Turquia considera “irrealista” deixar entrar voluntários e armas em Kobani
12 out, 2014 • Filipe d’Avillez
Na Síria, como no Iraque, as estratégias para tentar travar o avanço do Estado Islâmico não estão a ter os resultados pretendidos.
A Turquia continua firme no seu propósito de não intervir nem deixar intervir na batalha por Kobani, na sua fronteira com a Síria.
A cidade curda está sitiada pelo Estado Islâmico há semanas, defendida por um contingente de milicianos curdos da YPG, as Unidades de Protecção Populares que, apesar de em menor número e com menos armamento, têm resistido ferozmente aos avanços dos islamitas.
A YPG está ligada ao PKK, o Partido dos Trabalhadores Curdos, que luta há décadas contra o Governo turco pela independência do Curdistão, o que pode ajudar a compreender a hesitação dos turcos em permitir de alguma forma o auxílio aos defensores de Kobani.
Mas a situação está a chocar grande parte do mundo e a enfurecer as comunidades curdas tanto na Turquia como na diáspora. As imagens de carros de combate e blindados turcos junto à fronteira, sem nada fazer, enquanto milhares de pessoas correm o risco de serem chacinadas, segundo a ONU, tornam a atitude turca incompreensível para muitos. A Turquia tem, recorde-se, as segundas maiores forças armadas da OTAN, a seguir aos Estados Unidos.
Não só os manifestantes e líderes curdos exigem a acção da Turquia, ou pelo menos a abertura de um corredor que permita introduzir armas e voluntários na cidade para ajudar a defendê-la, como o representante da ONU na Síria já fez o mesmo apelo.
Mas o ministro dos Negócios Estrangeiros da Turquia, Mevlut Cavusoglu, considera que essa é uma opção irrealista. “A Turquia não pode dar armas aos civis e pedir-lhes para voltarem para combater contra grupos terroristas. Esta ideia de um corredor é irrealista. Quem fornece as armas? Para começar, enviar civis para uma guerra é um crime”, afirmou ao canal “France24”.
A Turquia tem insistido na necessidade de derrubar o regime de Bashar al-Assad como prioridade, ao contrário dos EUA que, também apostados em derrubar Assad, consideram que a primeira prioridade é combater o Estado Islâmico, que apresenta uma ameaça mais imediata.
“Matar os mosquitos um por um não é a estratégia certa. Temos de erradicar a causa desta situação, que é obviamente o regime de Assad, na Síria”, afirma Cavusoglu.
Enquanto o maior exército da região observa, o Estado Islâmico vai avançando em Kobani, mas não só. No Iraque os islamitas também têm consolidado terreno, nomeadamente na província de Anbar, que já controlam quase por inteiro, encontrando-se actualmente a pouco mais de 10 quilómetros de Bagdad.
O dia de sábado foi marcado por vários ataques. Um dispositivo deixado à beira da estrada atingiu o carro do chefe da polícia de Anbar, matando-o e, no nordeste do país, um atentado suicida deixou pelo menos 28 curdos mortos e quase uma centena de pessoas feridas.