta “a economia, as finanças, a segurança alimentar, o meio ambiente” bem como “o sentido profundo da vida e os valores fundamentais que a animam”.
“Nesta situação tão complexa, onde o horizonte do presente e do futuro parece estar coberta por nuvens ameaçadoras, torna-se ainda mais urgente levar com coragem a todas as realidades o Evangelho de Cristo”, observa ainda.
O Dia Mundial das Missões, que se repete pela 87ª ocasião e, este ano, se assinala a 20 de Outubro, é associado ao Ano da Fé, convocada pelo agora Papa Emérito Bento XVI, pelo que o texto de Francisco fala da necessidade de uma “resposta pessoal” ao chamamento de Deus.
A fé, sublinha, é um dom que “todo o mundo deveria poder experimentar” pelo que tem de ser “partilhado”.
“Se o quisermos guardar só para nós mesmos, tornamo-nos cristãos isolados, estéreis e doentes”, escreve o Papa argentino.
Para Francisco, o anúncio do Evangelho faz “parte do ser discípulos de Cristo” e é “ um compromisso constante que anima toda a vida da Igreja”.
“A força da nossa fé, a nível pessoal e comunitário, também se mede pela capacidade de a comunicar aos outros, de a difundir, de a viver na caridade, de dar testemunho às pessoas que encontramos e que partilham connosco o caminho da vida”, refere.
Na sua mensagem, o Papa alude aos 50 anos do início do Concílio Vaticano II, no qual a Igreja “recebeu uma consciência renovada da sua presença no mundo contemporâneo”.
“A missionariedade não é só uma questão de territórios geográficos, mas de povos, de culturas e indivíduos independentes, precisamente porque os ‘confins’ da fé atravessam não só lugares e tradições humanas mas também o coração de cada homem e cada mulher”, prossegue.
Francisco lamenta que este anúncio cristão seja entendido como “violentar a liberdade” dos outros, frisando que “a natureza missionário da Igreja não é proselitista, mas testemunho de vida que ilumina o caminho”.
“O homem do nosso tempo precisa de uma luz forte que ilumine o seu caminho e que só o encontro com Cristo lhe pode dar”, sustenta.
A mensagem contrapõe a “vida boa do Evangelho” à “violência, mentira, erro” e alerta para os que, tendo sido batizados na Igreja Católica, escolhem “estilos de vida que os afastam da fé, necessitados de uma nova evangelização”.
Segundo o Papa, “não se pode anunciar Cristo sem a Igreja”, que não é “uma organização assistencial, uma empresa, uma ONG”.
O documento deixa ainda referências aos cristãos que em várias partes do mundo sentem dificuldades para “professar abertamente a sua fé” e ver reconhecido o direito a “vivê-la com dignidade”.
O Papa apresenta estas pessoas como “testemunhas corajosas – ainda mais numerosas do que os mártires dos primeiros séculos” que têm de suportar as “várias formas atuais de perseguição”.