30 out, 2012
O socialista João Galamba pediu ao ministro das Finanças para o Governo defender o país perante a "troika", porque Portugal não precisa de um "Governo honradinho", nem tem mais "disponibilidade para discursos salazarentos". Foi o início de uma troca de palavras tensas no Parlamento entre o deputado e Vítor Gaspar no debate sobre o Orçamento do Estado. O ministro chegou a dizer que a utilização da palavra 'salazarento' pareceu-lhe "insultuosa".
Primeiro, foi João Galamba a falar. "Estamos neste momento em insustentabilidade e o que precisamos, senhor ministro, não é de um Governo honradinho, porque este país não tem mais disponibilidade para discursos salazarentos. O que nós precisamos, senhor ministro das Finanças, é de um Governo que diga a verdade e que defenda o país perante a 'troika' e que diga de uma vez por todas, em nome de Portugal, em nome dos portugueses, que esta estratégia não resulta", afirmou João Galamba.
Na resposta, o ministro de Estado e das Finanças disse que ficou "chocado com a linguagem utilizada". "A minha geração conheceu, ao contrário da de João Galamba, o regime de Salazar. Para a minha geração, a transição para a democracia foi uma das transições mais marcadas da minha vida como cidadão. Desvalorizar essa transição parece-me totalmente inaceitável e a utilização da expressão 'salazarento' parece-me insultuosa."
O deputado do PS acusou ainda o ministro das Finanças de ter falhado nos três pilares do programa de ajustamento: contas públicas, transformação estrutural e estabilidade no sector financeiro.
"A sua façanha em 2012 no ajustamento só tem paralelo numa economia de guerra com racionamento em 1943. Não é, não pode ser um sucesso", prosseguiu João Galamba. "O seu orçamento de 2012 não resultou e o de 2013 não pode resultar. Qual destas dez palavras é que não entende?", concluiu o deputado socialista.
Por sua vez, o comunista Honório Novo disse que a intervenção do ministro das Finanças "foi um manifesto contra a Constituição e contra o 25 de Abril, um manifesto que chega a ter o descaramento de falar em transição democrática em 1976".
Vítor Gaspar explicou depois a sua ideia de caracterizar 1976 como o ano da transição democrática, alegando que foi nesse ano que se procedeu à aprovação da Constituição da República "com o voto favorável do PCP, PSD e PS, que efectivamente marca o começo do regime democrático".
"No período anterior a esta data, Portugal sofreu um período de indefinição e de tentação totalitária, que foi rejeitado pelo povo português", declarou o ministro, recebendo palmas das bancadas do PSD e do CDS.