D. Manuel Clemente espera que debate na especialidade acabe com co-adopção
30 mai, 2013
Novo Patriarca de Lisboa critica deputados: “Quando faltam tantos a um debate desta importância dá ideia que não deram bem conta do que está em causa”.
Novo Patriarca de Lisboa critica ligeireza com que o parlamento votou, sem debate, a co-adopção por casais do mesmo sexo. D. Manuel Clemente lembra que os chamados "temas fracturantes" não são consensuais na sociedade portuguesa e critica, por isso, a forma como decorreu a votação, com a ausência de vários deputados, e sem debate prévio. Declarações à margem de um encontro organizado pela Comissão Europeia com líderes religiosos de várias confissões.
O Patriarca eleito de Lisboa, D. Manuel Clemente, criticou esta quinta-feira a classe política por ter aprovado a lei da co-adopção por homossexuais sem um debate prévio sério e manifestou a sua convicção de que o projecto pode, e deve, ser chumbado na discussão na especialidade.
À margem de uma visita a Bruxelas, D. Manuel Clemente disse que a forma como estas decisões são tomadas põe em causa a credibilidade política no país e ironizou com o facto de no dia da votação terem faltado mais de uma dezena de deputados à Assembleia da República.
“Tenho as maiores dúvidas de que, em relação a essa medida e outras chamadas fracturantes, as decisões políticas tenham sido suficientemente informadas por um esclarecimento quer dos deputados, porque quando faltam tantos a um debate desta importância dá ideia que não deram bem conta do que está em causa, quer da própria sociedade em si.”
Sobre a co-adopção e sobre o casamento entre homossexuais, D. Manuel Clemente considera que o Parlamento avançou sem o mínimo consenso social: “Nós em Portugal já estamos todos muito consonantes de que é dispensável a conjugação masculino-feminino no que diz respeito tanto ao casamento como à adopção. Eu não vejo que haja consenso neste ponto, isto não é um ponto acessório.”
“Como sociedade temos de nos entender, temos de aprofundar as temáticas, para depois então a nível político tomarmos decisões. Se não elas ficam no papel, a sociedade reage, às vezes mais passivamente que activamente, mas o problema é a credibilidade política”, concluiu.
O bispo português, que é actualmente vice-presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, reconhece que depois da votação surgiu o debate que se esperava, mas já vem tarde, e espera que com a discussão na especialidade se possa recuar na decisão. “Pode-se recuar e deve-se. Muitas pessoas pronunciam-se, estamos atentos a coisas que aparecem nos meios de comunicação social, pessoas que tomam posição, quer do âmbito político, quer do âmbito, cultural, médico e clínico. Esses debates devem ser antes.”
“A determinação política para organizar a vida de uma sociedade a esse nível deve ser antecedida por um debate aprofundado. Em Portugal temos tomado várias medidas nesses campos, ditos fracturantes, que vão depressa de mais em relação a coisas que dizem respeito à vida das pessoas e o que têm de essencial”, conclui D. Manuel Clemente.
[Notícia actualizada às 13h37]