O director do Instituto de Estudos Árabes e Islâmicos da Universidade de Lisboa considera que ainda não está provada a culpa do regime sírio num ataque com armas químicas nos arredores de Damasco. Dias Farinha diz que, por isso, a intervenção militar "sem provas irrefutáveis" é repetir o "filme" da invasão do Iraque, em 2003.
O especialista recorda que, no caso do Iraque, os Estados Unidos "afirmaram ter provas" de que o então presidente iraquiano, Saddam Hussein, teria armas de destruição maciça, mas veio a verificar-se que não existiam.
Por isso, o director do Instituto de Estudos Árabes e Islâmicos alerta que entrar na Síria sem provas irrefutáveis "da responsabilidade do Governo sírio parece ser uma aventura com o desfecho imprevisível" e existe a possibilidade de se repetir o "filme" da invasão do Iraque.
Além disso, acrescenta Dias Farinha, se houver uma intervenção estrangeira no país significa que toda a região será, de uma forma ou de outra, afectada.
"Israel está muito interessado na fraqueza de uma potência como é, apesar de tudo, a Síria. Também a Turquia recorda-se sempre do seu antigo império otomano. A Arábia Saudita não vê com bons olhos o poder xiita, sendo uma potência sunita. Quer dizer que é uma situação regional extremamente difícil."
Hipótese de intervenção ganha força
Nos últimos dias tem ganho força a possibilidade de uma intervenção militar na Síria. Os Estados Unidos, Reino Unido e França já mostraram disponibilidade para abordar essa opção.
Na terça-feira, o vice-presidente norte-americano culpou o regime do presidente Bashar al-Assad pelo ataque com armas químicas da semana passada, dia 21 Agosto. Joe Biden afirmou ainda que quem utiliza "armas químicas contra homens, mulheres e crianças indefensos deve ser responsabilizado".
As declarações do vice-presidente norte-americano foram proferidas horas depois de o secretário da Defesa norte-americano ter afirmado que os militares dos Estados Unidos estão prontos a actuar se o presidente Obama ordenar um ataque contra a Síria. Chuck Hagel lembra que os Estados Unidos já movimentaram para a região pessoal e material para levar a cabo uma missão, que deve ser "cirúrgica e de curta duração".
Em resposta, o ministro sírio dos Negócios Estrangeiros, Walid Mouallem, garante que, em caso de ataque militar ocidental, o país se vai defender com meios de defesa que vão surpreender o mundo.