Papa deseja que sofrimento de cristãos egípcios seja instrumento de unidade
10 mai, 2013 • Filipe d’Avillez
O líder da Igreja Copta Ortodoxa foi recebido esta manhã pelo Papa Francisco, tendo rezado os dois junto ao túmulo de São Pedro.
A perseguição e o sofrimento a que estão sujeitos os cristãos egípcios pode ser entendida como um “ecumenismo do sofrimento” e ser uma ponte para reforçar a unidade entre as igrejas cristãs separadas, disse hoje o Papa.
O Papa Francisco recebeu esta manhã em audiência o líder da Igreja Copta Ortodoxa, Tawadros II, que está de visita a Roma na sua primeira deslocação para fora do Egipto desde que foi eleito, em Novembro de 2012.
Recordando a visita histórica do anterior papa dos coptas, Shenouda III, a Paulo VI, em 1973, o Papa Francisco falou dos grandes avanços ecuménicos que tiveram lugar desde essa altura entre as duas igrejas, separadas desde o ano 451.
Sobre a perseguição de que se queixam habitualmente os cerca de 10 milhões de cristãos coptas, como são conhecidos os cristãos do Egipto, Francisco falou num ecumenismo do sofrimento: “Podemos dizer que existe um ecumenismo do sofrimento, tal como o sangue dos mártires foi semente e fertilidade para a Igreja, assim também a partilha diária dos sofrimentos se pode tornar um instrumento efectivo de unidade”.
A esmagadora maioria dos coptas pertence à Igreja Ortodoxa, chefiada por Tawadros II, que é a maior comunidade cristã de todo o Médio Oriente. A Igreja Copta pertence a uma comunhão de igrejas ortodoxas que inclui a Igreja da Arménia, a Igreja Etíope, a Igreja Siríaca e a Igreja Malankara Ortodoxa, na Índia.
Existe também uma minoria de coptas que está em comunhão com a Igreja Católica. Ao contrário do que se passa em muitos outros países de maioria ortodoxa, as relações entre as duas igrejas coptas são muito boas, algo que o Papa Francisco não deixou passar despercebido: “Sua Santidade, estou a par dos muitos sinais de atenção e de fraternidade caridosa que demonstrou, desde os primeiros dias do seu ministério, para com a Igreja Copta Católica.”
“Asseguro-lhe que os seus esforços para estabelecer comunhão entre os cristãos, e o seu vivo interesse no futuro do seu país e o papel das comunidades cristãs na sociedade egípcia, ressoam profundamente no coração do sucessor de Pedro e de toda a comunidade católica”.
O Papa Francisco mostrou-se ainda confiante na continuação dos avanços ecuménicos e esperançoso em poder um dia alcançar a verdadeira união: “Une-nos um só baptismo, do qual a nossa oração conjunta é uma expressão especial, e desejamos o dia em que, em cumprimento do desejo do Senhor, possamos comungar de um só cálice”.
A separação entre as duas Igrejas surgiu depois do Concílio de Calcedónia, devido a desentendimentos sobre a natureza divina e humana de Jesus Cristo. A declaração conjunta assinada há 40 anos por Paulo VI e Shenouda reconhecia que esses desentendimentos eram mais semânticos que teológicos e fazia uma definição da natureza de Cristo aceite por católicos e por coptas.
O Papa Tawadros II continua em Roma durante o fim-de-semana e tem agendados encontros com o Conselho Pontifício para a Promoção da Unidade dos Cristãos e com a comunidade copta radicada nessa cidade.